25 Outubro 2025
"Ao entrar nesta mobilização pela água, o Fórum das Águas tem consciência de que também está se mobilizando pela defesa da vida, pois água é vida. Cada esforço vale a pena ser realizado em prol das águas e da vida", escreve Sandoval Alves Rocha.
Sandoval Alves Rocha é jesuíta, doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio, mestre em Ciências Sociais pela Unisinos, bacharel em Teologia e bacharel em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), trabalha no Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), em Manaus.
Eis o artigo.
No dia 18 de outubro, aconteceu o 3º Seminário do Fórum das Águas do Amazonas, no Centro de Artes da Universidade Federal do Amazonas – Caua. O evento teve como tema “Fórum das Águas no chão do Amazonas”, com a participação de diversas organizações que compõem o Coletivo. A programação contou com um momento de mística envolvendo a água, outro momento de memória da atuação do Fórum na defesa do saneamento público e das águas da Amazônia e mais um bloco de conversas entre os participantes, visando elaborar um regimento interno da entidade.
Além de representações da Universidade Federal do Amazonas, também participaram lideranças da Casa Amazônica de Francisco e Clara, do Instituto Sumaúma, da União Geral dos Trabalhadores, da Comissão da Ecologia Integral, do Movimento dos Atingidos por Barragens do Amazonas, da Associação de Silves Pela Preservação Ambiental, do Vereador José Ricardo (PT), do Movimento dos Trabalhadores por Direitos, da Cáritas Arquidiocesana de Manaus, das Comunidades Eclesiais de Bases, da Associação das Mulheres Amazonenses, da Associação de Luta Organizada por Moradia, da União Nacional por Moradia Popular, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento agropecuário e outras entidades representadas por suas lideranças.
O exercício de memória remeteu o Coletivo a momentos marcantes da sua trajetória na luta contra a apropriação privada dos recursos hídricos e contra a mercantilização da natureza, que vem se expressando na privatização dos serviços de água e esgoto e na construção de portos nos rios amazônicos. Neste sentido, o Fórum das Águas tem dedicado grandes esforços em denunciar a exploração econômica dos moradores efetivada pela empresa de saneamento Águas de Manaus e os serviços precários de abastecimento de água e esgotamento sanitário que ela oferece à população. A luta contra a construção do Porto das Lajes, no Rio Negro, também marca a trajetória da organização, que se empenha no cuidado das águas, que são afetadas pelas operações portuárias.
Eventos promovidos pelo Fórum das Águas como a Romaria das Águas, no dia 22 de março de cada ano também foram destacados pelos participantes do Seminário. A Romaria acontece no Dia Mundial da Água, objetivando sensibilizar toda a sociedade civil e poderes públicos em relação ao cuidado que devemos dedicar à preservação das águas que são essenciais para a continuidade da vida no planeta. Este ato público, que mobiliza a sociedade como um todo, também emite denúncias contra a poluição dos recursos hídricos causada pelas indústrias, pela falta de esgotamento sanitário, pelas atividades mineradoras e petrolíferas, pelo agronegócio e pela falta de educação ambiental. A última Romaria promovida pelo Coletivo teve como tema: Nossas vozes na COP 30 em defesa da água e da vida na Amazônia.
As Tribunas das Águas na Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia) também foram lembradas pelos participantes do Seminário. Estas manifestações buscar levar para o espaço público discussões sobre as políticas públicas que afetam diretamente a qualidade das águas e a qualidade da vida na Amazônia. Trata-se de debates abertos ao público da praça visando fornecer esclarecimentos sobre variados temas e possibilitando uma avaliação pública das ações realizadas pelos poderes públicos locais, estaduais e nacionais. Enquanto o debate acontece os participantes usufruem de uma convivência amistosa, valorizando os espaços comuns existentes na cidade.
Outros atos públicos promovidos pelo Fórum das Águas merecem ser lembrados, como os atos de repúdio contra a privatização do saneamento, no dia 4 de julho, data em que o setor privado assumiu oficialmente a operação dos serviços de água e esgoto em Manaus. Vale a pena destacar também as oficinas do direito humano a água e ao saneamento, promovidas pelo Fórum das Águas nos bairros de Manaus, sobretudo nas periferias. São encontros onde os próprios moradores expõem as situações concretas das comunidades no que diz respeito aos serviços de água e esgoto. Inúmeras violações destes direitos básicos veem à tona pela voz daqueles que sofrem as agressões da empresa no cotidiano.
Nestes encontros o Fórum das Águas tem contato direto com o sofrimento causado pela gestão privada dos serviços de água e esgoto na cidade de Manaus. É possível perceber a exploração, a humilhação e o desrespeito impostos às populações mais pobres pela empresa, que não visa outra coisa senão elevar os seus lucros e acumular riquezas nas mãos dos empresários do saneamento. Todas estas situações levam os movimentos sociais se mobilizaram para fazer frente às agressões do capital, ensejando uma sociedade mais justa e democrática.
Motivado por este quadro, o Seminário entrou na sua parte final elaborando o Regimento Interno do Coletivo para melhor fazer frente aos desafios do saneamento e da poluição das águas no Amazonas. O documento é resultado de uma construção coletiva interessada em organizar e orientar a atuação do Coletivo, que encontra o sentido da sua existência na defesa e promoção dos direitos humanos à água e ao saneamento e na preservação dos recursos hídricos frente às agressões do mundo capitalista. Ao entrar nesta mobilização pela água, o Fórum das Águas tem consciência de que também está se mobilizando pela defesa da vida, pois água é vida. Cada esforço vale a pena ser realizado em prol das águas e da vida.
Leia mais
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- A guerra pela água em Manaus. Artigo de Sandoval Alves Rocha
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- A Amazônia saqueada. Artigo de Sandoval Alves Rocha
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