13 Setembro 2017
Num momento em que rapidamente se intensifica a crise de refugiados da etnia muçulmana dos rohingya que fogem para Bangladesh, autoridades eclesiásticas informam que esta situação fará parte dos principais pontos na agenda do Papa Francisco durante as visitas que fará a Myanmar e Bangladesh no fim deste ano.
A reportagem é de Rock Ronald Rozario e John Zaw, publicada por UCA News, 12-09-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Alguns bispos acreditam que o tema da crise local não irá se sobrepor à viagem, apesar da forte relação feita pela imprensa mundial entre a visita a estes países com a crise do grupo minoritário muçulmano de aproximadamente 1.3 milhão de membros, cuja metade aproximadamente já deixou o país natal de Myanmar se refugiar na vizinha Bangladesh. Relatórios recentes informam que, em apenas 12 dias, 123 mil pessoas fugiram do país.
Líderes católicos conversaram com o sítio eletrônico UCAnews.com sobre a próxima viagem do papa num momento em que a líder de Myanmar, Aung San Suu Kyi, escolheu ignorar os rohingya e focar na violência terrorista.
Suu Kyi negou o que dizem vários relatórios feitos por organizações humanitárias de que os militares de Myanmar destruíram vilarejos e estavam matando membros do grupo étnico. Ela negou que o que estava ocorrendo era uma campanha de limpeza étnica, no entanto.
“Acho que limpeza étnica é um termo muito forte”, disse Suu Kyi à BBC.
Vários ganhadores do Prêmio Nobel, incluindo a paquistanesa Malala Yusafzai, e países de maioria muçulmana, tais como Bangladesh, Indonésia, Turquia, Malásia, as Maldivas e o Irã, condenaram fortemente a violência e criticaram Suu Kyi por não conter a sua escalada no país.
O Papa Francisco visitará Myanmar e Bangladesh entre os dias 27 de novembro e 2 de dezembro, ao que os bispos de Myanmar já emitiram advertências de que ele não deve empregar o termo “rohingya” por se referir a um tema sensível no país.
O governo e as forças militares de Myanmar – junto com os seus cidadãos – referem-se ao povo rohingya como “bangali”, alegando que eles são provenientes da vizinha Bangladesh.
Dom Gervas Rozario, bispo da Diocese de Rajshahi e presidente da Comissão “Paz e Justiça” da Conferência dos Bispos Católicos de Bangladesh, disse que a crise dos rohingya certamente será discutida em privado com os líderes do governo.
“Eu acho que a questão do povo rohingya não vai ofuscar a viagem”, disse Rozario.
“O Papa Francisco está certo sobre os rohingya, e suponho que os bispos de Myanmar estão sob pressão, então solicitaram ao papa que não use o termo ‘rohingya’”, continuou o religioso.
“O Vaticano possui relações efetivas com os governos e penso que a sua embaixada aconselhará sobre o que o papa pode e não pode dizer”, completou.
Perseguidos há décadas, os muçulmanos da etnia rohingya se viram sob uma ofensiva militar mortal no estado de Rakhine, em Myanmar, depois dos ataques militantes do próprio grupo contra a polícia e postos do exército em 25 de agosto.
A onda de violência já matou mais de mil pessoas, a maioria rohingya, segundo a ONU.
Apesar de os guardas fronteiriços tentarem impedir a entrada, mais de 300 mil rohingya chegaram a Bangladesh nas das últimas duas semanas.
A recente onda de refugiados que se deslocam para Bangladesh é um acréscimo aos mais de 87 mil refugiados que rumaram para o país depois da repressão feita pelos militares de Myanmar no estado de Rakhine na sequência dos ataques militantes em 9 de outubro do ano passado.
Os assentamentos e acampamentos improvisados em Rakhine para refugiados estão superlotados. Escolas, centros comunitários, edifícios religiosos e famílias locais estão abrigando os recém-chegados, de acordo com um relatório emitido pela ONU em 4 de setembro último.
Mais de 12 mil moradores de Rakhine, de maioria budista, foram deslocados internamente como decorrência da violência em curso. Muitos deles estão sendo mantidos em prédios públicos e têm recebido auxílio do governo.
Grupos de ajuda manifestaram preocupação pelas 400 mil pessoas, segundo estimativas, que estão presas em zonas de conflito sem acesso a assistência humanitária, de acordo um relatório, também de 4 de setembro, publicado pela European Civil Protection and Humanitarian Aid Operations.
Rozario disse que o papa vai conversar com os governos de Bangladesh e Myanmar com o foco nos direitos humanos.
“É provável que o papa tente convencê-los a partir do ponto de vista humanitário e dos direitos humanos, para serem mais caridosos dizendo que eles também são seres humanos”, declarou o prelado de Bangladesh.
O bispo disse também que o governo de seu país tentará explicar ao papa a sua perspectiva da crise.
O Papa Francisco também poderá tocar na questão da coexistência pacífica e harmoniosa e no tema do diálogo inter-religioso em Bangladesh bem como reconhecerá as contribuições da Igreja na educação, saúde e nas atividades de desenvolvimento, disse.
O Pe. Kamal Corraya, coordenador de um comitê de imprensa para a visita papal a Bangladesh, contou que o pontífice destacará a longa “cultura de paz e harmonia” de Bangladesh, apesar de alguns reveses nos últimos anos.
Provavelmente Francisco falará positivamente sobre temas relacionados à “Rana Plaza”, fábrica de roupas que ruiu em 2013 matando mais de 1.100 pessoas, e reconhecerá que algumas melhorias aconteceram no setor danificado hoje reconstruído, acrescentou o religioso.
“O papa reconhecerá as iniciativas de Bangladesh em combater a vulnerabilidade às mudanças climáticas, e apelar ao mundo para que seja mais compreensivo e apoiador a Bangladesh e outros países vítimas”, completou Corraya.
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A crise dos rohingya é prioridade na agenda de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU