31 Outubro 2025
A fome num mundo de fartura não é inevitável, é uma escolha. Como pessoas de fé, a maneira como tratamos os famintos reflete nossa relação com o divino e nosso compromisso com a justiça, diz a declaração de religiosos participantes da Semana do Jubileu 2025, com eventos presenciais em Roma e eventos virtuais de 19 a 28 de outubro. A iniciativa é da Caritas Internacional, da Visão Mundial Internacional e do Conselho Mundial de Igrejas.
A informação é de Edelberto Behs.
Mesmo num mundo com sistemas alimentares produzindo o suficiente para alimentar toda a população do planeta, cerca de 150,2 milhões de crianças sofreram, em 2024, de nanismo por causa da desnutrição, prejudicando o seu crescimento físico e o desenvolvimento cognitivo. A fome em meio à abundância sinaliza uma falha moral e a necessidade de ação urgente.
“A dádiva da Terra é destinada a toda a humanidade. Quando as crianças vão para a cama com fome, as mães não conseguem nutrir seus bebês e as famílias precisam escolher entre comida e remédios, testemunhamos uma violação da intenção divina e da dignidade humana. O direito à alimentação é inseparável do direito à vida”, sustenta a declaração.
Religiosos também manifestam preocupação com a alocação de recursos que prioriza os gastos militares em detrimento da ajuda humanitária e da proteção social. Mencionam que em 2024, uma em cada oito pessoas enfrentou conflitos. Os gastos militares globais foram além dos 2,7 trilhões (cerca e 14,5 trilhões de reais), um aumento de 9,4% em relação a 2023, enquanto o financiamento para a assistência humanitária permaneceu “cronicamente inadequado”.
“Isso é uma falha moral: os governos, e não apenas os mercados, determinam quem passa fome. Os conflitos destroem os sistemas alimentares, deslocam agricultores e criam crises de refugiados que agravam a fome”, expõe o texto. Lembra o Sudão, onde mais de 3,2 milhões de crianças menores de cinco anos enfrentam segurança alimentar aguda, e mais de meio milhão de pessoas sofrem de fome na Palestina.
Também a crise climática é lembrada, pois ela ameaça os sistemas alimentares em todo o mundo. Muitos países enfrentam uma dupla crise: insegurança alimentar e endividamento. “O peso da dívida dificulta investimentos resilientes ao clima, enquanto sistemas alimentares globais injustos alimentam a dívida”, diz a declaração, defendendo o Jubileu como preconizado no Antigo Testamento, que “clama pela libertação da dívida e pela restauração da terra”.
Religiosos dirigem-se a governos e organismos internacionais quando pedem o direito à alimentação, o financiamento e suporte para pequenos agricultores, especialmente mulheres, que produzem cerca de 70% dos alimentos do mundo, o cancelamento das dívidas ilegítimas e o fortalecimento da proteção social, incluindo transferências de dinheiro e refeições escolares, assegurando que ninguém passe fome.
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