03 Setembro 2021
A próxima revolução industrial, a da computação cognitiva, buscará a união do humano, do físico e do digital para tentar imitar o comportamento do cérebro humano.
A opinião é de Iñigo Sarria Martínez De Mendivil, assistente do vice-reitor de Planejamento Acadêmico e Corpo Docente e professor da Escola Superior de Engenharia e Tecnologia da Universidade Internacional de La Rioja (UNIR), na Espanha.
O artigo foi publicado por The Conversation, 26-08-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Enquanto nós, cidadãos comuns, estamos nos acostumando com a Internet das Coisas (IoT), as empresas de tecnologia avançam rumo à próxima revolução industrial, que elas chamaram de computação cognitiva.
Mediante a já conhecida internet dos sentidos, a realidade virtual e ainda mais a realidade aumentada, junto com diversos wearables, possibilitarão, se a velocidade das redes o permitir em alguns anos, experiências imersivas nas quais todos colocaremos em prática os nossos sentidos.
Contamos com uma multidão de sensores instalados nas nossas vidas que permitem a captura de dados, como relógios inteligentes, medidores de atividade, câmeras em edifícios, microfones ou até nossos dispositivos de telefonia móvel.
Diante dessa ingente quantidade de informações coletadas, a aprendizagem automática e a inteligência artificial podem nos oferecer melhorias, por exemplo, na frequência do transporte público ou na regulação do tráfego.
Além disso, não é estranho que controlemos os dispositivos por voz, como uma televisão ou lâmpadas e tomadas domésticas, ou que o nosso carro evite que saiamos da pista ou cheguemos muito perto do veículo da frente, endurecendo a direção ou freando automaticamente para evitar uma colisão.
Devido à hiperconexão, avançamos rumo à busca de redes mais eficientes, sustentáveis e cuidadosas com o ambiente, com maior velocidade e menor latência. Espera-se que o 6G seja 50 vezes mais rápido do que o 5G e que esteja ao nosso alcance depois de 2030. A pergunta que nos fazemos é: o que o futuro nos reserva?
A próxima revolução industrial, a da computação cognitiva, buscará a união do humano, do físico e do digital para tentar imitar o comportamento do cérebro humano.
Os sistemas de aprendizagem automática e o processamento da linguagem natural serão as duas disciplinas mais populares que, por meio do reconhecimento de padrões, permitirão experiências imersivas. Hoje em dia, as empresas que triunfam não são as que oferecem sempre o melhor produto, mas as que oferecem “uma experiência”.
A Ericsson, em seu relatório sobre os consumidores [disponível em espanhol aqui], destaca 10 expectativas relacionadas à internet dos sentidos, destacando que quase 60% acham que o cérebro será a interface do usuário.
Não é estranho o avanço que nos espera quanto à utilização dos sentidos. Nesse aspecto, os consumidores se atrevem a fazer previsões para os diferentes órgãos sensoriais:
1. Visão: a metade dos entrevistados imagina que a diferença entre a realidade física e a digital terá desaparecido quase por completo em 2030, devido a telas holográficas em 3D. Será difícil discernir o real do imaginário.
2. Audição: tradutores instantâneos nos permitirão controlar nosso entorno sonoro. Viajar para o exterior, dar palestras ou trabalhar em outro país não serão mais um problema.
3. Olfato: 6 em cada 10 consumidores esperam poder visitar lugares distantes de forma digital e experimentar os aromas naturais desses lugares. Livros com odores já foram testados no mundo analógico. No digital, tentou-se isso em filmes do cinema dos anos 1960, quando a tecnologia não era tão avançada, além de cara, e a sensação de imersão não era completa. Possivelmente, esse é o maior desafio que enfrentamos, pois somos capazes de processar cerca de 450.000 odores diferentes, uma gama tão vasta que o processo é muito complexo.
4. Paladar: não estamos falando aqui dos trompe-l'œils gastronômicos, mas sim de colocar um dispositivo na boca que melhore digitalmente os alimentos que comemos, para que tudo tenha o sabor exato que queremos ou até para sentir os sabores da nossa infância ou de produtos que já desapareceram.
5. Tato: 6 em cada 10 entrevistados pensam na existência de dispositivos que estimulem os nervos para sentir qualquer objeto ou pessoa em 2030. E que os dispositivos tenham até aquela sensibilidade de força realizada ao pressionar um objeto. Na medicina, por exemplo, poderia ser um avanço significativo conseguir reproduzir em uma tela a sensação de vacinar um braço ou até de operar uma pessoa.
Em suma, a tecnologia avança, e a velocidade das redes de transmissão de dados aumenta. Vivemos um momento de transformação digital em todos os aspectos-chave da vida, que, por exemplo, tornou viável contar com uma vacina contra o coronavírus em menos de um ano, que o mercado de trabalho quase já não faça mais sentido tal como o conhecíamos e que proliferem novas profissões como arquiteto de dados, algo impensável alguns anos atrás.
Voamos para uma imersão absoluta do digital e do físico. Será cada vez mais difícil distinguir entre realidade e ficção. A internet dos sentidos significará avanços na nossa alimentação ou na medicina, que poderá ser preventiva mais do que curativa.
Como aspectos negativos, devemos controlar a segurança dos dados, evitar o vazamento de informações para pessoas indesejadas. Com ações formativas e a difusão dos riscos, controlaremos os perigos e avançaremos para a próxima revolução industrial.
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Da internet das coisas à internet dos sentidos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU