13 Novembro 2019
Sacerdotes e intelectuais católicos laicos assinam um documento condenando o Pontífice por ritos pagãos e idólatras permitidos na Igreja e por assinar o "Documento sobre a Fraternidade Humana": "Ele precisa se arrepender pelos graves pecados".
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 12-11-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Provavelmente insatisfeitos com a repercussão recebida pelo documento de abril passado, através do qual eles chamavam os católicos para tomar uma posição contra o Papa Francisco definido "herético" por usar pastorais bifurcadas e cruzes tortas com as cores do arco-íris, os grupos midiático-político-culturais de viés conservador voltam a atacar o Pontífice argentino. Eles fazem isso com uma nova coleta de assinaturas que deseja condenar "os atos sacrílegos e supersticiosos" que Bergoglio teria cometido durante o recente Sínodo sobre a Amazônia e também alertar os crentes que seguem o Papa contra o risco de "danação eterna".
Quem coloca sua assinatura no documento, escrito em sete idiomas e assinado em 9 de novembro - mas difundido nesta terça-feira por vários canais da galáxia anti-Francisco - são padres, estudiosos e intelectuais católicos leigos. Nomes que já haviam aderido a iniciativas anteriores contra o Papa (da Correctio filialis em diante). Juntamente com eles, neste caso, estão envolvidos outros filósofos, historiadores, jornalistas e até uma princesa: ao todo são cem signatários que citam a favor de sua tese o cardeal Raymond Leo Burke, considerado o líder da oposição ao atual pontificado, signatário dos "Dubia" sobre a Amoris laetitia, junto com o cardeal Walter Brandmüller (também citado), o bispo auxiliar de Astana Athanasius Schneider e o indefectível monsenhor Carlo Maria Viganò, ex-núncio nos EUA que, há alguns meses, pedia a renúncia do Papa devido à sua má gestão dos casos de abusos.
O pomo da discórdia, a pedra do escândalo ou gota que entornou o copo, é a Pachamama, a estátua de madeira que representaria a Mãe Terra, exposta durante a cerimônia do Sínodo nos Jardins do Vaticano, em 4 de outubro e depois na Paróquia romana de Santa Maria em Traspontina, a poucos passos de São Pedro, como parte de uma exposição sobre os povos indígenas. A estátua ficou famosa depois que dois homens entraram furtivamente na igreja de manhã cedo, a roubaram e a jogaram no Tibre como um sinal de reparação a Jesus, como teve a oportunidade de explicar o jovem austríaco que recentemente se manifestou no YouTube confessando ser o autor do furto. O gesto, resultado de uma campanha pesada conduzida por vários blogs e sites tradicionalistas, como o estadunidense LifeSiteNews (entre os cem signatários do documento em questão também figura o fundador do portal), foi estigmatizado por Francisco, que pediu "perdão" a quem se tenha sentido de alguma forma ofendido.
Justamente o pedido de desculpas do Papa estão no centro das críticas no documento. “Em 4 de outubro – consta no texto - o Papa Francisco participou de um ato de adoração idólatra da deusa pagã Pachamama. Ele permitiu que esse culto acontecesse nos Jardins do Vaticano, profanando assim a proximidade dos túmulos dos mártires e da igreja do apóstolo Pedro. Ele participou desse ato de adoração idólatra abençoando uma imagem de madeira da Pachamama”.
“Em 7 de outubro - continua o texto, definido “de protesto” pelos próprios autores - o ídolo da Pachamama foi colocado em frente ao altar maior de São Pedro e depois levado em procissão ao Salão do Sínodo. O Papa Francisco recitou orações durante uma cerimônia que envolveu essa imagem e depois se juntou a essa procissão. Quando as imagens de madeira dessa divindade pagã foram removidas da igreja de Santa Maria em Traspontina, onde haviam sido colocadas de forma sacrílega e jogadas no Tibre por alguns católicos ultrajados por essa profanação da igreja, o Papa Francisco, em 25 de outubro, pediu desculpas para sua remoção e uma nova imagem de madeira da Pachamama foi recolocada na igreja. Dessa maneira, começou mais uma profanação”.
Mas entre os "pecados graves" atribuídos ao Papa não há apenas a "idolatria da deusa pagã", mas também a assinatura e interpretação do "Documento sobre a Fraternidade Humana" que o Pontífice assinou em 4 de fevereiro em Abu Dhabi com o grande imã de Al-Azhar, a mais alta autoridade teológica islâmica. "Essa declaração - ressaltam os signatários – afirmava que ‘o pluralismo e a diversidade de religiões, cor, sexo, raça e linguagem são desejados por Deus em Sua sabedoria, através da qual ele criou os seres humanos. Essa sabedoria divina é a fonte da qual deriva o direito à liberdade de credo e a liberdade de ser diferentes’. O envolvimento do Papa Francisco em cerimônias idólatras indica que ele pretendia dar a essa afirmação um sentido heterodoxo, que permite que a adoração pagã de ídolos seja considerada um bem desejado por Deus em um sentido positivo".
Além disso, "respondendo à pergunta ‘por que Deus permite tantas religiões?’, ele fez referência à ‘vontade permissiva de Deus’, como explicado pela teologia escolástica, mas deu ao conceito um significado positivo, declarando que ‘Deus quis permitir isso porque, embora existam tantas religiões, elas ainda olham para o céu, olham para Deus’. Não existe a menor referência ao conceito de que Deus permita a existência de falsas religiões - se destaca - da mesma maneira em que se permite a existência do mal em geral. Aliás, a clara implicação é que Deus permite a existência de tantas religiões porque elas são boas ...”.
O texto continua com o apelo a "Deus Todo-Poderoso para poupar os membros culpados de Sua Igreja na terra, o castigo que eles merecem por esses terríveis pecados". E conclui com o pedido ao Papa "de arrepender-se publicamente e sem ambiguidades, desses pecados objetivamente graves e de todas as transgressões públicas que ele cometeu contra Deus e a verdadeira religião, e reparar esses ultrajes". Por fim não falta um apelo a "todos os bispos da Igreja Católica" para endereçar "uma correção fraterna ao Papa Francisco por esses escândalos" e "advertir seus rebanhos que, com base no que é afirmado pelo ensinamento da fé católica divinamente revelado, se seguirem o atual Papa na ofensa ao Primeiro Mandamento, correm o risco da danação eterna”.
Portanto, uma nova acusação contra Jorge Mario Bergoglio, como outras que lá ocorreram de várias formas durante esses seis anos e meio de pontificado. Diante disso, retornam à memória as palavras do cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, proferidas durante um dos briefings diários do Sínodo no Vaticano: "Ser papa significa ser criticado, mas também amado, admirado por tantas pessoas no mundo", havia dito em resposta a uma pergunta sobre os ataques ao Pontífice. "Há um bilhão e duzentos milhões de católicos no mundo que todos os domingos rezam por este Papa... Isso, para mim, é muito mais significativo."
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Um novo documento anti-Francisco com cem assinaturas: “Atos sacrílegos durante o Sínodo, precisa se arrepender” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU