10 Novembro 2025
Bom dia de Baltimore, onde os bispos dos Estados Unidos iniciam hoje sua assembleia plenária. A maioria chegou durante o fim de semana, quando os vários comitês da conferência realizaram suas reuniões preparatórias; alguns chegaram apenas ontem à noite.
A informação é de Michael Sean Winters, publicada por National Catholic Reporter, 10-11-2025.
Caso você tenha perdido, publiquei recentemente uma coluna sobre a necessidade de nova liderança na Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, e outra analisando a disputa pela presidência da conferência.
Como nos últimos anos, os bispos começarão hoje em sessão executiva fechada à imprensa. Meu colega, o jesuíta pe. Tom Reese, considera um “escândalo” que metade do encontro anual ocorra a portas fechadas. “Os bispos estão admitindo que não podem, em público, discutir livre e francamente temas centrais do pontificado do Papa Francisco: sinodalidade, Laudato si’ e o apostolado dos leigos.” É frustrante para nós da imprensa, sem dúvida, mas os sínodos também foram fechados à mídia por Francisco. De fato, poucas coisas prejudicam mais a sinodalidade do que oradores que falam para as câmeras. E já observei que as tentativas de grupos de interesse em influenciar as discussões episcopais são o oposto da sinodalidade.
Neste ano, uma grande nuvem paira sobre o encontro. As ações draconianas de repressão à imigração perpetradas pelo governo Trump espalharam medo entre a comunidade imigrante — muitos deles católicos. Dom Kevin Rhoades, de Fort Wayne–South Bend, presidente do Comitê de Liberdade Religiosa da conferência episcopal e consultor da Comissão de Liberdade Religiosa do presidente Donald Trump, fez uma rara crítica ao governo por não permitir que ministros levassem a comunhão a imigrantes detidos em Chicago.
Os bispos devem decidir como enfrentar o enorme e pernicioso problema que aflige tantos migrantes. Imigração e aborto há muito tempo são as duas causas que mais unem a conferência, e espera-se uma declaração contundente de Dom Timothy Broglio em seu discurso presidencial — e talvez um comunicado do conjunto dos bispos. Mais importante, porém, será o grau de compromisso em agir concretamente para proteger os migrantes — por exemplo, acompanhando-os nas audiências judiciais obrigatórias, um gesto de testemunho e proteção iniciado por Dom Michael Pham, bispo de San Diego.
Em 10 de outubro de 2025, o Papa Leão XIV recebeu no Vaticano os representantes da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos: o pe. Michael Fuller (secretário-geral), dom William E. Lori (vice-presidente), dom Timothy P. Broglio (presidente) e o pe. Paul Hartmann (secretário-geral adjunto).
Se há uma nuvem sobre o encontro deste ano, há também um arco-íris. Todos os anos, a reunião começa com uma mensagem de solidariedade ao papa. Desta vez, pela primeira vez, os bispos enviarão essa mensagem a um pontífice que também possui passaporte norte-americano.
Os norte-americanos estão acostumados a ouvir as palavras de um papa por meio de intérprete. Agora, podem ouvi-las diretamente de sua boca. Isso representa uma enorme oportunidade para a evangelização da Igreja. Esse ponto surgiu num painel do Boisi Center do Boston College, em comemoração ao 25º aniversário do centro, onde mencionei a resposta do Santo Padre a uma pergunta sobre a polêmica em torno da decisão do cardeal Blase Cupich de conceder um prêmio ao senador Richard Durbin. O que Leão XIV disse não foi diferente do que Francisco teria dito, mas ouvimos de seus próprios lábios, em inglês americano. Soou diferente — mais direto, mais abrangente — e alcançou além da imprensa católica.
Leão XIV indicou que pretende conduzir a Igreja Católica essencialmente na direção traçada por Francisco, incluindo os esforços para torná-la mais sinodal. Às vésperas do sínodo de 2024, D. Robert Barron sugeriu que a Igreja nos EUA já era muito sinodal. Ele escreveu: “Por exemplo, [o documento de trabalho] pede o desenvolvimento, em toda a Igreja internacional, de conselhos pastorais leigos, conselhos financeiros, diversos órgãos de prestação de contas etc. Um ponto que destaquei na primeira rodada do sínodo é que, em nosso país, a maioria dessas instituições ‘sinodais’ já existe.” Ou seja, nada mais a fazer.
Mas o Santo Padre, recentemente, ao responder perguntas no Jubileu das Equipes Sinodais e Organizações Participantes, falou especificamente sobre a situação da Igreja nos EUA — e deixou claro que há muito trabalho pela frente. “A realidade concreta — entendendo dentro da cultura dos Estados Unidos — é que muitas estruturas que já existem têm grande potencial para serem sinodais”, disse o papa. “Precisamos encontrar maneiras de continuar transformando-as em experiências mais inclusivas. Seja em conselhos pastorais ou em outras estruturas e encontros diocesanos, a inclusão de pessoas — homens e mulheres, leigos e clérigos, religiosas e religiosos — pode ajudar todos a participar e a sentir um profundo senso de corresponsabilidade, pertença, liderança e prestação de contas na vida da Igreja.”
“Potencial.” “Continuar a transformar.” Há muito mais a ser feito.
Leão XIV tem 70 anos — jovem e vigoroso. Os prelados que pensavam poder resistir às reformas de Francisco até sua morte devem reconhecer que não sobreviverão politicamente a Leão.
Nesta semana, os bispos terão de decidir: seguirão a liderança do Santo Padre — ou não?
Até o fim da semana, teremos algumas respostas.
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