19 Outubro 2015
Os prelados na reunião mundial de bispos católicos sobre família entraram no que se esperava ser um dos pontos mais controversos das suas discussões: como a igreja deveria tratar pessoas que se divorciam e se casam novamente sem primeiro obter anulações.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 15-10-2015. A tradução é de Evlyn Louise Zilch.
Em meio a 93 discursos realizados até a quinta-feira por cerca de 270 prelados no Sínodo dos Bispos, em curso de 04 a 25 de outubro, muitos supostamente referem-se a esta questão e expressou opiniões amplamente divergentes.
Uma questão fundamental: mesmo que pudesse haver qualquer possibilidade para divorciados e novamente casados assumirem algum tipo de "caminho penitencial" isto provavelmente acabaria por permitir-lhes receber a Eucaristia.
“Temos de reconhecer que a questão do acesso ao sacramento [...] foi repetida inúmeras vezes”, disse uma porta-voz do Vaticano quinta-feira durante uma coletiva resumindo as discussões. “Esta questão é particularmente interessante na medida em que de alguma forma cristaliza as diferenças existentes nas diferentes abordagens”.
Romilda Ferrauto disse que as discussões dos prelados amplamente resumiam dois pontos de vista distintos: Ou querendo “acompanhar as pessoas, apesar de suas falhas, sem diluir os ensinamentos [da igreja]” ou “advertindo contra reparos precipitados ou soluções rápidas" para os problemas pastorais.
Ferrauto, uma das cinco porta-vozes do Vaticano que apresentam linhas gerais das deliberações dos bispos em diferentes línguas, disse que aqueles a favor de algum tipo de “caminho penitencial” não queriam permitir “acesso indiscriminado à Eucaristia, mas uma abordagem personalizada para cada diocese”.
“Privar essas pessoas da Eucaristia e do sacramento da reconciliação é injustificado”, a porta-voz citou uma das observações dos bispos. Ela disse que os bispos haviam dito que o divórcio “é uma espécie de tragédia para a família”, mas perguntou: “Como pode a igreja punir algo que é parte integrante da experiência humana?”.
Ferrauto falou quinta-feira durante uma coletiva sobre as deliberações do Sínodo, que estão ocorrendo a portas fechadas. O Vaticano está concedendo coletivas diárias com os porta-vozes resumindo as discussões em várias línguas.
As pessoas divorciadas e recasadas estão atualmente proibidas de receber a Eucaristia sob a doutrina católica, a menos que seus primeiros casamentos sejam declarados nulos por tribunais da igreja.
Também falaram na quinta-feira dois participantes sinodais: o arcebispo polonês Stanislaw Gadecki, presidente do Conselho Episcopal de seu país; e o arcebispo mexicano Carlos Aguiar Retes, ex-presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM).
O jesuíta Bernd Hagenkord, um alemão que normalmente trabalha para a Rádio do Vaticano, deu um breve resumo dos temas gerais debatidos durante as sessões abertas do Sínodo quarta e quinta-feira, dizendo que havia “muitos, muitos” discursos de bispos sobre o tema do acesso aos sacramentos para os divorciados novamente casados.
Hagenkord disse que um bispo propôs um "caminho catecumenal" para essas pessoas, e que a exortação apostólica Familiaris consortio do Papa João Paulo II foi citada frequentemente nas discussões.
O padre basiliano Thomas Rosica, que ajuda o Vaticano com a mídia em inglês, disse que um bispo falou da necessidade de "professar a fé com clareza, saber o que o credo significa e também saber não apenas expressões tais como portas abertas, mas a importância do caminho estreito às vezes, o que é difícil de seguir".
Manuel Dorantes, um padre da região de Chicago que principalmente auxilia a assessoria de imprensa com a mídia em espanhol, disse que um bispo contou uma história particularmente comovente sobre uma criança de um casal de recasados que recebeu a Eucaristia e, em seguida, a compartilhou com seus pais.
Esse bispo, disse Dorantes, queria mostrar "o sofrimento dos filhos desses casais divorciados novamente casados".
Quando questionado pela NCR durante a coletiva sobre como o sínodo pode impactar seu próprio ministério, na Polônia, Gadecki disse que ele foi mais afetado pela ênfase das discussões em acompanhar pessoas divorciadas "com amor, amizade, [e] afirmando nelas o desejo de serem amadas pela igreja".
"Nós sempre pensamos sobre o caminho penitencial nesse sentido", disse Gadecki sobre os bispos poloneses. "Os padres têm que estar em contato com aqueles que são divorciados, [e] dar-lhes apoio na sua dificuldade".
O arcebispo também disse que não há medo entre os bispos sinodais sobre os debates, afirmando: "A atmosfera do medo não existe porque acreditamos no Espírito Santo".
Entre os discursos proferidos pelos bispos sinodais na quarta-feira, um foi do cardeal australiano George Pell, que concedeu o texto de suas observações à revista católica britânica Catholic Herald.
"Muitos perderam a confiança nas doutrinas de Jesus e duvidaram ou negaram que a misericórdia é encontrada em seus duros ensinamentos morais", afirma Pell no texto. "O Jesus crucificado não teve medo de confrontar a sociedade, e ele foi crucificado por suas dores, ensinando seus seguidores que a vida é uma luta moral que exige sacrifícios, e seus seguidores não podem seguir sempre as alternativas fáceis".
"Grupos de bispos têm autoridade para ensinar, explicar, e até mesmo desenvolver doutrina; mas nem mesmo um conselho com e sob um papa pode mudar ensinamentos morais católicos essenciais sancionados pela Escritura e pelo Magistério", ele continua.
O arcebispo irlandês Eamon Martin disse ao The Irish Catholic na quinta-feira que ele falou ao Sínodo sobre a sua incapacidade de dialogar sobre os "devastadores" efeitos do abuso sexual clerical de crianças nas famílias.
"Este é um importante sínodo para a vocação e a missão da família, e para nós ignorarmos toda a questão do abuso nas discussões e na sala do sínodo de fato seria um erro", Martin disse que ele falou na reunião.
"Nós sabemos muito bem o impacto terrível dos pecados e crimes de abuso na família da igreja: a traição de confiança, a violação da dignidade, a vergonha - tanto pública como privada, a raiva e alienação, a ferida que parece nunca curar", disse ele.
Martin também disse que se opunha à ideia de dar em conferências locais ou regionais dos bispos autoridade sobre certos assuntos relacionados ao casamento e à família.
Mas ele também ressaltou que a igreja adota uma linguagem mais inclusiva em relação às pessoas homossexuais, dizendo a igreja precisa de estar "muito consciente de que parte da linguagem que pode ser usada nos círculos da Igreja sobre as pessoas homossexuais é para elas desrespeitosa e ofensiva".
O Sínodo se reunirá novamente em sessão aberta na quinta-feira à tarde e sexta-feira. Os membros irão, em seguida, reunir-se em 13 pequenos grupos de discussão, separados por preferência de idioma, no sábado e na segunda-feira.
Segundo o Vaticano, os bispos que falaram nas sessões do Sínodo de quarta e quinta-feira foram os seguintes:
• Cardeal indiano George Alencherry;
• Cardeal dos EUA Daniel Di Nardo;
• Cardeal alemão Gerhard Muller;
• Arcebispo italiano Bruno Forte;
• Arcebispo de Porto Rico Roberto Gonzalez Nieves;
• Cardeal alemão Walter Kasper, e;
• Cardeal brasileiro João Braz de Aviz.
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Sínodo debate a questão do divórcio, Pell diz encontrar misericórdia em duras verdades - Instituto Humanitas Unisinos - IHU