07 Novembro 2025
Especialista explica porque argumentos sobre segurança energética e desenvolvimento são falácias.
A informação é publicada por ClimaInfo, 06-11-2025.
A expansão da produção de petróleo no Brasil é a maior contradição do governo Lula 3. A avaliação é de Suely Araújo, ex-presidente do IBAMA e coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima (OC).
Em entrevista à Rádio Brasil de Fato, Suely reconhece que o governo tem se empenhado em reconstruir a governança ambiental após o desmonte promovido pelo governo Bolsonaro. Mas permitir novas fronteiras exploratórias, em especial na Foz do Amazonas, vai contra a luta climática, lembra.
A licença para a exploração do bloco FZA-M-59, dada pelo IBAMA à Petrobras, já foi negada duas vezes, sendo uma delas durante sua gestão no órgão ambiental, em 2018, e a outra em 2023. Ambas pela mesma razão técnica: falta de estudos sobre os impactos em um ecossistema marinho ainda pouco conhecido e marcado por fortes correntes marítimas.
A especialista desmente dois argumentos utilizados pelo governo e apoiadores da exploração no litoral do Amapá: a de trazer renda para a região e a importância da expansão para a segurança energética nacional. Segundo Suely, o petróleo não gera distribuição de renda, e as regiões petrolíferas do país não apresentam melhora social proporcional aos royalties.
Sobre a garantia da demanda interna, Suely explica que “o Brasil exporta um pouco mais de 50% do petróleo que produz. Essa expansão é para exportação. Justificar a expansão da produção petroleira com base na transição energética é uma contradição nos próprios termos”.
Em entrevista a jornalistas internacionais na 3ª feira (4/11), Lula disse que não quer ser líder ambiental e que nunca reivindicou isso. Sobre a exploração na Foz, ele afirmou que se teria sido um líder falso se tivesse esperado passar a COP30 para anunciar o início da perfuração, destacam Folha e Valor. “Se tiver que explorar, vamos fazer da forma mais cuidadosa que alguém pode fazer”, frisou.
Mas, como O Globo lembrou, quando Lula retornou ao poder, ele deixou claro que tinha como um dos objetivos restaurar a imagem do país como um campeão da ação climática. Logo, a ambição de liderança ambiental existe, sim.
Isto É Dinheiro, Agência Brasil, Estadão e Valor também falaram do assunto.
Em tempo 1
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reagiu à fala recente de Bill Gates que relativizou os impactos das mudanças climáticas. Haddad afirmou que o Brasil não vai deixar de investir na transição energética. "Independentemente do que o Bill Gates acha, o Brasil tem energia limpa e barata, e não tem sentido a gente trocar por energia suja e cara", destaca a Folha.
Em tempo 2
"Se o Brasil, que é a terra do sol, do vento e da biomassa, não começar a cortar as energias fósseis, quem vai?", questionou o ex-ministro do Meio Ambiente de Lula e atual deputado estadual no Rio de Janeiro, Carlos Minc. Em entrevista à Carta Capital, Minc afirma ter expectativa média para a COP30 e que a licença ambiental para a exploração do Bloco 59 mina os esforços do Brasil para assumir a liderança no enfrentamento às mudanças climáticas.
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