26 Setembro 2018
Nestes dias, provocaram muito rumor as duas cartas que o Papa Emérito Bento XVI escreveu ao cardeal alemão Walter Brandmüller, ex-presidente do Pontifício Comitê das Ciências Históricas, para explicar e defender a sua renúncia em 2013, contra as críticas que lhe haviam sido feitas.
A reportagem é de Antonio Dall’Osto, publicada por Settimana News, 25-09-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Bento XVI expressa todo o seu pesar, especialmente pelo modo como Brandmüller havia criticado publicamente essa sua decisão e também explica as razões pelas quais ele escolheu ser chamado de “papa emérito”.
A primeira das duas cartas é uma resposta a um comentário do cardeal Brandmüller publicado em 28 de outubro de 2017 em uma longa entrevista com o jornal alemão Frankfürter Allgemeine Zeitung.
Na segunda, Bento diz entender o sofrimento provocado no cardeal e em muitos outros pela sua renúncia, mas lamenta que esse fato tenha se transformado em indignação.
Brandmüller é um dos quatro cardeais que, em setembro de 2016, havia expressado uma série crítica de perguntas ao Papa Francisco – as chamadas “dubia” – pedindo-lhe um esclarecimento sobre seu ensinamento sobre a família.
Cópias das duas cartas de Bento XVI, escritas respectivamente em 9 e 23 de novembro de 2017, foram publicadas no jornal alemão Bild no dia 20 de setembro passado e também foram retomadas sinteticamente pelo New York Times no mesmo dia.
Publicamos abaixo os dois textos no original e traduzidos.
Primeira carta de Bento XVI ao cardeal Brandmüller, 09-11-2017 (Foto: Settimana News)
Eminência,
Na entrevista que o senhor concedeu recentemente ao FAZ, o senhor afirma que eu, com a “construção” do papa emérito, teria criado uma figura que não existe em toda a história da Igreja. O senhor naturalmente sabe muito bem que – embora muito raramente – alguns papas renunciaram. O que eles foram depois? Papas eméritos? Ou o quê?
Como o senhor sabe, Pio XII, no caso de uma prisão por parte dos nazistas, depositou uma declaração segundo a qual, a partir do momento da prisão, ele não seria mais papa, mas novamente cardeal. Se esse retorno ao cardinalato seria efetivamente possível, não sabemos. No meu caso, certamente não teria sido significativo simplesmente afirmar um retorno ao cardinalato. Eu então estaria continuamente exposto à opinião pública, como um cardeal ou, melhor, mais ainda, porque veriam nele um ex-papa. Querendo ou não, isso poderia ter consequências difíceis no contexto atual.
Com a figura do “papa emérito”, eu tentei criar uma situação em que me tornasse absolutamente inacessível e em que fique claro que há apenas um papa. Se o senhor conhece um modo melhor e acha que pode condenar o modo por mim escolhido, por favor, me diga.
Saúdo-o no Senhor,
Seu, Bento
* * *
Segunda carta de Bento XVI ao cardeal Brandmüller, 23-11-2017 (Foto: Settimana News)
Eminência,
A partir da sua cordial carta de 15 de novembro, posso deduzir que o senhor, no futuro, não desejará mais se expressar publicamente sobre a questão da minha retirada, e eu lhe agradeço por isso.
Posso entender muito bem a profunda dor que provocou no senhor e em muitos outros o fim do meu pontificado. Mas a dor se tornou em muitos – e me parece que também no senhor – em uma indignação, que agora já não diz mais respeito simplesmente à minha retirada, mas também se estende cada vez mais à minha pessoa e ao meu pontificado como um todo. Desse modo, é desvalorizado todo um pontificado e “misturado” com a dor pela situação da Igreja de hoje.
A partir da união desses elementos, deriva, pouco a pouco, um novo tipo de divulgação do qual poderia ser representativo o livreto escrito por Fabrizio Grasso, La rinuncia (Algra Editore, Viagrande, Catania, 2017). Tudo isso me enche de preocupação e, justamente por isso, o fim da sua entrevista ao FAZ me perturbou profundamente, porque, com efeito, favorece esse mesmo estado de espírito.
Rezemos, ao contrário, como o senhor fez ao término da sua carta, para que o Senhor venha em auxílio da sua Igreja,
Com a minha bênção apostólica,
Seu, Bento
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Bento XVI, a renúncia contestada e as cartas ao cardeal Brandmüller - Instituto Humanitas Unisinos - IHU