10 Fevereiro 2015
Soane Patita Paini Mafi, classe 1961, no Consistório de 14 de fevereiro será criado cardeal: o mais jovem do Colégio. Por que esta escolha? “Posso somente imaginar que o Papa necessita fazer entender que a Igreja é composta por todos os quatro ângulos do planeta”. E ainda: “Nas periferias a Igreja e sua opção pelos pobres pode ser mais bem experimentada e talvez melhor aplicada”.
A entrevista é de Maria Chiara Biagioni, publicada pelo Serviço Informação Religiosa – SIR, 06-02-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Os guias turísticas começam dizendo que “o reino de Tonga é o primeiro lugar no mundo para ver surgir o novo dia”. É um conjunto de ilhas imersas no azul do oceano. Tão pequenas que se tem dificuldade com o zoom para localizá-las com Google Maps. Estamos no Pacífico sud-ocidental, a uns 3 mil quilômetros da costa oriental da Austrália. É nesta parte perdida do planeta, a 13 horas de fuso horário em relação a Roma, que chegou o olhar do Papa Francisco. É aqui que nasceu e cresceu o bispo Soane Patita Paini Mafi. O seu nome aparece, “de surpresa”, na lista dos novos cardeais que o Papa criará no Consistório de 14 de fevereiro. Classe 1961, o cardeal Mafi se torna o membro mais jovem do Colégio cardinalício. Na impossibilidade, por razões de fuso horário, de atingi-lo telefonicamente, a conversação viagem tranquilamente via Internet.
Eis a entrevista.
O que experimentou quando soube que o Papa Francisco tinha escolhido o bispo de Tonga para torná-lo um estrito colaborador seu, elevando-o ao cardinalato?
Recém recebida a notícia, foi difícil acreditar. Depois experimentei ao mesmo tempo surpresa e muita humildade. E por fim me rendi à evidência, procurando vivenciá-la na reflexão e na prece.
Quem lhe deu a notícia?
Recebi-a no telefone de meu irmão mais jovem que vive em San Francisco, nos Estados Unidos: ele me chamou. Em Tonga eram as 4 da manhã. Em Roma ainda era domingo à tarde. Meu irmão recém tinha recebido a notícia do sacerdote de sua paróquia, o qual lhe havia enviado uma mensagem após ter visto a TV.
Por que, segundo você, o Papa Francisco buscou o seu nome, escolheu o bispo de uma ilha tão distante de Roma?
Com efeito, não haveria razões, se a escolha não tivesse sido feita pelo Santo Padre em pessoa. Quero dizer, deve ter havido um motivo. Só posso imaginar que provavelmente o Papa esteja buscando fazer o ponto e, para fazê-lo, necessita fazer entender que a Igreja é composta por todos os quatro ângulos do planeta e não só por uma parte dele. Talvez seja o modo de mostrar quanto Ele queira fazer conhecer esta realidade autêntica da Igreja que é o Corpo Místico de Cristo. Em outras palavras, o Papa está procurando fazer entender o que provavelmente parece ser ainda pouco familiar a muitas pessoas e isto é a existência dos ‘pequenos’ e o fato que estes ‘pequenos’ podem dar uma contribuição e fazer-se reconhecer.
Nos faça, então, conhecer como é a Igreja de Tonga. Como pode ajudar a Igreja universal e a Igreja de Roma a crescer na fé e na santidade?
Precisamente como nos tempos de Jesus, também os pobres e os pequenos podem ensinar-nos algo sobre a natureza do Reino de Deus. Por exemplo, a viúva pobre que doa tudo o que tem; ou então as crianças que eram felizes de serem simplesmente elas mesmas e acorriam em torno de Jesus, embora fossem retidos pelos Apóstolos. Creio, então, que seja a idéia de viver um estilo de vida simples, ser humildes e ser felizes por aquilo que já temos dado; em outras palavras, ser quem somos – pobres, débeis e vulneráveis como seres humanos – e, todavia plenos de confiança e grande amor e respeito por Deus como Criador e como Aquele que provê às nossas necessidades. O nosso povo também tem um profundo sentido de proximidade à natureza, ao ambiente natural em que vive, circundado por uma beleza de paisagens, tanto na terra como no mar. Além disso, o nosso povo cresceu com a idéia e um modo de compreender a si mesmos como ‘recebedores’ de um DM de um ‘Doador’ que é o próprio Deus. Isto significa, portanto, não ser aquele que controla, mas aquele que faz parte de um dom recebido. Geralmente, ademais, o nosso é um povo muito unido. Dependem uns dos outros e isso conduz naturalmente à partilha e á ajuda em caso de necessidade. Creio que este espírito de comunhão entre os membros pode ser um bom modelo para todos verem e viverem.
Quanto é importante que as Igrejas de periferia possam ter mais voz na Igreja?
Para mim é muito importante porque frequentemente as periferias são habitadas por pobres e pelos marginalizados e na periferia estas pessoas podem ser vistas, escutadas e encontradas. Quero dizer que nestes ambientes e nestas condições, a Igreja e sua opção preferencial pelos pobres podem ser mais bem experimentadas e talvez melhor aplicadas. A voz destas Igrejas fala em nome e em representação dos pobres. Como mais vezes o Santo Padre exortou a Igreja durante o seu pontificado e guia pastoral, devemos dar maior atenção ao grito dos pobres.
Que coisa dirá ao Papa Francisco quando, em breve, o encontrar em Roma?
Obrigado, Santo Padre, por haver colocado sua confiança num humilde servo. E depois provavelmente lhe direi: quando virá à Oceania e ao Pacífico?.
Nota da IHU On-Line: A fonte da imagem é www.bebo.com
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De Tonga a Roma para levar “o clamor dos pobres” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU