28 Mai 2018
Iván Duque, o candidato do partido Centro Democrático, do ex-presidente Álvaro Uribe, venceu o primeiro turno das eleições na Colômbia com 39% dos votos válidos. Ele irá disputar o segundo turno em 17 de junho contra Gustavo Petro, representante de esquerda e ex-prefeito de Bogotá, escolhido por 25% dos eleitores. Por apenas 300.000 votos ele derrotou Sergio Fajardo, líder da Coalizão Colômbia, que representa o centro político no país. O ex-prefeito de Medellín poderia ter tido outro destino no pleito caso tivesse firmado aliança com Humberto de la Calle, candidato do partido Liberal, como foi ventilado no início da campanha. Germán Vargas Lleras, candidato do Cambio Radical e ex-vice-presidente de Juan Manuel Santos, teve 7% dos votos.
A reportagem é de Francesco Manetto, publicada por El País, 27-05-2018.
Esta foi uma eleição presidencial especial para a Colômbia: o país pôs fim em 2016 à guerra com as FARC, que fundaram um partido político, mas não participam do pleito porque praticamente não têm nenhum apoio da população. No entanto, as autoridades ainda não resolveram o problema da violência e o esquecimento a que estão condenados alguns territórios. A transição acaba de começar e ainda restam muitos obstáculos: a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) negocia com o Governo em Havana, os bandos de criminosos prosperam nas fronteiras com a Venezuela e o Equador, e os acordos com o grupo insurgente mais antigo da América passam talvez por seu momento mais delicado. Os colombianos elegem o presidente em um clima de transparência, segundo os observadores e, pela primeira vez em mais de meio século, sem a ameaça das FARC. Mas essa paz precisa consolidar-se, em sentido amplo, para garantir a segurança e a estabilidade econômica. E é isso que está por trás, com abordagens às vezes opostas, dos programas dos cinco principais candidatos à Casa de Nariño.
Iván Duque, candidato uribista, liderou por meses todas as pesquisas. Ex-senador e antigo conselheiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Washington, afirma que não tem intenção de destroçar os acordos, como exigem os setores mais radicais de sua coalizão, apoiada pelos ex-presidentes Álvaro Uribe e Andrés Pastrana, embora pretenda fazer modificações importantes. Sua coalizão tem posições conservadoras, seu discurso foca na recuperação. A Colômbia tem perspectivas macroeconômicas favoráveis – ingressou na sexta-feira na OCDE, acaba de obter uma linha de crédito de mais de 11,4 bilhões de dólares (42 bilhões de reais) do FMI sem condições –, mas a desigualdade continua marcando a rotina de milhões de cidadãos. “Assumo o desafio de recuperar a economia colombiana, eliminar o desperdício, a corrupção e a evasão. Vamos baixar impostos e elevar os salários dos trabalhadores” , prometeu durante o encerramento da campanha.
Seu rival no segundo turno, Gustavo Petro, foi guerrilheiro do M-19, um movimento desmobilizado em 1990. Este candidato escalou posições com base em um discurso anti-establishment aplaudido especialmente pelos jovens e as classes populares. Durante toda a campanha recebeu críticas por suas formas populistas e sua antiga amizade com Hugo Chávez. O fantasma da Venezuela e sua repercussão na Colômbia, onde nos últimos meses entraram centenas de milhares de cidadãos que fogem do regime de Nicolás Maduro, foi um dos eixos da polarização ideológica desta corrida presidencial.
Sergio Fajardo, ex-prefeito de Medellín, e Humberto de la Calle, negociador dos acordos com as FARC, de centro e centro-esquerda, respectivamente, dedicaram suas campanhas à reconciliação, uma ideia central que envolve a aspiração de deixar para trás o passado e dar início a uma nova etapa.
Germán Vargas Lleras, ex-vice-presidente de Santos e político de centro-direita, representa nestas eleições os interesses das classes dirigentes e não teve até agora especial projeção. Conta, porém, com uma ampla base de apoio territorial, a chamada máquina, difícil de avaliar nas pesquisas, de modo que poderá se tornar uma das surpresas do dia da eleição.
Uma parte da população, que continua muito dividida sobre s acordos de paz, se preocupa com o confronto ideológico encarnado sobretudo por Duque e Petro. No entanto, segundo a maioria dos especialistas, a estabilidade do país não dependerá em última instância destas eleições. A agência de classificação de risco Fitch, por exemplo, não demonstra preocupação e não prevê mudanças nas políticas macroeconômicas, independentemente de quem for o vencedor.
Mas a Colômbia joga em boa medida nestas eleições seu projeto de país. “Temos opções que são muito drásticas e as pessoas estão muito inquietas, mas as mudanças importantes não vão ocorrer porque temos um Congresso que está dividido”, diz o analista Sergio Gusmán, da consultoria britânica Control Risks, que considera que, qualquer que seja o candidato vencedor, terá muita dificuldade para legislar. Por trás de suas decisões estarão os debates sobre o modelo energético, a segurança, o papel da Colômbia nas alianças internacionais. Em definitivo, o futuro.
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Candidato da esquerda e de Uribe disputarão segundo turno na Colômbia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU