Foto: Cristo Pantocrator, de Claudio Pastro
“'Ele é a imagem do Deus invisível'. 'Ele existe antes de todas as coisas'. 'Ele é a Cabeça do corpo, isto é, da Igreja'. 'Ele é o Princípio' (Cl 1, 15-18). Esse linguajar soa bastante filosófico, mas é, fundamentalmente, dogmático porque trata da dimensão do mistério trazida à tona pelo Espírito Santo".
O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestra em Filosofia pela Unisinos e mestra em Teologia pela PUCRS.
Neste domingo, a Igreja celebra a solenidade de Cristo Rei do Universo e encerra o ano litúrgico. Nos próximos dias, vamos percorrer o caminho do Advento, em preparação para o nascimento Daquele que É. Aliás, esse modo de apresentação assemelha-se ao de São Paulo, na Carta aos Colossenses, própria para esta celebração. O “apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus”, que viu o Senhor ressuscitado, nos diz:
“Ele é a imagem do Deus invisível”. “Ele existe antes de todas as coisas”. “Ele é a Cabeça do corpo, isto é, da Igreja”. “Ele é o Princípio” (Cl 1, 15-18).
Esse linguajar soa bastante filosófico, mas é, fundamentalmente, dogmático porque trata da dimensão do mistério trazida à tona pelo Espírito Santo. Em outras palavras, são as verdades divinamente reveladas e proclamadas pela Igreja. Em suma, referem-se à proclamação do acontecimento único da salvação em Jesus Cristo e das formulações decorrentes desse fato histórico.
Mas as palavras de Paulo também lembram as associações de Peter Kreeft, professor de filosofia na Boston College e na King’s College, de Nova York, que escreve sobre Jesus numa chave de leitura filosófica. Em The philosophy of Jesus, publicado em português com o título Jesus, o maior filósofo que já existiu, Kreeft retoma as quatro perguntas perenes da filosofia sobre as quais se ocupam a metafísica, a epistemologia, a antropologia filosófica e a ética, para falar sobre a pessoa de Jesus:
“1. O que é? O que é real? Em especial, o que é mais real?
2. Como podemos saber o que é real e, em especial, o que é mais real?
3. Quem somos nós, quem quer conhecer o real? ‘Conhecer a si mesmo’.
4. O que deveríamos ser, como deveríamos viver para sermos mais reais?”
Enquanto os filósofos se debruçam sobre a formulação de diferentes respostas para essas questões, um cristão, diz o professor, tem uma “uma única resposta adequada e final para as quatro perguntas”: Cristo.
Dessa resposta emerge outra pergunta que tem ocupado diversos pesquisadores: quem é Jesus? A réplica de Kreeft não deixa de ter um tom irônico e bem-humorado:
“Ele não era gnóstico, nem da Nova Era. Ele não era modernista, nem humanista secular. Ele não era marxista, nem socialista. Ele não era filósofo platônico. Ele não era panteísta brâmane. Ele não era ariano racista. Ele não era assistente social, nem psicólogo pop, nem mito pagão, nem mágico. Ele não era democrata nem republicano; na verdade, ele não era norte-americano. Ele não era libertário, nem monarquista; não era anarquista, nem radical e, tampouco, neoconservador. Ele não era um homem medieval nem moderno. Ele era judeu. (…) E Ele lhes disse seu nome: ‘Eu Sou’”.
Eu, explica o professor, “é o nome de uma pessoa, não de uma força. Deus é um ser, e não algo”.
As quatro perguntas filosóficas também podem ser respondidas à luz da Carta de São Paulo. Não vamos aqui detalhar cada uma delas, mas enfatizar aquela que parece mais difícil de ser vivida, inclusive entre nós, cristãos, sobre o agir humano:
“(…) revesti-vos de sentimentos de compaixão, de bondade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos mutuamente, se alguém tem motivo de queixa contra o outro; como o Senhor vos perdoou, assim também fazei vós. Mas sobre tudo isso, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. E reine nos vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados em um só corpo. E sede agradecidos” (Cl 3, 12-15).
Que neste domingo, em que celebramos Cristo Rei do Universo, possamos viver as palavras proclamadas pelo apóstolo: “Com alegria dai graças ao Pai, que vos tornou capazes de participar da luz, que é a herança dos santos” (Cl 1,12).