Eleito bispo de Roma na noite de 19 de abril de 2005 no Conclave que foi aberto 17 dias após a morte de São João Paulo II. O pontificado de Bento XVI terminou com a sua "declaração" explícita, clara e solene, ou seja, a renúncia ao Trono de Pedro, anunciada de surpresa em 11 de fevereiro de 2013 com uma Declaratio no final do Consistório para a canonização dos Mártires de Otranto. Portanto, às 20h00 do dia 28 de fevereiro de 2013, logo após sua transferência de helicóptero para as Vilas Pontifícias de Castel Gandolfo, o pontificado do Bispo de Roma terminou. O papado de Joseph Ratzinger, durou 7 anos, 10 meses e 9 dias. A partir daquele momento iniciou-se para a Igreja uma etapa muito diferente da sua vida, cheia de incógnitas, dúvidas, novidades, esperanças, crises e conflitos. Obviamente, tudo isso será discutido no balanço do atual papado, que começará seu nono ano em 13 de março.

A reportagem é publicada por Il Sismografo, 19-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

O relógio a seis horas do palácio de Castel Gandolfo

Um símbolo visível e muito tocante do final do papado de J. Ratzinger, e talvez nem um pouco casual, foi o som do relógio a 'seis horas' que encima a fachada do Palácio Papal da cidade, conhecido como o "relógio romano" [1]. O repique dos sinos desencadeou o fechamento do portão principal, executado com severidade, mas com grande emoção por dois guardas suíços filmados pelas redes mais importantes do mundo.

Assim começou, naquele preciso instante, o período de vacância que durou até a noite de 13 de março de 2013, quando foi anunciado na Loggia central da Basílica de São Pedro o nome do novo Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Jorge Mario Bergoglio, cardeal, arcebispo de Buenos Aires (Argentina), que escolheu o nome de "Francisco". Antes de iniciar o nono ano de seu pontificado (13 de março de 2021), o Papa Francisco a partir das 20h de 22 de janeiro ultrapassará a duração de 7 anos 10 meses e 9 dias (2.872 dias), ou seja, o mesmo período de tempo que o Predecessor Bento XVI.

Na declaratio de renúncia do hoje Bispo Emérito de Roma, assinada em 10 de fevereiro de 2013 e lida no dia 11 no final do Consistório, meditada por muito tempo (talvez já decidida em março de 2012 no México), consta: “... bem ciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pelos Cardeais em 19 de abril de 2005, para que, a partir de 28 de fevereiro de 2013, às 20h00, 00, a Sé de Roma, a Sé de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, a quem de competência, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice [2]".

Para alguns, esse trecho sobre as 20h do dia 28 de fevereiro sempre despertou muito interesse e curiosidade. Talvez a explicação mais plausível possa ser encontrada em outra decisão de Bento XVI: a de tornar efetiva a renúncia no Palácio Papal de Castel Gandolfo, onde na fachada existe um relógio chamado 'a seis horas' (também conhecido como "a hora itálica"). Nesse mecanismo singular adotado pela Igreja Católica na Europa no século XIII, o primeiro período entre as 20h e meia-noite - indica o fim do dia e o início do seguinte, enfim, indica uma passagem...

A renúncia de Bento XVI foi, realmente, uma passagem de um período a outro da vida da Igreja com uma Sé vacante ao fundo da qual estava o bispo de Roma agora emérito. J. Ratzinger assim descreve as causas ou razões para a passagem: "Depois de ter examinado repetidamente minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, não são mais adequadas para exercer o ministério petrino de forma adequada. Estou bem ciente que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser realizado não só com as obras e as palavras, mas também com sofrimento e oração. No entanto, no mundo atual, sujeito a mudanças rápidas e agitado por questões de grande relevância para a vida de fé, para guiar o barco de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor do corpo e da alma, vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de tal maneira que tendo que reconhecer minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado".

***

Notas:

[1] Esse tipo de relógio marca as 24 horas do dia em períodos de 4 horas repetidos 6 vezes. Foi abolido na Itália com a chegada de Napoleão, que introduziu o sistema de 12 horas, denominado "horário francês".

[2] Declaratio. Os Papas que na história da Igreja renunciaram por várias razões. São: Clemente I, Ponciano, Silvério, Bento IX, Gregório VI, Celestino o V e Gregório XII e Bento XVI.

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