12 Novembro 2025
O agravamento da crise climática vai potencializar, cada vez mais, os problemas de saúde pública, globalmente, devendo afetar, mais fortemente, as populações mais vulneráveis. Essa vinculação direta entre as duas agendas globais foi enfatizada nas palavras de ordem e nos posicionamentos dos manifestantes que participaram nesta terça-feira (11) da Marcha pela Saúde e Clima. Ao longo de 1,5 quilômetro, a mobilização envolveu profissionais de saúde, ambientalistas, representações indígenas e outros movimentos sociais. Por onde passava, a manifestação despertava interesse de moradores. Enquanto alguns observavam das portas e janelas das suas casas, outros se juntavam ao protesto pacífico.
A reportagem é de Elizabeth Oliveira, publicada por ((o))eco, 11-11-2025.
Em depoimentos de convidados que subiram ao veículo que animou a mobilização, assim como nas faixas e cartazes dos manifestantes, alertas buscaram sensibilizar a opinião pública sobre as ameaças potencializadas pela devastação da natureza e o avanço de atividades incompatíveis com os esforços globais de estabilização climática, presentes nas discussões e deliberações da COP 30.
Para a ativista e liderança indígena, Auricélia Arapium, por exemplo, a luta em defesa da saúde “deve ouvir os povos da floresta”. Na região do Baixo Tapajós, onde vivem 14 povos indígenas, “tentam nos calar todo dia”, “mas não seremos silenciados”, reafirma.
Ainda segundo ela, nessa região, onde tem atuado fortemente em defesa de modos de vida e da floresta de pé, a mineração ilegal contamina os rios e igarapés com o uso de mercúrio e o agronegócio causa altos impactos na saúde das comunidades pela expansão que avança sob territórios de populações tradicionais e pelo uso intensivo de agrotóxicos.
Ao longo da marcha, faixas e cartazes apresentavam posicionamentos contrários à exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas, cuja etapa de pesquisa já foi autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Também defendiam o fim do desmatamento e o fortalecimento do protagonismo indígena na luta contra a crise climática. “A resposta somos nós” estampou inúmeros materiais de protesto levados por grupos indígenas que cantaram, dançaram e buscaram expressar seus desejos de reconhecimento pelas contribuições em defesa da natureza para o bem-estar da sociedade.
Por volta de 19h15, pouco antes da dispersão da marcha, que percorreu parte da Avenida Duque de Caxias, no Marco, dezenas de manifestantes deixaram de seguir o veículo que animava a mobilização e havia desviado dessa via para uma rua transversal. O locutor insistiu para que o grupo retornasse para o fechamento dessa atividade, mas muitas pessoas saíram correndo em direção à Zona Azul, sede oficial da COP30, onde posteriormente houve um confronto com a força de segurança local. O episódio começou a gerar repercussão ainda na noite desta terça-feira.
“Qualquer movimentação, qualquer manifestação, que não esteja alinhada com o movimento indígena, com a APIB (…) e tantas outras organizações indígenas que fazem parte desta grande rede do movimento indígena, não é parte deste movimento indígena que nós queremos trazer que é ordeiro. Algumas instituições estão tentando passar uma imagem de que o movimento indígena vem para fazer baderna, bagunça neste espaço (…). O movimento indígena está aqui sabendo do espaço que nós estamos, sabendo do que viemos fazer e queremos continuar arrancando esses compromissos de todos. O que queremos é ser a resposta deste processo, pois a resposta somos nós. Demarcação já”, declarou Kleber Karipunã, liderança de base da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
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