02 Março 2015
O cardeal alemão Walter Kasper surgiu como o porta-voz teológico do Papa Francisco. Em seu livro recentemente publicado, Pope Francis' Revolution of Tenderness and Love, lançado no dia 18 de fevereiro, Kasper retrata o papa não como um conservador, nem como um liberal, mas um radical que quer promover uma revolução da misericórdia.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada no sítio National Catholic Reporter, 25-02-2015. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Kasper começa descrevendo como, em um tempo muito curto, o novo papa conseguiu trazer um vento fresco para a Igreja, atraindo uma favorável atenção mundial. No prazo de 18 meses a contar da eleição de Francisco, um grande número de livros sobre ele foram publicados. A maioria são a favor, mas também houve algumas vozes críticas, escreve Kasper. E em certos círculos, aumentou tanto uma crítica aberta quanto oculta de Francisco.
"Um número considerável de pessoas não confiam no novo entusiasmo. Elas estão exercitando uma contenção suave e adotam uma atitude de esperar para ver", escreveu Kasper. "O que para a maioria das pessoas parece uma nova primavera, para elas é uma onda de frio que passa - não um novo começo, mas apenas um intermezzo".
No entanto, Kasper não oferece detalhes da política interna da Igreja, dados biográficos, anedotas ou histórias sobre o que está realmente acontecendo ou supostamente por trás dos muros do Vaticano. "Isso tudo pode ser interessante, mas não chegam ao cerne da questão", escreveu ele.
Seu livro é uma tentativa de "aproximar-se do fenômeno Francisco teologicamente", para lançar luz sobre o conteúdo teológico do presente pontificado e elucidar as novas perspectivas que ele abre. Francisco não é nem uma estrela, nem um teólogo barato, mas uma pessoa profundamente mística, escreveu Kasper.
Enquanto a teologia do papa não pode ser atribuída a uma escola particular de pensamento, não há nenhuma dúvida na mente de Kasper de que Romano Guardini (1885-1968), um padre alemão, autor e acadêmico, e uma das figuras mais seminais na vida intelectual católica do século XX, influenciou profundamente Francisco, que estudou as obras de Guardini durante sua estada na Alemanha, em 1986. De acordo com Kasper, a obra de Guardini, Attempts at a Philosophy of what is Concrete and Alive, teve uma influência crucial sobre Francisco.
Em 12 breves e concisos capítulos, Kasper analisa as raízes argentinas e europeias da teologia do papa e, não surpreendentemente, dedica um capítulo inteiro à misericórdia, que ele diz é a tônica deste pontificado. Kasper escreve que a ênfase do papa sobre a misericórdia como o princípio interpretativo fundamental denota uma mudança de paradigma de um método dedutivo para um método de ver-julgar-agir.
"Essa mudança de paradigma pode dar origem à irritação e mal entendidos, como se sugerindo que o que foi escrito anteriormente já não vale mais", escreveu Kasper. "Se entendida corretamente, no entanto, a mudança de paradigma não muda o conteúdo do que foi válido até agora, porém muda a perspectiva e o horizonte a partir do qual o conteúdo é visto e compreendido".
Em seu epílogo, Kasper delineia o futuro e avalia as perspectivas de sucesso de Francisco na reforma da Igreja. Não há dúvida de que o papa fascina as pessoas dentro e fora da Igreja, escreveu Kasper, mas até o momento, ele só tem proporcionado estímulos para sua "apaixonada" revolução de ternura e de amor. Isso deixa a questão em aberto sobre quão concreto é o seu programa.
"Será que Francisco realmente vai desencadear uma reforma abrangente ou seu pontificado vai decepcionar as expectativas? Essas são perguntas que muitas pessoas, incluindo as que o acolheram favoravelmente, estão fazendo", escreveu Kasper.
Não há dúvida de que Francisco continuará a executar os pontos individuais de sua agenda de reformas passo-a-passo e que podemos esperar muitos como uma surpresa, mas é "humanamente impossível" dizer se ele vai ser capaz de definir um processo irreversível de reforma em um movimento que vai durar para além do seu pontificado, escreveu Kasper.
A resposta, além disso, não depende apenas do papa, mas também sobre o quão longe a Cúria Romana, as Igrejas locais, as ordens religiosas, os movimentos, as faculdades teológicas e os cristãos vão seguir os impulsos do papa.
"Não podemos apenas cruzar os braços e dizer 'vamos esperar e ver o que o papa faz'. Nós mesmos devemos aventurar-nos a partir dos nossos blocos de largada". escreveu Kasper.
Os desafios deste papado são muito mais radicais do que a maioria das pessoas imagina, ele ressalta. É um desafio para aqueles conservadores que rejeitam a reforma, mas também para os progressistas que esperam soluções viáveis e específicas imediatamente.
"A revolução da ternura e do amor poderia decepcionar ambos os lados e, ao final, ainda provar que está certa. O realismo cristão da "Alegria do Evangelho" vai além da ideologia reacionária e das efusões utópicas", escreveu Kasper. "O que o papa propõe é a maneira humilde de pessoas comprometidas que podem mover montanhas. Um pouco de compaixão pode mover o mundo, diz Francisco. Essa é a revolução cristã, a revolução, no verdadeiro sentido da palavra, ou seja, uma conversão para a origem da mensagem do Evangelho como um caminho para o futuro, uma revolução da misericórdia".
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Walter Kasper publica novo livro sobre o papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU