Maria Madalena, apóstola da esperança

20 Julho 2024

"É incrível quando lemos o texto do evangelho e contemplamos Maria Madalena no Jardim, e percebemos quantos movimentos ela tem… Não é na mulher que fica quieta, é uma mulher que está em movimento de busca. Esse movimento de busca e a esperança que Maria tem é o desejo dela de se encontrar com Jesus, de poder encontrar-se com a vida plena novamente."

A reflexão é de María Cristina Giani, religiosa da Congregação Missionárias de Cristo Ressuscitado. Ela é graduada em teologia pela Universidade La Salle - Unilasalle e possui especialização em espiritualidade pela Università Pontifícia Salesiana - UPS. Atua em pastorais sociais com mulheres em situação de vulnerabilidade social e como orientadora de retiros.

Leituras do dia

Ct 3,1-4a ou 2Cor 5,14-17
Sl 62(63),2.3-4.5-6.8-9 (R. 2b)
Jo 20,1-2.11-18

Celebramos a Festa de Maria Madalena. Somos novamente convidados e convidadas a celebrar esta grande mulher a quem Papa Francisco reconhece como Apóstola dos Apóstolos.

Neste ano, a figura de Maria Madalena me traz uma nova luz para olhar para ela, que é a luz da Esperança, Maria Madalena como apóstola da Esperança, Maria Madalena peregrina da Esperança. Acho muito significativa essa esta nova luz que Maria Madalena nos traz, porque, como humanidade, sem dúvida, estamos atravessando uma noite escura, uma noite marcada por calamidades socioambientais, como a que sofremos aqui no sul do Brasil, uma noite marcada por tantas polarizações, por tantas guerras e intolerâncias… E, nesta noite, Maria Madalena volta a sair quando ainda está escuro, quando ela sai manifestando que alguma coisa a movimenta por dentro, esta mulher que não se resigna, mas que atravessa o medo e vai em busca de seu amor.

O que a move? Penso que aquilo que move Maria Madalena é o amor de Jesus que ela leva gravado no coração. É um amor que conheceu o sofrimento, conheceu a Cruz e um amor que a coloca a caminho, para buscar uma resposta, para que a cruz ou fracasso não seja a última palavra.

Estas realidades de Cruz, de fracasso, de sofrimento, sem dúvida, nós as conhecemos e experimentamos de diferentes maneiras. E Maria Madalena nos mostra que, mesmo sofrendo o fracasso, mesmo sentindo medo, mesmo vivenciando a morte, uma força maior está gravada no seu íntimo, uma força que a leva a acreditar, a esperar em algo diferente, em busca de uma possibilidade. Por isso, creio que que a força que move Maria Madalena é a Esperança, o que faz movimentar os pés de Maria Madalena em meio à noite é a esperança, uma esperança que nasce da realidade crucificada, que nasce de uma realidade em que conhece a impotência, mas uma esperança que acredita que outra vida é possível, acredita que Deus não vai deixar que seu filho fique na morte: nem seu filho Jesus, nem nenhum outro de seus filhos fique na morte para sempre. E por isso ela vai em busca da vida.

É incrível quando lemos o texto do evangelho e contemplamos Maria Madalena no Jardim, e percebemos quantos movimentos ela tem… Não é na mulher que fica quieta, é uma mulher que está em movimento de busca. E esse movimento de busca e a esperança que Maria tem é o desejo dela de se encontrar com Jesus, de poder encontrar-se com a vida plena novamente.

É isso é o que acontece: Jesus sussurra seu nome e ela acorda para uma vida nova. Ela vivencia o que esperava em seu coração: que Deus não deixaria seu Filho na morte para sempre, mas recomeçaria uma nova vida, recomeçaria o novo projeto que é o projeto do Ressuscitado, o projeto do Reino de Deus, projeto a que todas as todas criaturas e foram criadas para viver e viver em abundância.

Encontrando-se com o Ressuscitado, a esperança mesma de Maria Madalena ressuscita também. E Jesus a convida a correr, a sair pelos caminhos, a comunicar aos apóstolos, a comunicar a todos esta esperança que não morre. O Ressuscitado convida Madalena a ir por todos os cantos do mundo comunicar esta Esperança.

E como o nosso mundo necessita desta esperança! E hoje, mais que nunca, necessita desta esperança também para acreditar que um outro mundo é possível.

Necessitamos nos converter e sair de uma civilização consumista e predatória para poder construir uma civilização que cuide da vida, que cheire à vida, que possa construir uma fraternidade com todo a criação. E isso é o que Madalena anuncia: esta nova criação que realiza, esta nova esperança para a qual somos convidados/as, também nós, a estarmos grávidas/os dela para podermos viver e testemunhar a grandiosidade e a beleza da vida.

Quero finalizar esta reflexão com um poema que podemos colocar nos nos lábios de Madalena e que também pode pode ser nossa como uma experiência de esperança.

No centro do meu coração mora a Esperança.
Ela é pequena, mas muito forte.
Ela é flexível e resiliente, não quebra.
Silenciosa, mas potente e bem colorida, cheia de flores.
Mas quando olhas devagar para ela, consegues ver as suas rugas e cicatrizes
que incrivelmente, também são bonitas.
Esperança tem cheiro de Terra e de suave, perfume do orvalho da manhã.
Ela canta, sempre canta diferentes músicas de amor,
de calma, de possibilidades, de abraços, de futuro.
E tão bom escutá-la!
Quando escutou ela é como se uma mão de criança me guiasse a ti, a mim, aos outros…
Sim, sua música me leva e me faz dançar
E assim me surpreende uma e 1.000 vezes desvelando me tua presença.

Que Maria Madalena, que partilha conosco esta esperança, que é a presença do Ressuscitado no coração da humanidade, no nosso coração, no coração da história, nos conceda viver este este peregrinar de esperança, reconhecendo e celebrando a presença de Ressuscitado no nosso meio.

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