24 Julho 2018
“Uma ferida aberta, dolorosa e complexa, que há muito tempo está sangrando.” O padre Diego Fares, escritor da revista La Civiltà Cattolica, define nesses termos o escândalo dos abusos que atingiu a sociedade e a Igreja do Chile.
A nota é do Servizio Informazione Religiosa, 18-07-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No caderno 4.034 da revista, lançado nesse sábado, 21 de julho, o jesuíta tentar explicar a processo implementado pelo Papa Francisco e os critérios de discernimento que ele identificou para curar essa chaga. A data de início foi 18 de janeiro deste ano, quando, perguntado por uma jornalista sobre o caso do bispo Barros, o pontífice respondeu: “O dia em que eu tiver uma prova, vou falar”. Resposta à qual se seguiram os seus pedidos de desculpa e, depois de um mês de oração e consultas, o envio ao Chile, no dia 19 de fevereiro, de Dom Charles Scicluna, com a missão de escutar as vítimas e fazer um relatório sobre a situação.
Um processo no qual se inserem dois textos particularmente significativos do papa: a carta-meditação entregue aos bispos chilenos – convocados a Roma de 15 a 17 de maio à luz do relatório de Scicluna – para que rezassem por um dia inteiro, e a carta dirigida “ao Povo de Deus peregrino no Chile”.
Na meditação proposta aos bispos, observa Fares, o pontífice especifica os pecados concretos de forma clara e sem eufemismos. Deve-se condenar e punir as pessoas concretas, mas não é suficiente. Não se deve ceder à tentação de “jogar o problema sobre as costas dos outros” e também não se deve ceder às tentações de “não ir a fundo na busca das raízes e das estruturas que permitiram que esses acontecimentos concretos se repetissem e se perpetuassem”.
Francisco introduz o critério de fundo para esse discernimento, “que vai contra a ‘psicologia de elite’, que prevaleceu em uma parte significativa do clero chileno: o critério do todo e da parte, e o lugar que a hierarquia ocupa no conjunto do Povo fiel de Deus”.
Na carta aos batizados chilenos, ele também afirma: “Com vocês será possível dar os passos necessários para uma renovação e uma conversão eclesial que seja sadia e de longo prazo” e os exorta a ter a coragem de dizer aos pastores: “‘Eu gosto disto... isto não está certo’”.
“Estamos diante do convite a nos deixar envolver, a caminhar na busca e a construir entre todos uma Igreja profética, mais sinodal, aberta à esperança”, conclui Fares.
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Abusos no Chile: ''Ferida aberta, dolorosa e complexa''. Revista dos jesuítas aprofunda a reflexão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU