Forte, enérgico, vibrante foi o discurso que Leão XIV proferiu na sede internacional da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, em Roma, por ocasião do 80º aniversário desta organização.
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 16-10-2025.
Forte, enérgico, vibrante foi o discurso que Leão XIV proferiu na sede internacional da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), em Roma, por ocasião do 80º aniversário desta organização, que coincide com o Dia Mundial da Alimentação, em 16 de outubro, denunciou mais uma vez "uma economia sem alma" e "um modelo de desenvolvimento questionável", ao mesmo tempo que criticou a comunidade internacional por fechar os olhos ao "uso da comida como arma de guerra".
Em seu discurso ao diretor-geral das Nações Unidas — "seguindo o exemplo dos meus antecessores na Cátedra de Pedro, que demonstraram especial estima e proximidade à FAO, conscientes do importante mandato desta organização internacional" — e a outras figuras proeminentes, o Papa expressou sua convicção de que "se a fome for vencida, a paz será o terreno fértil do qual nascerá o bem comum de todas as nações".
"Oitenta anos após a criação da FAO, nossa consciência deve mais uma vez nos desafiar diante do drama sempre presente da fome e da desnutrição. Acabar com esses males não é responsabilidade apenas de empresários, funcionários públicos ou políticos. É um problema para cuja solução todos devemos contribuir", continuou Robert F. Prevost, acrescentando que "o mundo não pode continuar a testemunhar espetáculos tão macabros como os que se desenrolam em muitas regiões do mundo. Eles devem ser encerrados o mais rápido possível", referindo-se aos conflitos em curso em todo o mundo, incluindo os da Ucrânia, Gaza, Haiti, Afeganistão, Mali, República Centro-Africana, Iêmen e Sudão do Sul.
O Papa reconheceu que o objetivo do encontro é "mobilizar todas as energias disponíveis, num espírito de solidariedade, para que ninguém no mundo careça dos alimentos necessários, tanto em quantidade como em qualidade", e por isso enfatizou que "cinco anos após o cumprimento da Agenda 2030, devemos recordar com veemência que alcançar a Fome Zero só será possível se houver uma vontade real de o fazer, e não apenas declarações solenes".
Por isso mesmo, com renovada urgência, somos chamados hoje a responder a uma pergunta fundamental: onde estamos na luta contra a praga da fome que continua a flagelar atrozmente uma parte significativa da humanidade?", observou Leão XIV, enfatizando que "é necessário, e extremamente triste, mencionar que, apesar dos avanços tecnológicos, científicos e produtivos, 673 milhões de pessoas no mundo vão para a cama sem comer. E outros 2,3 bilhões não podem pagar uma alimentação adequada do ponto de vista nutricional".
"Isto não é coincidência", continuou ele, ouvido na primeira fila pela primeira-ministra italiana, Georgia Meloni, pelo rei do Lesoto e pela rainha Letizia, "mas sim um sinal claro de uma insensibilidade predominante, de uma economia sem alma, de um modelo de desenvolvimento questionável e de um sistema de distribuição de recursos injusto e insustentável. Numa época em que a ciência aumentou a expectativa de vida, a tecnologia aproximou os continentes e o conhecimento abriu horizontes antes inimagináveis, permitir que milhões de seres humanos vivam — e morram — atingidos pela fome é um fracasso coletivo, uma aberração ética, uma culpa histórica".
Com igual força, Leão XIV denunciou que "os atuais cenários de conflito provocaram um ressurgimento do uso da comida como arma de guerra, contradizendo todo o trabalho de conscientização realizado pela FAO", que "parece estar esquecido, porque, com dor, assistimos ao uso contínuo desta estratégia cruel, que condena homens, mulheres e crianças à fome", embora, sublinhou, "o silêncio daqueles que morrem de fome clame na consciência de todos, mesmo que muitas vezes seja ignorado, abafado ou distorcido".
"Não podemos continuar assim", gritou o Papa Prevost, "porque a fome não é o destino do homem, mas sua ruína", e desvendou o que chamou de paradoxos ultrajantes: "Como podemos continuar a tolerar o desperdício de toneladas de alimentos enquanto multidões de pessoas lutam para encontrar algo para comer no lixo? Como podemos explicar as desigualdades que permitem que alguns tenham tudo e muitos não tenham nada? Como não podemos parar imediatamente as guerras que destroem o campo antes das cidades, levando até mesmo a cenas indignas da condição humana, nas quais as vidas das pessoas, e especialmente as das crianças, em vez de serem cuidadas, desaparecem enquanto elas vão em busca de comida com a pele grudada nos ossos?"
"Contemplando o atual panorama global, tão doloroso e desolador pelos conflitos que o afligem, parece que nos tornamos testemunhas apáticas de uma violência dilacerante, quando, na realidade, as tragédias humanitárias conhecidas por todos deveriam nos impelir a ser artesãos da paz", questionou, então, se "será possível que não consigamos pôr fim a tantas arbitrariedades dilacerantes que marcam negativamente a família humana? Podem os líderes políticos e sociais continuar polarizados, desperdiçando tempo e recursos em discussões inúteis e virulentas, enquanto aqueles a quem deveriam servir continuam sendo esquecidos e utilizados para interesses partidários? Não podemos nos limitar a proclamar valores. Devemos encarná-los".
"Slogans não nos tiram da pobreza", continuou ele. "Precisamos urgentemente superar esse paradigma político tão amargo, partindo de uma visão ética que prevaleça sobre o pragmatismo atual que substitui a pessoa pelo lucro. Não basta clamar por solidariedade: precisamos garantir a segurança alimentar, o acesso aos recursos e o desenvolvimento rural sustentável".
Leão XIV não se esqueceu disso em seu discurso, reivindicando o papel das mulheres na luta contra a fome e na promoção do desenvolvimento integral. "Elas são vistas como indispensáveis, mesmo que nem sempre sejam suficientemente valorizadas", afirmou. Continuou:
"As mulheres são as primeiras a cuidar do pão que falta, a semear a esperança nos sulcos da terra, a amassar o futuro com mãos calejadas pelo esforço. Em todos os cantos do mundo, as mulheres são as arquitetas silenciosas da sobrevivência, as guardiãs metódicas da criação. Reconhecer e valorizar seu papel não é apenas uma questão de justiça; é a garantia de uma alimentação mais humana e sustentável."
Na mesma linha, o primeiro papa americano defendeu um caminho de colaboração global que parece estar em declínio: "Permitam-me sublinhar inequivocamente a importância do multilateralismo diante das tentações nocivas que tendem a emergir como autocráticas em um mundo multipolar e cada vez mais interconectado", afirmou, acrescentando que "os rostos famintos de tantos que ainda sofrem nos desafiam e nos convidam a reexaminar nosso estilo de vida, nossas prioridades e, em geral, nossa maneira de viver no mundo de hoje".
"Não podemos aspirar a uma vida social mais justa se não estivermos dispostos a nos libertar da apatia que justifica a fome como se fosse uma música de fundo à qual nos acostumamos, um problema insolúvel ou simplesmente uma responsabilidade alheia", afirmou, exortando todos a "não se cansarem, portanto, de pedir a Deus hoje a coragem e a energia para continuar trabalhando por uma justiça que produza resultados duradouros e benéficos. Em seus esforços, poderão sempre contar com a solidariedade e o compromisso da Santa Sé e das instituições da Igreja Católica, prontas a servir os mais pobres e desfavorecidos do mundo".
Senhor Diretor Geral, distintas Autoridades, Excelências,
senhoras e senhores:
1. Permitam-me, antes de mais nada, expressar minha mais cordial gratidão pelo convite para compartilhar este dia memorável com todos vocês. Visitarei esta prestigiosa sede seguindo o exemplo dos meus antecessores na Presidência de Pedro, que demonstraram especial estima e proximidade à FAO, conscientes do importante mandato desta organização internacional.
Saúdo todos os presentes com grande respeito e deferência e, por vosso intermédio, como arauto e servidor do Evangelho, expresso a todos os povos da Terra o meu mais fervoroso desejo de que a paz reine em toda a parte. O coração do Papa, que não pertence a si mesmo, mas à Igreja e, em certo sentido, a toda a humanidade, mantém viva a confiança de que, se a fome for vencida, a paz será o terreno fértil do qual nascerá o bem comum de todas as nações.
Oitenta anos após a criação da FAO, nossa consciência deve mais uma vez nos desafiar diante da tragédia sempre presente da fome e da desnutrição. Acabar com esses males não é responsabilidade apenas de empresários, funcionários públicos ou formuladores de políticas. É um problema para cuja solução todos devemos contribuir: agências internacionais, governos, instituições públicas, ONGs, entidades acadêmicas e sociedade civil, sem esquecer cada indivíduo, que deve ver no sofrimento dos outros algo de seu. Aqueles que sofrem de fome não são estranhos. Eles são meus irmãos e irmãs, e eu devo ajudá-los sem demora.
2. O objetivo que nos une agora é tão nobre quanto incontornável: mobilizar todas as energias disponíveis, num espírito de solidariedade, para que ninguém no mundo careça dos alimentos necessários, tanto em quantidade como em qualidade. Desta forma, poremos fim a uma situação que nega a dignidade humana, põe em risco o desenvolvimento desejável, obriga injustamente multidões a abandonarem as suas casas e dificulta o entendimento entre os povos. Desde a sua fundação, a FAO tem incansavelmente orientado o seu serviço para fazer do desenvolvimento agrícola e da segurança alimentar objetivos prioritários da política internacional. Neste sentido, cinco anos após o cumprimento da Agenda 2030, devemos recordar veementemente que alcançar a Fome Zero só será possível se houver uma vontade real de o fazer, e não apenas declarações solenes. Por isso, com renovada urgência, somos hoje chamados a responder a uma pergunta fundamental: onde nos encontramos na luta contra o flagelo da fome que continua a flagelar atrozmente uma parte significativa da humanidade?
3. É necessário, e extremamente triste, mencionar que, apesar dos avanços tecnológicos, científicos e produtivos, 673 milhões de pessoas no mundo dormem sem comer. E outros 2,3 bilhões não têm condições de pagar por uma alimentação nutricionalmente adequada. Esses números não podem ser descartados como meras estatísticas: por trás de cada um desses números, há uma vida interrompida, uma comunidade vulnerável; há mães que não conseguem alimentar seus filhos. Talvez a estatística mais pungente seja a de crianças que sofrem de desnutrição, com as doenças resultantes e o atraso no desenvolvimento motor e cognitivo. Isso não é coincidência, mas um sinal claro de uma insensibilidade predominante, uma economia sem alma, um modelo de desenvolvimento questionável e um sistema de distribuição de recursos injusto e insustentável. Numa época em que a ciência aumentou a expectativa de vida, a tecnologia aproximou os continentes e o conhecimento abriu horizontes antes inimagináveis, permitir que milhões de seres humanos vivam — e morram — atingidos pela fome é um fracasso coletivo, uma aberração ética, uma culpa histórica.
4. Os atuais cenários de conflito levaram ao ressurgimento do uso de alimentos como arma de guerra, contradizendo todo o trabalho de conscientização realizado pela FAO ao longo dessas oito décadas. O consenso expresso pelos Estados que considera a fome deliberada um crime de guerra, bem como a negação intencional de acesso a alimentos a comunidades ou povos inteiros, parece cada vez mais distante. O direito internacional humanitário proíbe, sem exceção, o ataque a civis e a objetos essenciais à sobrevivência das populações. Há alguns anos, o Conselho de Segurança das Nações Unidas condenou unanimemente essa prática, reconhecendo a conexão entre conflito armado e insegurança alimentar e estigmatizando o uso da fome infligida a civis como método de guerra. 1 Isso parece esquecido, pois testemunhamos dolorosamente o uso contínuo dessa estratégia cruel, que condena homens, mulheres e crianças à fome, negando-lhes o direito mais básico: o direito à vida.
No entanto, o silêncio daqueles que morrem de fome grita na consciência de todos, mesmo que seja frequentemente ignorado, silenciado ou distorcido. Não podemos continuar assim, pois a fome não é o destino do homem, mas sim a sua ruína. Fortaleçamos, portanto, o nosso entusiasmo para remediar este escândalo! Não nos detenhamos na ideia de que a fome é apenas um problema a ser resolvido. Pelo contrário, é um grito que sobe aos céus e exige uma resposta rápida de todas as nações, de todas as organizações internacionais, de todas as entidades regionais, locais ou privadas. Ninguém pode ficar de fora da luta implacável contra a fome. Esta batalha é de todos.
5. Excelências, hoje assistimos a paradoxos escandalosos. Como podemos continuar a tolerar o desperdício de toneladas de alimentos enquanto multidões de pessoas lutam para encontrar algo para comer no lixo? Como podemos explicar as desigualdades que permitem que alguns tenham tudo e muitos não tenham nada? Como não podemos parar imediatamente as guerras que destroem o campo antes das cidades, levando a cenas indignas da condição humana, nas quais as vidas das pessoas, e especialmente as das crianças, em vez de serem cuidadas, desaparecem enquanto procuram comida, com a pele colada aos ossos? Contemplando o panorama global atual, tão doloroso e desolado pelos conflitos que o afligem, tem-se a impressão de que nos tornamos testemunhas apáticas de uma violência dilacerante, quando, na realidade, as conhecidas tragédias humanitárias deveriam impelir-nos a ser artesãos da paz, munidos do bálsamo curativo necessário às feridas abertas no próprio coração da humanidade. Este derramamento de sangue deve imediatamente atrair a nossa atenção e levar-nos a redobrar a nossa responsabilidade individual e coletiva, despertando-nos da letargia terrível em que frequentemente somos mergulhados. O mundo não pode continuar a testemunhar espetáculos tão macabros como os que se desenrolam em muitas regiões da Terra. Eles devem ser postos fim o mais rapidamente possível.
Chegou, então, o momento de nos perguntarmos com lucidez e coragem: as gerações futuras merecem um mundo incapaz de erradicar de uma vez por todas a fome e a pobreza? Será que não podemos pôr fim a tantas arbitrárias dilacerantes que impactam negativamente a família humana? Os líderes políticos e sociais podem permanecer polarizados, desperdiçando tempo e recursos em argumentos inúteis e virulentos, enquanto aqueles a quem deveriam servir continuam sendo esquecidos e usados para interesses partidários? Não podemos nos limitar a proclamar valores. Devemos encarná-los. Os slogans não podem nos tirar da miséria. Precisamos urgentemente superar esse paradigma político amargo, baseado em uma visão ética que prevaleça sobre o pragmatismo atual que substitui as pessoas pelo lucro. Não basta invocar a solidariedade: é preciso garantir a segurança alimentar, o acesso aos recursos e o desenvolvimento rural sustentável.
6. Nesse sentido, considero um verdadeiro sucesso que o Dia Mundial da Alimentação seja celebrado este ano sob o tema: "De mãos dadas por uma alimentação melhor e um futuro melhor". Em um momento histórico marcado por profundas divisões e contradições, sentir-se unido pelo vínculo da colaboração não é apenas um belo ideal, mas um apelo resoluto à ação. Não devemos nos contentar em encher paredes com grandes cartazes chamativos. Chegou a hora de um compromisso renovado, que tenha um impacto positivo na vida daqueles que têm o estômago vazio e esperam de nós gestos concretos que os levantem da prostração. Esse objetivo só pode ser alcançado por meio da convergência de políticas eficazes e da implementação coordenada e sinérgica de intervenções. A exortação a caminhar juntos, em harmonia fraterna, deve se tornar o princípio norteador que norteia políticas e investimentos, porque somente por meio de uma cooperação sincera e constante podemos construir uma segurança alimentar justa e acessível para todos. Somente unindo as mãos podemos construir um futuro digno, no qual a segurança alimentar seja reafirmada como um direito e não um privilégio. Com esta convicção, gostaria de sublinhar que, na luta contra a fome e na promoção do desenvolvimento integral, o papel das mulheres é indispensável, mesmo que nem sempre seja suficientemente valorizado. As mulheres são as primeiras a cuidar do pão que falta, a semear a esperança nos sulcos da terra, a amassar o futuro com mãos calejadas pelo esforço. Em todos os cantos do mundo, as mulheres são as arquitetas silenciosas da sobrevivência, as guardiãs metódicas da criação. Reconhecer e valorizar o seu papel não é apenas uma questão de justiça; é garantia de uma alimentação mais humana e sustentável.
7. Excelências, conscientes da amplitude deste fórum internacional, permitam-me enfatizar inequivocamente a importância do multilateralismo diante das tentações nefastas que tendem a emergir como autocráticas em um mundo multipolar e cada vez mais interconectado. Portanto, é mais necessário do que nunca repensar com ousadia as modalidades de cooperação internacional. Não se trata apenas de identificar estratégias ou fazer diagnósticos detalhados. O que os países mais pobres aguardam com esperança é que suas vozes sejam ouvidas sem filtros, que suas deficiências sejam verdadeiramente reconhecidas e que lhes seja oferecida uma oportunidade, para que possam contar com eles na solução de seus problemas reais, sem impor soluções elaboradas em escritórios distantes, em reuniões dominadas por ideologias que frequentemente ignoram culturas ancestrais, tradições religiosas ou costumes profundamente enraizados na sabedoria dos mais velhos. É imperativo construir uma visão que permita a cada ator no cenário internacional responder de forma mais eficaz e rápida às necessidades genuínas daqueles a quem somos chamados a servir por meio do nosso compromisso diário.
8. Hoje, não podemos mais nos iludir pensando que as consequências de nossos fracassos afetam apenas aqueles que permanecem ocultos. Os rostos famintos de tantos que ainda sofrem nos desafiam e nos convidam a reexaminar nosso modo de vida, nossas prioridades e, de modo mais geral, nosso modo de viver no mundo de hoje. Precisamente por isso, desejo chamar a atenção deste fórum internacional para as multidões que não têm acesso a água limpa, alimentos, cuidados médicos essenciais, moradia digna, educação básica ou trabalho decente, para que possamos compartilhar a dor daqueles que se alimentam apenas de desespero, lágrimas e miséria. Como não lembrar de todos aqueles condenados à morte e à miséria na Ucrânia, Gaza, Haiti, Afeganistão, Mali, República Centro-Africana, Iêmen e Sudão do Sul, para citar apenas alguns lugares do planeta onde a pobreza se tornou o pão de cada dia de tantos de nossos irmãos e irmãs? A comunidade internacional não pode ignorar. Devemos fazer nosso o sofrimento deles. Não podemos aspirar a uma vida social mais justa se não estivermos dispostos a nos libertar da apatia que justifica a fome como se fosse uma música de fundo à qual nos acostumamos, um problema insolúvel ou simplesmente a responsabilidade dos outros. Não podemos exigir ação dos outros se nós mesmos não cumprirmos nossos próprios compromissos. Ao não fazê-lo, tornamo-nos cúmplices da promoção da injustiça. Não podemos esperar um mundo melhor, um futuro brilhante e pacífico, se não estivermos dispostos a compartilhar o que recebemos. Só então poderemos afirmar, com verdade e coragem, que ninguém foi deixado para trás.
9. Invoco sobre todos vocês aqui reunidos hoje — a FAO e seus funcionários, que se esforçam diariamente para cumprir suas responsabilidades com virtude e liderar pelo exemplo — as bênçãos de Deus, que cuida dos pobres, dos famintos e dos desamparados. Que Ele renove em cada um de nós aquela esperança que nunca decepciona (cf. Rm 5,5). Os desafios que temos pela frente são imensos, mas também o são nosso potencial e nossas possíveis linhas de ação. A fome tem muitos nomes e pesa sobre toda a família humana. Cada pessoa humana tem fome não apenas de pão, mas também de tudo o que lhe permite amadurecer e crescer em direção à felicidade para a qual foi criada. Há uma fome de fé, esperança e amor que deve ser canalizada para a resposta abrangente que somos chamados a dar juntos. O que Jesus disse aos seus discípulos diante de uma multidão faminta continua sendo um desafio fundamental e urgente para a comunidade internacional: "Dai-lhes de comer" (Mc 6,37). Com a pequena contribuição dos discípulos, Jesus realizou um grande milagre. Não se cansem, portanto, de pedir a Deus hoje a coragem e a energia para continuar a trabalhar por uma justiça que produza resultados duradouros e benéficos. Em seus esforços, vocês podem sempre contar com a solidariedade e o compromisso da Santa Sé e das instituições da Igreja Católica, prontas a servir os mais pobres e desfavorecidos do mundo.
Muito obrigado.