Zombar ou invocar? Comentário de José Antonio Pagola

Foto: Ilona Frey/Unplash

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18 Novembro 2025

Eles estão zombando do homem mais humano da história. Qual é a postura mais digna diante deste Crucificado, a suprema personificação da proximidade de Deus com o sofrimento do mundo: zombar dele ou invocá-lo?

O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, ao Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 23, 35-43, que corresponde ao 34º Domingo do Tempo Comum, ciclo c do Ano Litúrgico, publicado por Religión Digital, 17-11-2025.

Eis o comentário.

Lucas descreve com ênfase trágica a agonia de Jesus em meio ao escárnio e zombaria daqueles que o cercavam. Ninguém parece compreender seu sacrifício. Ninguém captou seu amor pelos mais vulneráveis. Ninguém viu em seu rosto o olhar compassivo de Deus para com a humanidade.

De longe, as "autoridades" religiosas e o "povo" zombam de Jesus, fazendo caretas: "Ele salvou outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias." Os soldados de Pilatos, vendo-o com sede, oferecem-lhe vinho avinagrado, muito apreciado entre eles, enquanto riem dele: "Se você é o rei dos judeus, salve-se a si mesmo." Um dos criminosos crucificados ao lado dele diz a mesma coisa: "Você não é o Messias? Então salve-se a si mesmo."

Lucas repete a zombaria três vezes: “Salve-se a si mesmo!” Que tipo de “Messias” pode ser esse se não tem poder para se salvar? Que tipo de “rei” pode ser? Como pode salvar seu povo da opressão de Roma se não consegue escapar dos quatro soldados que observam seu sofrimento? Como Deus pode estar do seu lado se não intervém para libertá-lo?

De repente, em meio a toda a zombaria, surge um apelo: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. É o outro criminoso que reconhece a inocência de Jesus, confessa a sua culpa e, cheio de confiança no perdão de Deus, pede apenas que Jesus se lembre dele. Jesus responde imediatamente: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Agora ambos estão morrendo, unidos na impotência e no desamparo. Mas hoje ambos estarão juntos, desfrutando da vida do Pai.

O que seria de nós se o mensageiro de Deus buscasse sua própria salvação escapando da cruz que o liga para sempre a todos os crucificados ao longo da história? Como poderíamos acreditar em um Deus que nos deixaria atolados em nosso pecado e impotentes diante da morte?

Há quem zombe do Crucificado ainda hoje. Não sabem o que fazem. Não fariam isso com Martin Luther King. Estão zombando do homem mais humano que a história já conheceu. Qual a postura mais digna em relação a este Crucificado, a suprema personificação da proximidade de Deus com o sofrimento do mundo: zombar dele ou invocá-lo?

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