22 Dezembro 2020
"Não digamos que neste ano será um Natal sem festa, mas sim um Natal diferente, desprovido de alguns elementos de contorno, e aproveitemos a oportunidade para vivê-lo realmente, senão na companhia de todos aqueles que gostaríamos de ter ao nosso lado, pelo menos com os nossos entes queridos, com aqueles que moram conosco", escreve Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 21-12-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Já chegamos ao Natal, uma festa esperada há algumas semanas de uma forma diferente dos anos anteriores: muita incerteza sobre onde e como será possível vivê-la e muita impaciência em pretender conhecer o que os decretos do governo vão estabelecer criaram em muitos um incômodo e um senso de revolta contra os limites ditados pela persistência da pandemia.
Ouvimos anúncios realmente tolos: Natal sem festa, Natal abandonado e resignado, Natal triste... Isso me levou a me perguntar várias vezes o que torna o Natal uma festa e o que, pelo contrário, o contradiz, o impede.
Embora assumindo significados diferentes para os cristãos e para os não cristãos, o Natal continua sendo uma oportunidade de festa. Para os cristãos, é a memória do nascimento de Jesus ou, melhor, da vinda de Deus entre nós na carne frágil e mortal que nós somos. A partir daquele dia, não se pode mais dizer Deus sem a humanidade, nem a humanidade sem Deus, e essa realidade inédita, impensável, dá aos cristãos a convicção – não o conhecimento – de que a morte e o mal não são a última palavra. Esse é o fundamento do Natal cristão.
Para quem não conhece a aventura da fé cristã, o Natal continua sendo uma festa da intimidade, uma possibilidade de degustar os afetos e de um pouco de tempos juntos, celebrando a vida. Para todos, o Natal significa viver alguns dias de modo particular, conhecendo e degustando o sentido de gratuidade de que todos precisamos: gratuidade de se sentir amado, gratuidade de estar juntos, gratuidade de atenção, olhares e palavras trocados na alegria e de dizer sim à vida.
Certamente, não devem ser esquecidos aqueles que, por causa da doença, da solidão e da miséria, não vivem nada do Natal, porque não tem ninguém que, naquele dia, possa lhes fazer uma carícia, abraçá-los e dizer: “Estamos juntos!”.
Por outro lado, devemos lembrar também que sempre há homens e mulheres que não conseguem celebrar o Natal como gostariam, devido ao trabalho que não pode ser negligenciado: médicos, enfermeiros, forças da ordem, trabalhadores dedicados a serviços essenciais e contínuos.
Portanto, não digamos que neste ano será um Natal sem festa, mas sim um Natal diferente, desprovido de alguns elementos de contorno, e aproveitemos a oportunidade para vivê-lo realmente, senão na companhia de todos aqueles que gostaríamos de ter ao nosso lado, pelo menos com os nossos entes queridos, com aqueles que moram conosco.
Um almoço preparado com amor é uma confissão feita aos comensais: “Eu lhes quero bem”. Um almoço compartilhado na alegria significa: “Eu me sinto bem com vocês”. E a troca de presentes é o reconhecimento de que eu aceito o presente do outro, o presente que é o outro, portanto reconheço que não posso ficar sem ele.
Precisamos viver um Natal autêntico, que seja, em todo o caso, uma celebração dos afetos e uma epifania dos amores que vivemos.
Desejar Feliz Natal significará, assim, desejar muito amor vivido na alegria.
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As palavras certas sobre um Natal diferente. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU