Por: João Flores da Cunha | 10 Setembro 2016
Um sistema econômico que, em um futuro próximo, estará completamente transformado pelas mudanças tecnológicas. Não se trata de ficção científica ou utopia, mas do capitalismo real. Esse foi o tema da apresentação da obra Sociedade Com Custo Marginal Zero. A Internet das Coisas, os Bens Comuns Colaborativos e o Eclipse do Capitalismo, de Jeremy Rifkin, economista e cientista social estadunidense. A palestra, que faz parte do evento IHU Ideias, foi ministrada pelos professores da Unisinos Gilberto Faggion e Lucas Henrique da Luz.
Faggion e Lucas buscaram apresentar uma síntese do livro, que aborda mudanças disruptivas em curso na sociedade. Os professores desenvolveram seu argumento a partir do que Rifkin compreende como a redução até praticamente zero dos custos marginais, que são os custos de produção e distribuição de bens e serviços.
Um exemplo é o e-book, o livro digital. Não há mais a necessidade de uma rede de impressão, distribuição e comercialização de uma cópia física do livro; agora, as ideias podem circular livremente a partir de um suporte digital, com pouco ou nenhum custo.
Jeremy Rifkin - Sociedade Com Custo Marginal Zero. A Internet das Coisas, os Bens Comuns Colaborativos e o Eclipse do Capitalismo (Imagem: Divulgação)
De acordo com Rifkin, ao longo dos próximos 40 anos, ainda haverá expansão da força de trabalho. Em meados do século XXI, porém, já estarão dadas as condições para que uma pequena parcela da população seja capaz de controlar todo o processo de produção.
Uma das consequências desse processo é que prestadores de serviço precisam se transformar, o que exige uma reconfiguração do mercado de trabalho. Segundo Lucas, o Uber já apresenta elementos de uma economia compartilhada. Apesar disso, o aplicativo pode se ver superado em um futuro próximo, graças ao desenvolvimento de carros autônomos, que operam sem motorista.
Lucas Henrique da Luz (E) e Gilberto Faggion (Foto: João Flores da Cunha)
As inovações tecnológicas que reduzem o custo marginal também afetam o trabalho, através da substituição da mão de obra humana. Assim, “o capital está se tornando mão de obra”, afirmou Faggion. Mesmo a ideia de especialista está ameaçada: a esperada evolução dos algoritmos poderia, no futuro, ameaçar até a profissão de médico, já que seria possível obter um diagnóstico confiável pela Internet.
Não se trata de “uma ruptura da noite para o dia”, alertaram os professores. As mudanças de que Rifkin fala implicam transformações em conceitos básicos para o capitalismo, como a ideia de posse, ou propriedade. No novo paradigma, que privilegia a circulação livre, esses conceitos, bem com o de especialista (o médico, por exemplo), são compreendidos como cercamentos.
A virtual eliminação do custo marginal representa o “triunfo máximo do capitalismo”, de acordo com os palestrantes. Trata-se de uma ruptura do paradigma existente, que se dá internamente ao capitalismo. Não se trata de algo estrangeiro a ele, mas da produção de um novo que surge do capitalismo, embora seja diferente dele.
As mudanças atuais apontam para a substituição, no futuro, de combustíveis fósseis por uma matriz de energia renovável. As pessoas podem produzir energia solar em suas casas, que seriam autossuficientes. “As próprias pessoas produzem energia, de forma descentralizada”, de acordo com Faggion e Lucas. O desafio passaria a ser, então, descentralizar não apenas a produção, mas também a transmissão.
Lucas ressaltou que Rifkin “não faz livros para não vender”. O autor busca a polêmica através de afirmações fortes, segundo ele. Assim, em 1995, Rifkin publicou um livro intitulado “O fim dos empregos”.
O professor destacou que o capitalismo tem uma “capacidade de reinvenção muito rápida” que pode reverter a tendência apontada por Rifkin, mas valorizou o risco que o pesquisador corre ao submeter suas ideias ao público geral. “É algo que a gente sente falta na academia brasileira”, afirmou Lucas.
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O futuro do capitalismo: uma sociedade com custo marginal zero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU