22 Dezembro 2020
"O Natal deste ano, em tempos de pós-modernidade, poderá vir a ser o mais próximo do evento original. Um vírus, do qual pouco se conhece, virou o mundo de cabeça pra baixo, alterou comportamentos e impôs cuidados jamais previstos. Ele nos transporta para um Natal reflexivo, simples, restrito, mais espiritualizado e menos consumista", escreve Edelberto Behs, jornalista, que atuou na Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil – IECLB de 1974 a 1993, como repórter e editor do Jornal Evangélico e depois como assessor de imprensa.
Eis o artigo.
Maria e José partiram de Nazaré, na Galileia, para Belém, na Judeia, para cumprir determinação imperial romana de se recensearem. Maria estava grávida, portanto, enfrentou uma viagem de risco. Chegando a Belém, ela teve a bolsa rompida. Procuraram um local para se alojarem, mas “não havia lugar para eles na hospedaria”, relata Lucas.
O casal viu um nascimento sem grande assistência. O menino foi acomodado em palha, em simplicidade, talvez em cocho que serviu de manjedoura numa estrebaria qualquer, cedida por bondade de seu dono, sob os olhares de vacas, cavalos, ovelhas e aves. A letra de “Noite Feliz”, um dos hinos mais entoados no Natal, leva na versão original no alemão o nome de “Stille Nacht, heilige Nacht” – Noite silenciosa, noite sagrada.
A “viagem” da humanidade também enfrenta riscos, como mostram as estatísticas mundiais sobre pessoas falecidas e infectadas por esse poderoso vírus covid-19. Sem mudanças radicais em comportamentos e nas economias que têm na natureza uma fonte inesgotável de energia e de insumos para produtos em boa parte supérfluos, que requerem um desmatamento sem fim e geram lixo em toneladas, talvez venha a não ter mais lugar para o homo sapiens na hospedaria chamada planeta Terra.
A noite silenciosa deste ano convida para um Natal simples como foi a estrebaria que acolheu o casal e a Criança. Convida para uma celebração espiritual restrita à família, sem aquela ânsia de consumo para preencher a base da árvore natalina de presentes. A noite silenciosa deste ano convida para aquela reflexão universal, existencial, “o que estamos fazendo, para quem estamos fazendo, qual é, afinal, a nossa parte e papel nesta passagem entre o nascer e o morrer?”
A noite silenciosa convida a conhecer pessoas como pastores, gente humilde, donos de estrebarias, aqueles e aquelas que são “outros” e “outras” para um convívio harmônico, civilizado, nada interesseiro, muito menos de agressividade voltado a conquistas para subjugar povos e nações. Quem sabe a Estrela de Belém também se apresente no Natal de 2020 trazendo “magos” com drogas poderosas que afastem de uma vez por todas a gente do mal que tanto causa terror à saúde da humanidade.
Também por isso o Natal de 2020 estará mais próximo do evento original: porque ele traz doses de esperança e reforça a promessa de salvação. Que alcancemos a paz de espírito numa noite silenciosa e sagrada, recebendo a Criança em adoração, em simplicidade e em humildade.
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Um Natal bem próximo do original - Instituto Humanitas Unisinos - IHU