30 Agosto 2017
Um comunicado da agência SIR informa: "A Conferência Episcopal de Mianmar sugeriu ao Papa Francisco para não usar o termo ‘Rohingya’ durante a visita apostólica a Mianmar de 27 a 30 de novembro próximo. A notícia foi divulgada pela agência de notícias católica asiática UCANews. ‘Nós apenas explicamos que a palavra Rohingya é um tema sensível no país e seria melhor não usá-la durante a visita’, declarou monsenhor Alexander Pyone Cho, arcebispo de Pyay, a diocese de Estado de Rakhine habitado pela minoria muçulmana Rohingya perseguida pelo governo".
O comentário é de Luis Badilla, publicado por Il Sismografo, 29-08-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os textos consultados e disponíveis na Wikipedia sobre a etimologia da palavra "Rohingya", dizem: o termo "Rohingya" deriva de Rohang, denominação em linguagem Rohingya do estado de Rakhine (antigo Arakan), onde a maioria dos Rohingyas vive.
Alguns historiadores da etnia Rohingya, como Khalilur Rahma, argumentam que esse termo pode ter sido originado pela palavra árabe Rahma, que significa "misericórdia".
Embora outros considerem que é pouco provável tal interpretação, existe uma referência histórica que poderia servir como origem dessa denominação. Relata a história que depois de um naufrágio do oitavo século d.C., tendo afundado um navio árabe perto da ilha de Ramree, o rei arkanense ordenou que os mercadores árabes fossem mortos. Eles imploraram em sua própria língua: "Rahma". Como resultado desse fato, essas pessoas foram chamadas de Rahma e esta mesma palavra modificou-se gradualmente, primeiro para "Rhohang" e depois para "Rohingya".
Essa história tem sido questionada por Jahiruddin Ahmed e Nazir Ahmed, respectivamente ex-presidente e secretário da Arakan Muslim Conference. Sustentam que a população envolvida naquele naufrágio foi a dos muçulmanos Thambu Kya, que atualmente residem nas margens do mar Arakan. Portanto, se o nome deriva do fato narrado acima, teriam sido os Thambu Kyas os primeiro a assumir o apelido de "Rahma". A tese dos Ahmed é baseada em uma possível descendência dos Rohingyas dos habitantes de Ruha, no Afeganistão.
Outro historiador, M. A. Chowdhury, defende ao contrário que o termo Mrohaung (nome de um antigo reino arakanense) tenha sido modificado entre as populações muçulmanas do Mianmar até chegar a "Rohang", termo que mais tarde deu o nome à região habitada pelos Rohingya.
Historiadores de Mianmar, entre os quais Khin Maung Saw, afirmam que o termo Rohingya era desconhecido naquelas áreas antes de 1950. Até mesmo o historiador Aye Chan, da Universidade de Kanda afirma que tal termo jamais existiu em qualquer idioma antes de 1950, quando foi provavelmente importado pelos imigrantes de Bangladesh para o Arakan durante o período colonial. No entanto, ele admite que numerosas populações muçulmanas viveram durante séculos naquela região, estabelecendo-se lá durante o Reino de Mrauk U, quando Arakan mantinha contatos políticos, militares e comerciais com o Sultanato de Bengala.
Esse ponto de vista foi retomado pelo ex-embaixador britânico Derek Tonkin: "Na ausência de qualquer documentação nos arquivo britânico durante os 112 anos de sua gestão do Arakan, só posso concluir que Rohingya é uma denominação que entrou em uso após a Segunda Guerra Mundial". Ele também defende que: "A campanha internacional para apoiar a etnia Rohingya teve tamanho sucesso que acabou gerando um efeito contraproducente e contrário". Ele propõe como alternativa usar o termo ‘Maometanos de Arakan’ para se referir à minoria. Como forma para resolver o impasse, ele aconselha que os habitantes indígenas do Rakhine aceitem a realidade histórica da presença contínua de muçulmanos em Arakan por um longo período, e que os Rohingyas reconheçam que a denominação específica "Rohingya" não tinha validade histórica antes da independência em 1948.
O especialista em história do Arakan, Dr. Jacques P. Leider, salienta que Rooinga foi ao contrário utilizado em um relatório publicado no final do século XVIII pelo britânico Francis Buchanan-Hamilton. Em seu artigo de 1779 " Vocabulário Comparado de algumas das línguas faladas no Império Birmanês", ele declara: "Eu gostaria agora de adicionar três dialetos falados no império da Birmânia, mas, evidentemente derivados do Hindu. O primeiro é aquele falado pelos Muçulmanos, que há muito se estabeleceram no Arakan e que se definem Rooinga, ou nativos de Arakan". Leider acrescenta ainda que a etimologia da palavra não diz nada sobre política, e que o uso do termo como rótulo político para conferir identidade remonta apenas ao século XX. Mas então, porque esse termo foi usado apenas a partir de 1950? Evidentemente, as pessoas que o utilizam querem ressaltar a identidade da comunidade que vive ali.
O idioma Rohingya é a moderna língua escrita dos Rohingyas de Arakan (Rakhine) Estado de Mianmar (antiga Birmânia). Deriva da corrente indo-ariana, que é um sub-ramo da grande família das línguas indo-europeias. Ele está intimamente ligado ao idioma chittagong falado na parte mais meridional de Bangladesh na fronteira com Mianmar.
Embora tanto o idioma Rohingya como o Chittagong estejam relacionados ao bengalês, não são mutuamente inteligíveis com o último, apesar do que é muitas vezes sugerido na narrativa nacional de Mianmar. Estudiosos de rohingya escreveram corretamente este idioma em vários sistemas de grafia, incluindo árabe, urdu, romano e birmanês e em Hanifi, que é um alfabeto de nova concepção derivado do árabe com o acréscimo de quatro caracteres do latim e do birmanês.
Mais recentemente, foi desenvolvido um alfabeto com caracteres latinos, com todas as 26 letras do alfabeto inglês de A a Z e dois letras suplementares Ç (para o R retroflexo) e Ñ (para o som nasal). Para representar fielmente a fonologia rohingya, também se utilizam as cinco vogais acentuadas (á-é-í-ó-ú). O idioma rohingya foi reconhecido pela ISO com o código ISO 639-3 "rhg".
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As sugestões feitas ao Papa para que evite o uso da palavra "Rohingya" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU