O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, ao Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 21,5-19, que corresponde ao 33º Domingo do Tempo Comum, ciclo c do Ano Litúrgico, publicado por Religión Digital, 10-11-2025.
Esta é a última visita de Jesus a Jerusalém. Alguns dos que o acompanham maravilham-se com "a beleza do templo". Jesus, por outro lado, sente algo muito diferente. Seus olhos proféticos enxergam o templo de forma mais profunda: naquele lugar magnífico, o reino de Deus não é bem-vindo. É por isso que Jesus declara que tudo está acabado: "Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra; tudo será derrubado".
De repente, suas palavras destruíram o autoengano que permeava os arredores do templo. Aquele esplêndido edifício alimentava uma falsa ilusão de eternidade . Aquela maneira de praticar a religião sem abraçar a justiça de Deus ou ouvir os clamores dos que sofrem era enganosa e passageira: "Tudo será destruído".
As palavras de Jesus não brotam da raiva. Muito menos do desprezo ou do ressentimento. O próprio Lucas nos conta, um pouco antes, que, ao se aproximar de Jerusalém e ver a cidade, Jesus "chorou". Seu choro é profético. Os poderosos não choram. O profeta da compaixão, sim.
Jesus chora diante de Jerusalém porque ama a cidade mais do que qualquer outra pessoa. Ele chora por uma "velha religião" que não se abre ao reino de Deus. Suas lágrimas expressam sua solidariedade com o sofrimento de seu povo e, ao mesmo tempo, sua crítica radical a esse sistema religioso que impede a visita de Deus: Jerusalém — a cidade da paz! — "não sabe o que conduz à paz", porque "está oculto aos seus olhos".
As ações de Jesus lançam luz considerável sobre a situação atual. Às vezes, em tempos de crise como os nossos, a única maneira de pavimentar o caminho para a renovação criativa do Reino de Deus é pôr fim àquilo que alimenta uma religião ultrapassada, incapaz de gerar a vida que Deus deseja trazer ao mundo.
Pôr fim a algo que foi vivido sagradamente durante séculos não é fácil. Não se faz isso condenando aqueles que querem preservá-lo como eterno e absoluto. Faz-se isso "com lágrimas", porque as mudanças exigidas pela conversão ao Reino de Deus causam sofrimento a muitos. Os profetas denunciam o pecado da Igreja com lágrimas.