06 Setembro 2025
"Ele definiu o verbo 'ficar' como o verbo da paciência madura, da espera vigilante, da fidelidade diária e séria, não sentimental e passageira. Em seguida, lembrou os problemas mais graves, 'uma política de curto prazo e incapaz de visão, uma economia que nos empobrece cada vez mais', a pandemia: 'não devemos desanimar.'"
O artigo é de Riccardo Cristiano, jornalista italiano, publicado por Settimana News, 05-08-2025.
Eis o artigo.
Existe um homem que hoje exige atenção especial: o patriarca latino de Jerusalém, o cardeal Pierbattista Pizzaballa. Em 12 de outubro de 2010, no sínodo sobre o Oriente Médio, ele, que era o Custódio da Terra Santa, disse que "as peregrinações de todo o mundo e a presença de judeus e muçulmanos aparecem aos olhos da fé como um cumprimento, ainda que parcial, da profecia da reunião de todos os povos no Monte Sião (Is 2, 2-4)".
Talvez seja essa mesma visão que o levou a decidir não respeitar a ordem do exército israelense de evacuar Gaza, que também incluía as duas paróquias cristãs presentes no norte da Faixa, a católica – a Igreja da Sagrada Família, e a ortodoxa – a Igreja de São Porfírio.
A decisão foi tomada pelos respectivos patriarcas, o cardeal Pierbattista Pizzaballa e Teófilo III, e suas razões são cuidadosamente explicadas na declaração conjunta de 26 de agosto (cf. aqui no SettimanaNews):
"No momento desta declaração, já foram emitidas ordens de evacuação para vários bairros da cidade de Gaza.
As notícias de bombardeios pesados continuam a chegar. Registram-se mais destruição e mortes em uma situação que já era dramática antes do início da operação. Parece que o anúncio do governo israelense de que ‘as portas do inferno se abrirão’ está de fato assumindo contornos trágicos.
A experiência das campanhas anteriores em Gaza, as intenções declaradas pelo governo israelense sobre a operação em curso e as notícias que nos chegam do local demonstram que a operação não é apenas uma ameaça, mas uma realidade que já está em andamento.
Desde o início da guerra, o complexo greco-ortodoxo de São Porfírio e o complexo latino da Sagrada Família têm sido um refúgio para centenas de civis. Entre eles estão idosos, mulheres e crianças. No complexo latino, abrigamos pessoas com deficiência há muitos anos, assistidas pelas Irmãs Missionárias da Caridade.
Assim como os outros habitantes da cidade de Gaza, os refugiados que vivem na estrutura também terão que decidir, de acordo com sua consciência, o que fazer. Entre aqueles que buscaram refúgio dentro dos muros dos complexos, muitos estão enfraquecidos e desnutridos devido às dificuldades dos últimos meses.
Sair da Cidade de Gaza e tentar fugir para o sul equivaleria a uma sentença de morte.
Por esse motivo, os sacerdotes e as irmãs decidiram ficar e continuar a cuidar de todos aqueles que se encontrarem nos dois complexos."
Em seguida, a declaração cita o Papa Leão: "Todos os povos, mesmo os menores e mais fracos, devem ser respeitados pelos poderosos em sua identidade e em seus direitos, em particular o direito de viver em suas próprias terras; e ninguém pode forçá-los a um exílio forçado." Portanto, "ficar e continuar a cuidar de todos".
Em 22 de agosto de 2025, quando o Papa convocou um dia de oração e jejum pela paz, Pizzaballa disse sobre a paz: "Não encontra terreno nas instituições, não encontra nas grandes organizações, sejam elas políticas e, infelizmente, também religiosas, mas encontra terreno entre tantas pessoas, movimentos, grupos, associações e indivíduos que não aceitam essa degeneração. A oração também serve para criar esse vínculo com as pessoas de todas as fés que, apesar de tudo, ainda querem acreditar que o coração do homem, mesmo na Terra Santa, pode mudar."
Acreditar nisso talvez seja difícil, mas é decisivo.
Para ter uma ideia de como a decisão de "ficar" reflete algo profundo em Pierbattista Pizzaballa, é preciso voltar a 2020, quando ele foi nomeado Patriarca Latino de Jerusalém pelo Papa Francisco. Em sua primeira homilia, ele se deteve exatamente no verbo "ficar", já que ficava na Terra Santa após tantos anos passados ali, por último como Custódio da Terra Santa, e disse que ficava "para caminhar entre vocês e com vocês, [...] para testemunhar e aprender o primado de Deus e Seus tempos, a paciência da semeadura, a espera cheia de esperança e a certeza dos frutos do Espírito."
Ele definiu o verbo "ficar" como o verbo da paciência madura, da espera vigilante, da fidelidade diária e séria, não sentimental e passageira. Em seguida, lembrou os problemas mais graves, "uma política de curto prazo e incapaz de visão, uma economia que nos empobrece cada vez mais", a pandemia: "não devemos desanimar."
A importância de ficar
O patriarca do "ficar", tão adequado para os dias de hoje, não poderia ter decidido de outra forma: ficar em Gaza.
"Ficar" indica um caminho diferente do de quem deixa o Oriente Médio, com uma escolha compreensível, na qual parece prevalecer a desconfiança no futuro. Não que quem o faça acredite que o mundo ideal esteja no passado remoto, mas provavelmente perdeu a confiança no futuro. Pizzaballa, quando se apresentou em nome do "ficar", sabia que para derrotar a desconfiança é preciso, acima de tudo, ter testemunhas.
Muito difícil, mas de Gaza não há relatos de que algum religioso ou religiosa tenha querido ir embora. Talvez porque nestas horas, na Igreja da Sagrada Família e na ortodoxa de São Porfírio, a palavra "ficar" adquire um sentido imediato, que dá sentido a uma vida.
Ele deve ter tido certeza disso, já que, há um ano, ao voltar de Gaza, tinha dito:
"Eu tinha levado comigo a promessa de uma nova vida e fiquei muito surpreso ao constatar que foram eles que me deram uma lição que jamais esquecerei: a fé inabalável daquelas pessoas, acompanhada de sorrisos tranquilizadores, marcou-me, e me marcará, por toda a vida."
Em 28 de agosto, ao se conectar com os fiéis reunidos na catedral de Pavia, antes mesmo de vazarem as notícias sobre o plano de Donald Trump para Gaza, Pizzaballa havia afirmado que "transferir as populações, como se quer fazer em Gaza, é imoral, além de contrário às convenções internacionais."
No entanto, outra de suas frases é igualmente relevante: que Jesus deu aos crentes um estilo, e os cristãos de Gaza o seguem, encontrando um sentido para suas vidas ao preparar pacotes de ajuda para os indigentes que assistem, não raramente muçulmanos:
"Para mim e para minha comunidade, é importante ter um olhar de fé sobre o que está acontecendo, não se pode limitar à crônica do que acontece. O fim da guerra não será o fim do conflito: nós devemos fazer tudo o que for possível para manter a humanidade viva."
Esta é a verdadeira chave para entender o motivo da decisão de ficar em Gaza após a ordem de evacuação.
Nos dias seguintes, o site da diocese de Cremona resumiu uma passagem em que o cardeal Pizzaballa aprofundou este ponto:
"Enquanto houver uma única pessoa aqui, nós ficaremos aqui. Nós somos Igreja e o pastor fica com suas ovelhas, com seu povo. (...) Dar concretude à esperança, às pessoas que perderam tudo, nunca é simples, mas me é claro onde ela deve estar. As palavras devem ser acompanhadas pelo testemunho. Não se pode separar as coisas que você diz de quem as diz. As instituições, tanto políticas quanto multilaterais, falharam", e "mostraram sua fraqueza, sua incapacidade de ouvir e interpretar a realidade do território."
Em vez disso, precisamos, neste contexto, de referências na vida que nos deem perspectivas. E essa falta cria um senso de desorientação maior; não apenas do que se está vivendo, mas também de como se vive. E os sacerdotes, como todos aqueles que têm um papel na vida social e civil, são a única referência das pessoas.
Em um contexto em que muçulmanos, judeus e cristãos convivem, é importante lembrar "que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Esta imagem e semelhança de Deus deve se tornar expressão concreta na maneira como falamos sobre isso. A linguagem cria pensamento, cria cultura, cria referências."
Sem escolas e sem futuro
Em 1º de setembro de 2025, foi divulgada a mensagem habitual de Pizzaballa para a reabertura das escolas católicas da Terra Santa, na qual ele lembrou que, pelo terceiro ano consecutivo, as escolas não reabrem em Gaza, uma constatação elementar, mas sobre a qual poucos se detêm:
"Mais uma vez, nossas escolas na Terra Santa abrem suas portas para acolher dezenas de milhares de estudantes, cristãos e não cristãos, que se sentam lado a lado nos mesmos bancos, unidos pelo amor à aprendizagem e animados pela esperança no futuro. Cada um deles é um presente precioso de Deus, uma confiança sagrada confiada aos nossos cuidados. No entanto, com profunda dor, esta alegria não se estende às nossas crianças de Gaza, que pelo terceiro ano consecutivo são privadas de seu direito à educação por causa da guerra. Suas escolas foram destruídas, suas salas de aula foram fechadas. Nós as levamos em nossas orações, implorando que a paz prevaleça em breve para que possam voltar a seus bancos e reivindicar sua infância."
Entender significa também considerar sua posição atual e sua história: o cuidado com a comunidade de língua hebraica, ou seja, a comunidade católica em Israel que se expressa em hebraico moderno e a decisão relacionada de traduzir os textos litúrgicos para o hebraico para a pequena comunidade cristã que estudou em escolas israelenses, o encargo de cinco anos como consultor da Comissão para as Relações com o Judaísmo, depois o encargo de Custódio da Terra Santa e, em seguida, a nomeação como patriarca.
Isso também se expressa na dor que ele manifesta, hoje que é patriarca, pelas enormes consequências que tantos anos sem escola terão para todos os jovens de Gaza, pelas implicações contidas no fato de que ele repete assiduamente que em Gaza não se encontram antibióticos e, assim, alguns pacientes submetidos a cirurgias podem morrer mesmo se a operação for bem-sucedida, por causa das infecções que podem surgir, como ele se expressou em outubro de 2023 ao se oferecer ao Hamas em troca das crianças israelenses feitas reféns:
"Se estou pronto para uma troca? Qualquer coisa, se isso também puder levar à liberdade e trazer de volta para casa aquelas crianças, sem problemas. Da minha parte, disponibilidade absoluta."
Uma escolha muito clara e forte, como a que ele fez pouco depois, no Natal daquele ano: ao ir a Belém, ele escolheu pela primeira vez usar a kefiyah branca e preta, uma vestimenta da tradição árabe que se tornou um pouco um símbolo nacional palestino.
Nessa ocasião, em frente à Igreja da Natividade, o cardeal Pizzaballa trocou algumas palavras com os jornalistas que esperavam em frente à Basílica da Natividade: "Devemos parar os bombardeios em Gaza", segundo o Washington Post, "e devolver as pessoas a uma vida normal. Não posso dizer devolvê-las para casa, porque elas não têm mais uma casa para onde ir."
Duas posições muito claras assumidas em dias muito difíceis.
A Igreja de Pizzaballa
Reler a carta que ele enviou por ocasião do recente sínodo geral da Igreja, em 2021, ajuda a ter uma ideia sobre Pizzaballa:
"Em geral, estamos acostumados a interagir cada um em seu próprio contexto de referência: os jovens com os jovens, os religiosos com os religiosos, as famílias com as famílias, etc. Seria, a meu ver, importante, em vez disso, encontrar-se em todos os níveis: jovens com as famílias, encontrar os idosos nos asilos, fazer visitas às casas, encontrar realidades antes desconhecidas, as paróquias locais com os estrangeiros, os trabalhadores estrangeiros com os fiéis locais e assim por diante.
Mais do que fazer discursos teóricos, é útil ouvir e encontrar experiências, com as quais aprender: é mais útil ir a um mosteiro e ouvir a experiência de vida das religiosas do que fazer um discurso sobre a vida religiosa. É mais incisivo ouvir a experiência de vida de um paroquiano da Terra Santa do que elaborar uma maravilhosa teoria sobre a Igreja local. Mover-se também fisicamente da própria sala paroquial, do próprio centro para encontrar outra realidade da própria Igreja que não se conhece, penso que em muitos casos pode fazer a diferença."
É o que ele tem feito nestes anos. Seguindo-o, tem-se a impressão de ouvir uma das frases-símbolo do pontificado de Francisco: "A realidade é superior à ideia." Uma realidade que se deteriora com os muros ideológicos, quase sempre ligados à violência.
Talvez então se possa perceber um discurso em duas linhas: a do conflito israelo-palestino, nas formas a que chegou, e a que diz respeito ao cristianismo árabe mais amplo. Um discurso que me parece afastá-lo daquele cesaropapismo que o condiciona.
Cordeiros entre os lobos
No vasto Oriente, muita teologia se estruturou sobre a ideia de sinfonia de poderes, de fato submetendo o poder espiritual ao do rei cristão. Depois, quando o poder mudou, adequou-se, pedindo em troca proteção para as comunidades cristãs.
Aqui está o ponto; a realidade faz perceber a necessidade de reconstruir a fraternidade humana e, portanto, criar a proteção de todos os cidadãos e de seus direitos. Isso se sente no discurso de Pizzaballa, que, em sua formação, é um filho do Concílio Vaticano II. Seu "ficar em Gaza" é um ficar desarmado, em outra passagem ele disse "como cordeiros entre os lobos." Com a força do testemunho, ele tenta quebrar a ligação entre "religião" e "violência." É "violência", a meu ver, a palavra pouco usada, e da violência muito depende.
Isso também vale para os árabes cristãos, que muitas vezes são vítimas dela, mas que também parecem nostálgicos dos tempos em que o rei e o Estado eram cristãos. Mas sem a redescoberta da fraternidade humana, como chegar à cidadania comum com direitos iguais entre crentes no único Deus?
Este ponto não pode deixar de me remeter aos jovens da Primavera Árabe, que se viram divididos entre a necessidade das velhas lealdades de clã, que lhes permitiam a sobrevivência em Estados sem direitos para seus supostos cidadãos (na realidade, não eram), e o desejo de se realizarem como indivíduos detentores de suas ideias e de suas aptidões, finalmente cidadãos.
Eles escolheram o desejo, mas a violência, infiltrada por muitos assustados para sequestrar e desviar o trem da Primavera, afastou os cristãos da Primavera. A violência gera medo, reações, recusas. E, nesse caso, refluxos à sombra dos regimes.
Certamente não se pode enquadrar a mensagem do cardeal Pizzaballa segmentando-a, deve ser compreendida em seu conjunto e no presente, mas acredito que sua ação hoje tenha um valor e um alcance regional, embora diga respeito, em primeiro lugar, aos territórios sobre os quais ele tem competência. O cardeal Pizzaballa impressiona porque se mostra como a voz do Concílio Vaticano II onde há uma necessidade urgente dele, mas ainda pouco conhecimento e compartilhamento.
No entanto, as Igrejas orientais têm uma enorme riqueza não apenas litúrgica, mas também espiritual, como demonstra a história do monaquismo, e detêm tesouros eclesiais também surpreendentes para nós, conservando, por exemplo, antigos textos dos ritos de ordenação das diaconisas.
A história tem sido longa e dolorosa, mas o patrimônio para voltar a ser protagonista é inegável. A visão conciliar é a que permitiria a redescoberta e o ressurgimento.
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