08 Janeiro 2018
O ano eleitoral será agitado não só no Brasil, mas em outros países da América Latina, onde cidadãos de ao menos seis países irão às urnas para escolher seu próximo presidente.
A reportagem é publicada por BBC Brasil, 06-01-2018.
A primeira votação será em fevereiro, na Costa Rica, e a última pode se dar apenas em dezembro, na Venezuela. Nesse meio tempo, Paraguai, Colômbia, México e, é claro, Brasil também escolherão um novo mandatário em votações que podem redesenhar radicalmente o mapa político latino-americano.
Ainda haverá votações para renovar o Legislativo e governos locais em El Salvador, em março, e no Peru, em outubro, enquanto Cuba determinará em abril quem sucederá o presidente Raúl Castro, mas em um processo indireto e diferente do restante dos países da região.
O calendário pode ainda ter algumas surpresas se prosperar em Honduras o pedido da oposição de anulação da votação que elegeu Juan Orlando Hernández presidente em novembro. Ou se a crise política peruana levar à destituição do presidente Pedro Pablo Kuczynski, que sobreviveu em dezembro a um julgamento de impeachment sob acusações de corrupção.
Mas, levando em conta só as eleições já confirmadas, quem são os principais nomes na disputa? Quais ideias defendem? E quais fatores podem definir seu resultado?
As eleições presidenciais e legislativas na Costa Rica abrem a temporada em 4 de fevereiro. Será a 17ª convocada no país da América Central desde a fundação de sua Segunda República, em 1949. Há 13 candidatos na disputa. No momento, os favoritos são Antonio Álvarez Desanti, do Liberação Nacional, Juan Diego Castro, do Integracão Nacional e Rodolfo Piza, do Unidade Social Cristã. O nome do governo, Carlos Alvarado, da legenda de centro-esquerda Ação Cidadã, está em quarto nas pesquisas, o que aponta para um retorno ao poder da centro-direita.
O alto índice de indecisos praticamente garante um segundo turno, que, caso confirmado, se dará no primeiro domingo de abril. Segundo o Centro de Pesquisa e Estudos Políticos (CIEP, na sigla em espanhol) e o jornal Universidad, 40% daqueles que estão decididos a votar ainda não têm um candidato. A mesma sondagem aponta um índice similar de eleitores que dizem que não irão às urnas ou que ainda pensam sobre isso - o voto é obrigatório no país, mas a taxa de abstenção ultrapassou 43% nas últimas eleições presidenciais, em 2014.
Tudo isso é um claro reflexo do descontentamento dos cidadãos com os partidos políticos atuais em um país que identifica a corrupção como o principal problema nacional.
As eleições gerais no Paraguai, previstas para 22 de abril, serão a sétima desde a redemocratização, em 1989. Além de um novo presidente e seu vice, os cidadãos escolherão governadores, senadores e deputados, tanto no parlamento local como no do Mercosul. A disputa se dá entre o Partido Colorado, de direita, que tem governado o país por boa parte dos últimos 70 anos, e a a Grande Aliança Nacional Renovada, aliança de centro-esquerda entre o Partido Liberal e o Movimento Guasú, do ex-presidente Fernando Lugo.
O candidato do Colorado será o senador Mario Abdo Benítez, filho do ex-secretário particular do ex-ditador Alfredo Stroessner, que governou o país por 35 anos. Ele derrotou nas primárias Santiago Peña, o favorito do presidente Horacio Cartés.
Enquanto a Grande Aliança Nacional Renovada tem como representante o liberal Efraín Alegre, o movimento de Lugo colocou como candidato a vice-presidente o jornalista Leonardo Rubín. Por enquanto, o candidato do governo, conhecido popularmente como "Marito" e vinculado a ala mais conservadora de seu partido, é o favorito. Mas tanto ele quanto seu principal rival estão prometendo mudanças em relação ao governo atual, inclusive com duras críticas de Benítez ao presidente Cartés.
Após as eleições legislativas em março, a disputa pela Presidência prevista para 27 de maio dominará todas as atenções no país.
Tudo aponta até agora para um segundo turno, em junho, sem ainda haver um claro favorito em uma votação que será decisiva para os acordos de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc. E a participação do ex-grupo guerrilheiro, sob a mesma sigla, mas agora com o nome de Força Alternativa Revolucionária do Comum, certamente torna essas eleições especiais. Mas a possibilidade de seu líder, Rodrigo Londoño, conhecido como Timoleón Jiménez ou Timochenko, estar entre os favoritos é baixa.
A posição dos candidatos em relação aos acordos de paz é até agora o que melhor define os seis que têm mais chances, segundo uma pesquisa da revista Semana. De um lado, estão os críticos ferrenhos do processo, o uribista Iván Duque e a conservadora Marta Lucía Ramírez, com o ex-vice-presidente Germán Vargas em uma situação mais ambígua. Do lado dos mais favoráveis, há o principal negociador dos acordos, Humberto de la Calle, o ex-prefeito de Bogotá Gustavo Petro e o ex-governador de Antioquía, Sergio Fajardo, que lidera as pesquisas.
Mas ainda há um longo caminho a percorrer, e possíveis alianças entre esses candidatos e outras figuras na disputa, como o ultraconservador Alejandro Ordóñez, podem mudar esse panorama, em que temas como economia e corrupção devem ganhar importância.
Também não há um claro favorito para as eleições mexicanas de 1º de julho, ainda que o esquerdista Andrés Manuel López Obrador lidere quase todas as sondagens.
Ele já esteve próximo de ser presidente em duas ocasiões: em 2006, foi derrotado por Felipe Calderón com uma diferença de 0,56% dos votos, e, em 2012, perdeu para o atual presidente, Enrique Peña Nieto. Mas, desta vez, Obrador, ex-chefe de governo da Cidade do México, já não conta com o apoio do Partido da Revolução Democrática. Ele é agora candidato de uma coalização liderada por seu Movimento de Regeneração Nacional, o Morena.
Seu principal rival pode não vir a ser o nome do governo, José Antonio Meade, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), mas Ricardo Anaya, candidato da Frente pelo México, uma insólita coalizão entre o conservador PAN e o esquerdista PRD.
Apresentado como alguém de fora da política por não se militante do PRI, Meade tem contra si a baixa popularidade do governo de Peña Nieto, do qual foi secretário de Fazenda, Desenvolvimento Social e Relações Exteriores.
A seu favor, estão os recursos e a máquina do seu partido, que, de uma forma ou de outra, ganhou quase todas as eleições presidenciais no México desde 1929, com exceção das vitórias de Vicente Fox (2000) e Felipe Calderón (2006). A esperança de Anaya é capitalizar o anseio por mudanças que parece vir de um setor importante do eleitorado. Ele ainda tem a seu favor o apoio dos empresários que temem a vitória de Obrador, retratado por seus críticos como um "Hugo Chávez mexicano" em potencial.
O primeiro turno brasileiro será em 7 de outubro e a provável segunda etapa, no dia 28 do mesmo mês, mas a primeira grande decisão desta eleição pode ser dar em 24 de janeiro - e ela não caberá aos eleitores, mas à Justiça.
O julgamento em 2ª instância do recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pode confirmar sua condenação por corrupção, indicará se o líder das pesquisas até o momento poderá ou não disputar - embora recursos possam ser apresentados posteriormente - no que parece ser a intenção de seus advogados.
E uma eleição com Lula como candidato seria radicalmente diferente de uma sem ele.
Uma volta do PT ao poder depois de tantas acusações de corrupção contra seus principais nomes parece impensável, mas não se o popular ex-governante for seu representante - e isso ainda pode facilitar a criação de coalizões de direita em um panorama até agora marcado pela fragmentação.
Nesta ponta do espectro político, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) aparece em segundo lugar nas intenções de voto e em primeiro no caso da ausência do petista. O governador paulista, Geraldo Alckmin, se posiciona para ser o candidato do PSDB. O descontentamento dos brasileiros com políticos de todas as tendências parece ter aberto caminho para o surgimento de novos nomes, como o do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e o apresentador Luciano Huck. Mas, em ambos os casos, após grande especulação eles disseram que não disputarão.
Acusações de corrupção afetam não só o PT, como também a maioria dos partidos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff, assim como da base do presidente Michel Temer.
É a grande incógnita. O presidente Nicolás Maduro garantiu que haverá eleições presidenciais em 2018, "como manda a Constituição", mas a data ainda não foi anunciada e não há garantia de que o Conselho Nacional Eleitoral esperará até o mês de dezembro, como dita a tradição.
Por várias razões, o calendário eleitoral venezuelano passou por diversas mudanças nos últimos anos, como ocorreu com a eleição do próprio Maduro, em abril de 2013, enquanto o país ainda processava a morte de Hugo Chávez e as eleições buscavam dar mais legitimidade ao homem que o ex-presidente havia escolhido como seu sucessor.
A oposição passa por um momento ruim e está dividida, o que pode fazer com que Maduro adiante as eleições novamente para tirar proveito dessa oportunidade. Mas as dúvidas não se limitam a datas. A polêmica Assembleia Nacional Constituinte determinou que partidos que não tiverem participado das recentes eleições municipais não poderão disputar a Presidência. E, no momento, várias decisões juidiciais impedem a cadidatura de importantes nomes da oposição.
Enquanto Maduro também começa a ver emergir potenciais oponentes dentro do próprio chavismo, como Rafael Ramírez, ex-presidente da estatal de petróleo PDVSA, ainda há dúvidas quanto à imparcialidade e à confiabilidade das autoridades eleitorais, um motivo destacado pela União Europeia em novembro passado ao anunciar sanções à Venezuela.
Parece pouco provável que a oposição, que se dedicou por muito tempo a forçar um referendo para revogar o mandato de Maduro, vá abrir mão da chance de medir forças com o presidente, apesar da situação difícil em que se encontra.
Depois de anos de protestos nas ruas e uma brutal crise econômica, tudo indica que os venezuelanos finalmente terão a oportunidade de decidir se prosseguem com a Revolução Bolivariana ou se viram a página, quase 20 anos depois
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As 6 eleições presidenciais que podem mudar radicalmente o mapa político da América Latina em 2018 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU