22 Julho 2023
"Maria Madalena recebeu o título de 'Apóstola dos apóstolos', destacando sua figura como a primeira testemunha do Ressuscitado", escreve Eliseu Wisniewski em artigo enviado ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Eliseu Wisniewski é mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR. Presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul. Professor na Faculdade Vicentina, em Curitiba, PR.
De pecadora arrependida à Apóstola dos apóstolos... Nos últimos tempos a figura de Maria Madalena tem ocasionado muito interesse dentro e fora da Igreja. Ad intra, a partir das reformas do Concílio Vaticano II (1962-1965), iniciou-se a “redescoberta” de Maria Madalena, até então celebrada na liturgia da Igreja como uma “pecadora arrependida”, por causa da errônea fusão de várias personagens dos evangelhos em uma única Maria. Em junho de 2016, o Papa Francisco solicitou à Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos que, no calendário litúrgico da Igreja, a antiga celebração de Santa Maria Madalena fosse elevada da categoria de “memória” para a de “festa”. Diante disso, elaborou-se um novo prefácio, inserido no Missal Romano, próprio para essa festa, em que Maria Madalena recebeu o título de “Apóstola dos apóstolos”, destacando sua figura como a primeira testemunha do Ressuscitado e a mensageira que anunciou aos apóstolos, inclusive a Pedro, o líder dos Doze, a ressurreição do Senhor.
Como dito acima, a fusão de várias Marias citadas nos evangelhos, em uma única pessoa levou à perda da peculiaridade de cada personagem e causou confusões que custaram a Maria Madalena a má fama de “pecadora”. Resgatar a particularidade de cada um destes personagens e entender as razões pelas qual Maria Madalena é considerada a “Apóstola dos apóstolos” é o escopo da obra: Maria Madalena discípula predileta do Senhor (Paulinas, 2023, 88 p.), escrita por Gilson Luiz Maria, doutor em Teologia Bíblica.
Capa do livro Maria Madalena: discípula predileta do Senhor de Gilson Luiz Maia (Foto: Divulgação)
O referido autor observa que certamente a liderança de Maria Madalena incomodava e encontrou oposição dentro e fora da comunidade cristã, e sua figura, identificada erroneamente com outras mulheres, no passar dos anos, foi relegada a um plano que contradiz os Evangelhos fazendo-se necessária a releitura dessas páginas dos evangelhos para conhecer melhor a figura desta mulher. Nesta perspectiva são desenvolvidas as reflexões desta obra: 1) Maria de Magdala, seguidora de Jesus (p. 19-32); 2) Maria Madalena nos Evangelhos (p. 33-49); 3) A discípula predileta do senhor no Evangelho de João (p. 51-65); 4) Apóstola dos Apóstolos (p. 67-80).
Evidenciado as semelhanças e as diferenças, em suma, nos evangelhos, a figura de Maria Madalena aparece no decorrer do ministério e nos momentos decisivos da vida de Jesus: na sua morte de cruz, no momento do sepultamento e na sua ressureição. Embora o apóstolo Paulo não a mencione em seus escritos, soube valorizar a presença feminina na ação evangelizadora e na coordenação de comunidades. Por sua vez, no evangelho de João ela aparece de modo excepcional em três cenas: está presente aos pés da cruz de Jesus; aparentemente sozinha, ela foi e constatou que o túmulo estava vazio e teve o privilégio de ser a primeira a encontrar e dialogar com o Cristo ressuscitado, antes mesmo de Pedro e do outro discípulo, aquele a quem Jesus amava.
Os padres da Igreja também enfatizaram Maria Madalena como a primeira testemunha da ressurreição de Jesus. O autor pontua, ainda que, na Igreja do Ocidente as afirmações do Papa Gregório fizeram com que as mulheres mencionadas pelos evangelistas fossem identificadas com uma mesma pessoa: Maria, a Mãe do Senhor, Maria Madalena, a Maria de Betânia, Maria, a mãe de Tiago, Maria de Cléofas e a outra Maria. Se a Igreja do Ocidente uniu algumas mulheres, reconhecendo-as em uma única pessoa, Maria Madalena, a tradição do Oriente, conservou a distinção de cada uma das discípulas de Jesus e atribuiu a elas, na sua individualidade, diferentes símbolos. Segundo a tradição oriental, Maria Madalena terminou seus dias na cidade de Éfeso, para onde o apóstolo João levou a Mãe de Jesus. Já a tradição ocidental afirma que Maria Madalena fugiu para a França, escapando das perseguições aos cristãos. Ali ela anunciou e testemunhou o Evangelho e passou os últimos trinta anos de sua vida recolhida numa gruta, onde faleceu aos 64 anos.
As reflexões propostas nesta obra mostram que tanto nas páginas dos evangelhos bem como no coração das primeiras comunidades cristãs Maria Madalena é a personagem histórica mais próxima de Jesus, que outras mulheres. Ela é a principal testemunha da ressurreição de Jesus, o Cristo. Ela é um ícone e nos ensina a trilhar os caminhos que conduzem ao encontro com o Ressuscitado. É impossível alcançar a fé no Cristo ressuscitado sem cruzar pelos tortuosos caminhos de Maria Madalena, discípula inquieta e corajosa, que seguiu Jesus na Galileia ao calvário. Ao pé da cruz, silenciosa e fiel, ela foi testemunha da morte de Jesus. Na ausência da luz, ainda na sua noite escura, Maria Madalena foi ao túmulo levada pelo amor. Ao vê-lo vazio, correu para dizer a Pedro e ao discípulo amado que o Senhor não estava mais ali. Sozinha, no jardim ela recorda o éden, ela derramou suas lágrimas, experimentou a angústia e chorou o amigo que morreu, o Mestre que tanto amava. No jardim, ferida na sua fé, Maria Madalena buscou o seu esposo. Discípula amorosa, ela mereceu o privilégio de ser a primeira a encontrar e dialogar com o Ressuscitado, que, naquela manhã pascal, a chama pelo nome: Maria.
O livro que conjuga elementos bíblicos com indicações para a espiritualidade – ressalta a importância desta discípula fiel de Cristo, que demonstrou grande amor por ele e ele por ela: apóstola dos Apóstolos. Colocará o leitor diante de uma fascinante e inédita história de amor de uma mulher/discípula com seu Mestre. Narra os acontecimentos que fizeram a personagem central, Maria Madalena, sem mais conhecida como “pecadora arrependida” do que como discípula fiel, testemunha missionária do Ressuscitado, apóstola de Cristo, protagonista de sua comunidade e expressão de nossa buscava pelo Absoluto: Deus.
MAIA, Gilson Luiz. Maria Madalena: discípula predileta do Senhor. São Paulo: Paulinas, 2023, 88 p.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Maria Madalena: discípula predileta do senhor. Artigo de Eliseu Wisniewski - Instituto Humanitas Unisinos - IHU