18 Novembro 2017
Os gigantescos outdoors dominam o panorama da rodovia que leva ao aeroporto e as ruas das grandes cidades, encobrindo os centros comerciais: a cabeça de um Buda marcada por uma grande cruz vermelha para indicar a proibição de exportar esculturas sagradas, mas também a severa proibição de não usar imagens do Buda. Nada de música Buddha Bar, nada de Buddha Chic ou de Buddha Fashion: é tudo blasfemo na Tailândia, que redescobre um fundamentalismo budista que está se espalhando também ao Sri Lanka e à Birmânia, isto é, as três nações do budismo Theravada no Sudeste Asiático.
A reportagem é de Carlo Pizzati, publicada por La Stampa, 16-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O velho rei foi sepultado há poucos dias em Bangkok, e a imagem do seu filho já cobre outros cartazes na metrópole mais cosmopolita da Ásia contemporânea. Boas notícias para a junta militar, já que o novo rei está deixando a mão livre para os golpistas. Mas, enquanto em 2007, os monges budistas protestavam pacificamente contra o governo, agora a nova geração de monges usa palavras e fatos muito mais beligerantes. Contra o Islã.
Incitar a violência é um dos quatro atos proibidos que causam a excomunhão da ordem dos monges budistas, por isso se fala apenas de atos de violência para se defender, nunca para atacar. Defender-se de quem? De uma exígua minoria islâmica que é percebida como envolvida em uma guerra demográfica para ocupar o país.
Mas também se fala de uma possível ameaça externa. Na fronteira sul da Tailândia, as escaramuças com os inimigos islâmicos aumentam. E os soldados escoltam os monges até os templos, o que não agrada os cidadãos muçulmanos, porque veem os militares como o braço armado de um budismo cada vez menos pacifista. Tanto que um monge foi realmente excomungado por este edito: “Para cada budista morto, queimaremos uma mesquita”.
No entanto, nesses países, os budistas são uma maioria esmagadora: 93% na Tailândia, 88% na Birmânia e 70% no Sri Lanka. No entanto, muitos monges se sentem em estado de sítio. E incitam a reagir.
Para justificar isso, os teólogos revivem os textos sagrados. A propósito das guerras em defesa do Buda travadas pelo seu benfeitor, o rei Pasenadi, o fundador dessa religião proclamou que, “matando, tu vences o teu assassino, conquistando, levas a melhor sobre quem te conquistará”. Violência chama violência.
Para os budistas militantes do Sudeste Asiático, isso significa que o Buda tinha entendido que a violência não é necessariamente um valor negativo em absoluto. É equivocado o uso agressivo da força, mas existe o direito de autodefesa. Assim, conter a expansão das comunidades islâmicas é interpretado como um modo para proteger o budismo. Mesmo às custas de incitar o genocídio.
De acordo com a Grande Crônica dos cingaleses budistas do Sri Lanka, depois de uma batalha contra os Tamil hindus, o rei Dutugamunu, provocado pelo remorso pelo massacre causado, pediu conselhos aos monges idosos que lhe responderam que, na realidade, ele havia matado apenas uma pessoa e meia: um budista e um leigo recentemente convertido. E o resto dos hindus? “Não crentes, homens de vida perversa, que devem ser considerados como feras”. Esses são os argumentos usados também pelo monge cingalês de 37 anos Galagoda Atte Ganasara, fundador do Bodu Bala Sena (BSS), a Força do Poder Budista, agora ativa em todo o Sudeste Asiático budista.
E assim também é explicado o contexto do massacre dos rohingya no norte da Birmânia. Em Yangon também existe um líder carismático budista que já ganhou a capa da Time, incitando a essa suposta forma de “autodefesa ativa”.
O “Bin Laden birmanês”, como foi rebatizado o monge que pede para ser chamado apenas de Wirathu, é muito claro. “Não é hora de ter calma. É hora de reagir, é hora de fazer o sangue ferver.” Ele se define como um cão de guarda: “Eu não mordo, mas lato para despertar os donos da casa e fazer com que eles se defendam. Os muçulmanos se reproduzem rapidamente, roubam as nossas mulheres, estupraram-nas. Gostariam de ocupar o nosso país. Mas eu não vou permitir isso. A Birmânia deve continuar sendo budista”.
E esta é a linha de defesa do clero budista em Rakhine, região fronteiriça com Bangladesh, onde o êxodo da minoria muçulmana continua e onde preveem-se outras dezenas de milhares de chegadas nos campos de refugiados nos próximos dias: não causar feridos e mortos diretamente, como monges, mas incitar as milícias paramilitares budistas a fazerem justiça com as próprias mãos e a expulsar as “ameaças internas” da Birmânia budista.
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A cruzada dos monges budistas na Ásia contra os muçulmanos: ''São uma ameaça'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU