07 Dezembro 2020
O Advento é o tempo em que os fiéis são convidados a se preparar para a vinda do Senhor, um tempo alimentado pela espera e pela esperança. Com o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura e da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sagrada, interrogamo-nos sobre o sentido dessa espera, para entender se ainda sabemos buscar a Deus no nosso cotidiano, trazendo no coração a urgência da vinda de Cristo.
A entrevista é de Sabinia Baral, publicada por Riforma.it, 04-12-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A etimologia da palavra “esperar” [attendere] expressa uma “tensão para”, uma atitude ativa e não passiva por parte do fiel. Como pode ser mantido vivo o desejo ardente da fé?
O verbo “tender” [tendere] pode ter uma conotação positiva quando indica uma atitude criativa por parte do fiel, uma espécie de projeção para o horizonte, o exato oposto da indiferença que, com a sua mão gélida, se ramifica não só na sociedade, mas também na vida de quem crê. Da mesma forma, a tensão tem uma conotação negativa quando se torna um elemento de medo, preocupação, fechamento, como a Covid nos ensina. A palavra “tendência” também é ambivalente: pode indicar a busca constante de uma nova direção, mas pode degenerar e se reduzir a uma simples orientação comum e social. Há também o risco para a fé e sobretudo para a religião: estas não devem ser apenas uma tendência, mera inscrição ideal em uma Igreja, mas devem reencontrar a pureza e a força de uma tensão para o horizonte fundamental do crer.
A espera implica paciência. Ainda somos capazes de exercer essa virtude hoje?
As palavras são criaturas vivas, expressão de profundidade interior e devem ser ouvidas. A etimologia latina da palavra remete ao sofrimento, porque a paciência exige esforço, constância, mas também ética e moralidade, isto é, um compromisso pessoal e existencial. A sua irmã mais velha é a esperança que, por sua vez, é a irmã mais nova da fé e da caridade. Ao lado dessas virtudes, eu colocaria a mansidão, que Norberto Bobbio, testemunha secular, dizia que é a virtude mais 'impolítica'. Nestes tempos de forte agressividade, reencontrar a paciência também significa recuperar a mansidão, aquele respeito pelo outro que é uma variante do amor.
Deus que vem à terra por meio de Cristo continua sendo um fato surpreendente. O senhor não acha que domesticamos esse evento, em vez de conservar o frêmito que surge de um evento tão desmedido?
A religião bíblica é substancialmente uma religião histórica e nos ensina que Deus atua por debaixo das pedras, por debaixo do solo da história. Basta pensar nos quadros de Chagall, em que os anjos saem das chaminés das casas, e os profetas se reencontram na praça: a cotidianidade é epifania, epifania oculta. A Encarnação, o Verbo que se faz carne, é o ápice dessa historicidade, e a redescoberta dessa presença deve ser feita sempre. Uma presença que pode ser solene, mas que, na maioria das vezes, é uma presença secreta. Então, para encontrá-la, precisamos de estupor, aquele dom humano extraordinário que consegue encontrar o bulbo do divino dentro da história. O grande apelo que devemos dirigir, como fiéis, a esta sociedade é precisamente este: reencontrar o germe divino em uma história reduzida a mera nomenclatura de eventos.
O Natal encontra o cumprimento do seu sentido na Páscoa da ressurreição. Como cristãos, ainda estamos cientes disso e sabemos dizer isso ao mundo?
A narração do nascimento de Jesus que nos é oferecida nos Evangelhos de Lucas e Mateus já está manchada de sangue, basta pensar em Jesus como um refugiado. Na arte dos ícones russos, a “escola de Novgorod”, a partir do século XV-XVI, também representou o nascimento de Cristo não em um berço, mas em um sepulcro, o sepulcro da ressurreição. Devemos reiterar a união profunda da cruz com o próprio nascimento, sem esquecer que logo aparece a luz da ressurreição. Os magos não encontram mais Jesus em uma gruta, mas em uma espécie de sala do trono onde Ele já é o Cristo glorioso.
Infelizmente, hoje, as Igrejas entraram na história sem a capacidade de linguagem e de comunicação que, por exemplo, o apóstolo Paulo teve ao retranscrever completamente a mensagem cristã por meio da língua e da cultura da época.
As Igrejas não são mais nem capazes de testemunhar e de ter consciência da sua própria minoria. Ser minoria não é uma punição, mas é ser semente, fermento, sal como dizia Jesus a respeito da massa. E esse é um grande apelo para o Natal: ser consciente de ser minoria, mas saber reencontrar dentro de nós mesmos a energia do Reino de Deus, aquela sementinha que pode crescer e se tornar a árvore gigantesca sobre a qual os pássaros do céu podem pousar.
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Natal: ser minoria não é castigo. Entrevista com Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU