14 Mai 2021
O arcebispo Mark Coleridge, de Melbourne, disse que os dias da Igreja monárquica, autocrática “estão acabados”; expressou confiança no Caminho Sinodal Alemão, e disse que falar de cisma é “ridículo”.
A reportagem é de Robert Mickens, publicada por La Croix International, 07-05-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Papa Francisco não tem ninguém no seu pequeno círculo de conselheiros, conhecido como Conselho de Cardeais, que seja da Oceania.
Embora os outros continentes tenham um assento entre os sete-membros do C7, a vaga da Oceania está desocupada desde outubro de 2018, quando o papa agradeceu ao cardeal australiano George Pell por seus serviços e o removeu do grupo.
Há três cardeais da Oceania que ainda estão abaixo dos 80 anos e que poderia facilmente assumir o lugar de Pell – John Dew, da Nova Zelândia, John Ribat, de Papua-Nova Guiné, e Soane Patita Mafi, de Tonga.
Mas Francisco não escolheu nenhum deles. E nos dois consistórios desde a vacância de Pell, o papa não criou nenhum novo cardeal na Oceania.
Também é muito ruim que o barrete vermelho seja um requisito para preencher o lugar de Pell. Porque se não o fosse, o papa não poderia ter escolha melhor que o arcebispo Mark Coleridge, de Brisbane.
O melbourniano de 72 anos, biblista, é provavelmente o mais brilhante bispo em toda a Oceania. Atualmente o presidente da Conferência dos Bispos Australianos, ele é uma das maiores figuras envolvidas na preparação ao Concílio Plenário do país.
Coleridge recentemente participou com o cardeal Dew e o teólogo britânico Thomas O'Loughlin de um engajada e informativa discussão por vídeo sobre a sinodalidade na Igreja.
A conversa online foi moderada por outro colaborador do La Croix, Joe Grayland, um presbítero e liturgista da Nova Zelândia. Essa faz parte da série chamada, “Flashes de Insight: Conversas sobre e de interesse para a Igreja”.
Todos esses quatro padres ofereceram mais que apenas “flashes” de insight sobre a sinodalidade. Eles também levantaram importantes questões sobre esse novo e nem sempre claro caminho que papa jesuíta empurra a Igreja a tomar.
A sessão durou mais que uma hora e meia, mas pareceu rápida. E funcionou bem o tempo.
Os comentários de Mark Coleridge foram particularmente interessantes e serviram como lembrança do por que ele emergiu, talvez surpreendentemente para alguém que o conhecia há mais tempo, como um dos bispos que abraçou e melhor articulou as esperanças do Papa de uma Igreja sinodal.
Ele reconheceu que a sinodalidade é confusa, é marcada por tensões e requer “uma santa paciência”. Mas ele disse que estava absolutamente convencido de que esse “é o caminho a ser seguido... é o que o Espírito está dizendo para a Igreja hoje”.
Coleridge descreveu esses passos de tentar implementar a sinodalidade como um “momento de conscientização”, o qual está “recentralizando toda a Igreja”. Ele disse que isso está nos chamando “a um novo tipo de fé”, onde todas as vocações estão sendo reconfiguradas, não apenas aquelas relacionadas aos leigos.
O arcebispo disse que “o chamado à sinodalidade é profundamente bíblico”, mostrando-nos que nós somos parte “não-estática, mas em movimento da Igreja” que está continuamente em processo.
“Qualquer conversa sobre ser uma sociedade perfeita é simplesmente... bem, um absurdo”, disse ele.
Ele chamou o Patriarca Abraão de “pai da sinodalidade” e apontou que “estar em jornada” é a metáfora básica da Bíblia.
“É um deslocamento, mudar de um lugar para outro”, disse o arcebispo australiano.
Mas ele alertou que tudo isso tem um preço.
“Isso envolverá decisões dolorosas sobre o que deixaremos para trás e o que assumiremos”, disse ele.
Claro, “a autocracia e o modelo monárquico de Igreja” seriam “mais rápidos e limpos”, admitiu. Mas então, ele disse sem rodeios: “Esses dias acabaram!”.
Coleridge, em total contraste com seu compatriota australiano George Pell, falou positivamente do “Caminho Sinodal” que está atualmente em andamento na Igreja Católica na Alemanha.
“Tenho grande confiança nos alemães e no cardeal Marx”, disse ele.
E embora ele reconhecesse que alguns, especialmente em Roma, expressaram ansiedade sobre o experimento sinodal da Alemanha, ele rejeitou as terríveis advertências e condenações que até mesmo alguns clérigos mais antigos expressaram.
“Toda essa conversa sobre heresia e cisma... Eu só acho, francamente, ridículo”, disse ele.
E foi mais longe ao dizer que, “enquanto houver um diálogo robusto” entre a Alemanha e o Vaticano, o Caminho Sinodal “se revelará um presente não só para a Alemanha, mas para a Igreja em todo o mundo”.
Falando sobre o Concílio Plenário da Austrália, o arcebispo Coleridge disse estar “totalmente convencido” de que a decisão de abrir este processo foi tomada “sob a influência do Espírito Santo”.
“Este é um momento do Espírito. Se isso não for verdade, então só nos resta política e gestão. E nem chega perto de enfrentar este momento de crise que estamos enfrentando. E é uma crise. Não há maneira de contornar isso”, disse ele.
“Minha esperança é que o Espírito surpreenda a todos nós e nos mostre caminhos que não havíamos imaginado”, disse Coleridge.
“Portanto, espero algumas surpresas nas assembleias”, reiterou. “Assim como tivemos surpresas no Concílio Vaticano II – ninguém previu o que, de fato, aconteceu”.
Há muito mais no vídeo. E não apenas de Mark Coleridge. John Dew, Tom O'Loughlin e Joe Grayland dizem coisas importantes que a Igreja precisa ponderar.
E O'Loughlin e Grayland abriram discussões sobre outros tópicos, envolvendo bispos, teólogos e católicos ativos em paróquias, pastorais e outros ministérios.
Eles se juntaram ao projeto “Flashes de Insight” de Michael Kelly, o padre jesuíta australiano que foi fundamental na criação de La Croix International, e John Murphy, um padre marista que é um dos editores do CathNews, da Nova Zelândia.
Se você está procurando um diálogo e uma boa conversa que possa iluminá-lo e ajudá-lo a pensar sobre as questões atuais da Igreja, dê uma olhada em “Flashes de Insight”.
É apenas mais um passo na jornada sinodal.
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Bispos australianos afirmam que não vão parar o impulso do Papa Francisco para a sinodalidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU