Jesus foi embora, e Madalena pega aquele sudário que havia acolhido e embalado seu corpo martirizado e o põe sobre si mesma, cinge-se com ele, desaparece dentro dele. Com uma ternura, uma nostalgia, uma melancolia sem fim.
O comentário é do historiador da arte Tomaso Montanari, professor da Universidade Federico II de Nápoles. O artigo foi publicado em Vita Pastorale, de junho de 2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O sol do novo dia ainda não nasceu, quando Maria Madalena corre ao túmulo do Mestre. E não o encontra: “Procurei o amor da minha alma, procurei-o sem encontrá-lo”, predissera o Cântico dos Cânticos. Depois, “virou-se e viu Jesus de pé; mas não sabia que era Jesus. E Jesus perguntou: ‘Mulher, por que você está chorando? Quem é que você está procurando?’. Maria pensou que fosse o jardineiro e disse: ‘Se foi o senhor que levou Jesus, diga-me onde o colocou, e eu irei buscá-lo’. Então Jesus disse: ‘Maria!’. Ela virou-se e exclamou em hebraico: ‘Rabuni!’ (que quer dizer: Mestre). Jesus disse: ‘Não me segure, porque ainda não voltei para o Pai’” (João 20; cf. Bíblia Pastoral).
Ao traduzir em imagens essa passagem tão densa – em que tudo gira em torno do corpo, tão individual e masculino, de Jesus – os artistas de todos os tempos deram vazão à sua liberdade imaginando um Cristo jardineiro – com pás, regadores, enxadas, chapéus de palha; e pondo em cena o noli me tangere, o “não me toque” ou, melhor, “não me segure”. Às vezes, traduzindo-o como um recuo exigente, outras como um minueto erótico, como faz Correggio, que parece imaginar uma irresistível dança campestre de dois amantes surpreendidos pelo amanhecer em um jardim.
A pergunta que os pintores não podiam responder é: por que Maria não reconhece seu amadíssimo Mestre? Talvez porque um corpo ressuscitado, um corpo que não morre e não sofre, não é sequer pensável para nós. E não porque esteja envolto em nuvens giratórias ou em amêndoas de luz, não.
Madalena o confunde com o jardineiro: como se quisesse dizer que a humanidade liberta da morte é finalmente uma humanidade em comunhão com o jardim do mundo – aquele perdido por Adão e Eva. Um jardim do qual hoje não somos guardiões, mas carnífices e destruidores.
E, então, em um piscar de olhos, o véu cai de seus olhos, e ela o reconhece. Quando? Quando ele a chama pelo nome. Assim como os apóstolos o reconheceriam quando ele estivesse assando peixe para eles, e os discípulos de Emaús no momento em que partisse o pão. Chamar pelo nome, compartilhar a comida, cuidar: é assim, nós o sabemos, que é possível fazer de todo estranho um amigo. E sabe-se lá se esse não é justamente o sentido último daquele memorável diálogo. Muitas vezes, os nossos olhos não são suficientes para reconhecer quem está à nossa frente.
Mas está exatamente aí, naquele estranho, aquilo que estamos procurando: a nossa humanidade comum. A salvação. Aprender a nos chamar pelo nome em todas as línguas do mundo.
O momento culminante da história é justamente quando Madalena ouve aquele “estrangeiro” a chamando pelo nome. Entre todas as representações desse momento, sempre amei particularmente a de Girolamo Savoldo. Em todas as suas quatro versões, sim, mas especialmente naquela preservada em Londres. Porque, ali, a expressão inefável de Madalena (estupor? Felicidade? Espanto?) está como que iluminada, sublinhada, celebrada pela extraordinária brancura do manto em que está envolvida: um branco que nenhum lavandeiro desta terra poderia igualar.
O amanhecer, o jardim, o vão às suas costas, o vaso de unguento: o pintor nos faz entender que se trata mesmo de Madalena, que, na manhã do domingo após a crucificação, vai ao túmulo de Jesus para ungir seu corpo, mas o encontra aberto. Ela chama Pedro e João, que acorrem e encontram o túmulo vazio e, dentro dele, “o sudário que tinha sido usado para cobrir a cabeça de Jesus, mas não com os panos de linho no chão; estava enrolado em um lugar à parte” (diz o Evangelho do mesmo João).
“Maria Madalena”, de Giovanni Girolamo Savoldo, 1535-1540 circa, óleo sobre tela, National Gallery, Londres (Foto: Wikimedia)
Enquanto os dois homens só veem o vazio, o próprio Jesus aparece a Madalena, que tinha ficado do lado de fora. Foi proposto, com uma notável intuição, que Savoldo nos coloca exatamente no papel de Jesus: Madalena é retratada justamente enquanto olha para nós. É a mesma ideia que Antonello da Messina e Leonardo também aplicaram à representação do momento culminante da Anunciação, optando por pintar Maria ou Gabriel frontalmente, colocando assim o espectador do quadro no papel do outro protagonista.
No caso da Madalena de Savoldo, há um indício precioso e comovente: o reflexo de luz em seu manto é provocado pela luz do Ressuscitado, e é um acidente natural, transeunte, até banal que consegue nos restituir a verdade concreta, de alguma forma cotidiana, daquele instante inesquecível. Uma ideia resolutiva. Mas sempre me perguntei por que dar todo esse espaço àquele tecido maravilhoso – que, pela forma como foi pintado, consegue unir Leonardo e Giorgione, verdadeiro protagonista do quadro.
Uma das vezes que estive em frente ao quadro, em Londres, tive uma iluminação: “Eis o que é esse pano!” É o sudário de Jesus: e a dobra bem à vista está ali precisamente porque o Evangelho diz que o encontraram dobrado. Jesus foi embora, e Madalena pega aquele sudário que havia acolhido e embalado seu corpo martirizado e o põe sobre si mesma, cinge-se com ele, desaparece dentro dele. Com uma ternura, uma nostalgia, uma melancolia sem fim.
Uma hipótese, claro: talvez uma ilusão. Mas, em todo o caso, uma ideia capaz de nos restituir a concretude da ressurreição: “Ressuscitou verdadeiramente!” A concretude material: é a carne que ressuscita, algo que pode ser tocado, algo que sentimos quente, frio. Que sente a dor e que vibra de alegria. Mas também a concretude sentimental: antes que Madalena pudesse entender que a ressurreição dizia respeito a todos os corpos (inclusive o dela), o que ela queria naquele momento era que o corpo de Jesus não se perdesse para sempre.
A ideia de se envolver em seu sudário, de fazer dele um xale e um véu: e a ideia de que precisamente aquele tecido nos mostra, por reflexo (como se não pudéssemos contemplá-lo face a face, como a luz da presença de Deus na sarça ardente), a luz do Ressuscitado. Só o amor concreto pelas pessoas concretas é capaz de revelar verdadeiramente a ressurreição. E os pintores, que não sopram na leveza das palavras, mas se comprometem com a materialidade das cores, não nos disseram sobre ela: eles a mostraram para nós.