Por: André | 05 Outubro 2015
Após desmentir que o Papa Francisco apoiasse Kim Davis, a funcionária norte-americana que passou cinco dias presa por se recusar a conceder licenças matrimoniais a casais homossexuais, o Vaticano revelou que o “único encontro de fato” que Francisco teve em Washington foi com um ex-aluno seu e com sua família, a quem mais tarde identificou como Yayo Grassi (fotos), um homossexual de nacionalidade argentina que se reuniu com o papa, acompanhado do seu companheiro e de alguns amigos.
Fonte: http://bit.ly/1OQNnSK |
A reportagem foi publicada por Religión Digital, 03-10-2015. A tradução é de André Langer.
As revelações mudaram a narrativa do encontro com Davis, que foi parar na prisão por se se recusar a conceder licenças matrimoniais a casais homossexuais. Também deixa claro que Francisco queria que outro encontro viesse à tona: aquele que teve com seu ex-aluno e sua “família” gay.
O porta-voz do Vaticano, o Pe. Federico Lombardi, disse que Francisco teve um encontro com “várias dezenas” de pessoas na sede da Nunciatura Apostólica (Embaixada do Vaticano) em Washington, exatamente antes de partir rumo a Nova York. Lombardi disse que esses encontros são um acontecimento rotineiro em qualquer viagem papal e que se devem à “amabilidade e disponibilidade” do pontífice.
Lombardi também disse que o “breve” encontro que teve com Davis naquela tarde não constituía, de maneira alguma, um sinal de aprovação da sua causa. “O papa não entrou em detalhes sobre a situação da senhora Davis e seu encontro com ela não deve ser considerado como uma forma de apoio à sua posição, em tudo ou em algum aspecto em particular ou em relação às suas complexas arestas”, disse Lombardi.
“A única audiência verdadeiramente concedida pelo papa aconteceu na Nunciatura Apostólica com um de seus ex-alunos e sua família”, acrescentou Lombardi.
Lombardi não revelou quem era o estudante, mas a pessoa envolvida encarregou-se de revelar sua identidade posteriormente: em um vídeo publicado on-line, Grassi mostra sua chegada à Embaixada, e depois quando abraça o seu ex-professor e lhe apresenta seu companheiro, a quem o pontífice conheceu em uma reunião anterior, e a alguns amigos provenientes da Ásia.
Um porta-voz do Vaticano, o Pe. Thomas Rosica, confirmou que efetivamente se tratava de Grassi, o ex-estudante de Francisco.
Uma audiência papal diferencia-se de um encontro pelo fato de que a primeira é planejada e é um assunto um tanto formal. Os papas têm audiências com os chefes de Estado. Também fazem reuniões para conhecer e agradecer benfeitores ou personalidades católicas.
O fato de que Lombardi tenha descrito o encontro com Grassi como a única verdadeira “audiência” que Francisco teve em Washington deixou claro que o papa quer insistir nesta reunião, em detrimento do “breve encontro” que teve com Davis e várias dezenas de pessoas que foram convidadas à Embaixada vaticana ao mesmo tempo.
Davis, uma cristã apostólica, passou cinco dias na prisão por desafiar a ordem de uma corte federal para conceder licenças matrimoniais a casais do mesmo sexo depois que a Suprema Corte legalizou o casamento gay em todo o país.
Um juiz libertou Davis com a condição de que não interferisse quando seus subordinados emitissem as licenças. Quando a funcionária voltou ao trabalho, confiscou as autorizações de casamento e substituiu-as por outras novas nas quais dizia que não tinham sido autorizadas pela autoridade da funcionária do condado, mas “por uma instância de uma ordem judicial federal”.
A funcionária disse esta semana que ela e seu marido se encontraram brevemente com o papa na Nunciatura Apostólica vaticana em Washington e que o pontífice teria pedido a ela “para que fosse forte”.
“Saber que o papa está em sintonia com o que fazemos e que está de acordo, de certo modo valida tudo”, disse à cadeia de notícias ABC.
As notícias sobre o encontro foram muito comentadas na Igreja estadunidense, o que provocou questionamentos sobre se o papa tinha se enganado ao se reunir com Davis e sobre se o pontífice conhecia os detalhes do caso, que polarizou os Estados Unidos.
Em um princípio, o Vaticano apenas confirmou a contragosto que houve um encontro, sem dar mais detalhes.
Fonte: http://bit.ly/1OQNnSK |
Lombardi emitiu, na sexta-feira, um comunicado mais extenso para “contribuir para uma compreensão objetiva dos fatos”.
O porta-voz não revelou quem convidou Davis à Nunciatura Apostólica ou se o papa conhecia o caso de antemão. Estes encontros são organizados pelo embaixador vaticano e seu pessoal, não pela delegação do papa nem pela Conferência Episcopal dos Estados Unidos.
O Pe. Thomas Rosica, assistente de Lombardi, disse que não acreditava que o papa conhecesse Davis ou as implicações do encontro.
“Não creio que seja tanto uma questão de ser enganado como de estar completamente a par da situação e de suas complexidades”, indicou. “Não creio que ninguém tentasse enganar o papa de forma deliberada, e ao mesmo tempo também não se informou adequadamente o papa sobre quem estava presente ao encontro. Não foi informado adequadamente sobre a pessoa ou o impacto de uma visita dessas”.
Desde o começo de seu giro de seis dias pelos Estados Unidos, Francisco pediu aos estadunidenses para preservarem a liberdade religiosa, que descreveu como “uma das posses mais preciosas da América”. Mas incluiu esta questão entre outros assuntos, como a imigração, a mudança climática e a pena de morte.
Francisco defende com firmeza os ensinamentos da Igreja sobre que o matrimônio deve ser entre um homem e uma mulher, mas não se centrou no debate sobre o casamento homossexual em sua visita, e em um dado momento pediu aos bispos estadunidenses para que evitassem a retórica “dura e divisionista”, apesar dos desafios que enfrentam na sociedade.
Ao deixar o país, o papa disse a jornalistas que lhe perguntaram, que não conhecia o caso de Davis em detalhe, mas defendeu a objeção de consciência como um direito humano.
“É um direito. E se uma pessoa não permite que outros sejam objetores de consciência, nega um direito”, disse Francisco.
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O Vaticano confirma que Francisco se reuniu com um casal homossexual nos Estados Unidos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU