07 Janeiro 2025
"A grande assembleia nacional que deve iniciar a fase constituinte está iminente, e este texto assume o difícil desafio. Mas o ponto decisivo não é o crédito ao novo "governo provisório" e ao novo homem forte da Síria. É a "bênção" da participação cristã que importa, especialmente quando fica claro que o que está se mostrando eficaz como instrumento é o autêntico "contrapoder" que emerge da sociedade civil síria, com seus diversos comitês populares.", escreve Riccardo Cristiano, jornalista italiano, em artigo publicado por Settimana News, 01-01-2025.
O Patriarca greco-ortodoxo de Antioquia, o sírio e o melquita pediram à comunidade internacional que suspenda as sanções contra a nova Síria. Isso foi oficialmente anunciado em um comunicado conjunto publicado em 29 de dezembro de 2024 no site do Patriarcado Ortodoxo de Antioquia. O texto traz outras importantes e talvez surpreendentes aberturas ao novo curso sírio, liderado pelo ex-jihadista al-Jolani, que agora voltou ao seu nome de registro civil, Ahmed al-Sharaa, e recebeu as altas hierarquias eclesiásticas cristãs da Síria.
Essa visão, marcada pela abertura e pela esperança, foi brilhantemente resumida pelo núncio apostólico na Síria, cardeal Mario Zenari, que, em entrevista ao Vatican News, descreveu o evento como algo que:
"Na história da Síria, até três semanas atrás, era inimaginável. Ouvi alguns testemunhos: os bispos e sacerdotes presentes saíram com certa esperança para o futuro da Síria. Ahmed Al Jolani prometeu que será uma Síria de todos, uma Síria inclusiva, e ao final desejou Feliz Natal e um ano de paz. Também devo dizer que, como essas autoridades religiosas vieram de diversas partes, e os de Aleppo estavam um pouco atrasados, ele quis esperar que todos estivessem presentes: é algo especial que promete coisas boas, esperamos. Também tive a oportunidade, há uma semana, de encontrar o novo ministro das Relações Exteriores, já que sou decano do Corpo Diplomático, e ele queria me ver. No nível das lideranças, há entendimento, devo dizer, sobre alguns princípios e valores fundamentais. Naturalmente, será necessário observar os fatos, passar das palavras às ações."
Pode parecer pouco, mas é muito significativo. É sabido que as hierarquias cristãs viam no regime dos Assad, e nos últimos anos em Bashar al-Assad, um protetor das minorias, especialmente dos cristãos, e um defensor contra grupos como ISIS e al-Qaeda, dos quais al-Jolani fez parte antes de iniciar um caminho diferente nos últimos anos, culminando na situação atual.
Em essência, o cardeal Zenari, que há anos, em suas decisões e no pleno respeito ao seu papel diplomático, nunca concedeu credenciais ao regime anterior, deixa claro que não há mais nostalgia por escolhas que levaram, de fato, à criminalização sumária da comunidade sunita pelo regime anterior, favorecendo tendências extremistas, revanchistas e opressoras.
Esse é um sucesso de sua diplomacia e de suas prioridades pastorais. Um sucesso que ele não reivindica, mas que merece reconhecimento. Tanto que, como mencionado, no site do Patriarcado Greco-Ortodoxo de Antioquia, encontram-se outras declarações importantes ao lado do pedido para que a comunidade internacional revogue as sanções que dificultam a reconstrução da Síria e a vida dos sírios. Por exemplo, ao tratar do drama da emigração, legal ou ilegal, afirma-se que a remoção das sanções é um passo indispensável para permitir que os refugiados considerem retornar. O sofrimento de todos os sírios é reconhecido.
No documento, afirma-se expressamente que a Síria precisa de democracia, aquela democracia que, em 2011, alguns consideravam o país "não pronto" para adotar. Seus pilares são identificados na cidadania, reconciliação, dignidade e "liberdade".
A proteção das minorias não é mencionada; em vez disso, destaca-se a escolha de uma redação conjunta para a nova Constituição, na qual, com linguagem surpreendente, nova e incomum, se pede a participação de "homens e mulheres, jovens e idosos". Em um estilo claramente e incomumente bergogliano, que parece derivado do Documento sobre a Fraternidade Humana de Abu Dhabi, insiste-se com visão e coragem que, sobretudo, jovens e mulheres devem participar da construção do futuro do país. Uma revolução conceitual e lexical! De fato, pede-se um Estado moderno, laico e equidistante.
A grande assembleia nacional que deve iniciar a fase constituinte está iminente, e este texto assume o difícil desafio. Mas o ponto decisivo não é o crédito ao novo "governo provisório" e ao novo homem forte da Síria. É a "bênção" da participação cristã que importa, especialmente quando fica claro que o que está se mostrando eficaz como instrumento é o autêntico "contrapoder" que emerge da sociedade civil síria, com seus diversos comitês populares. Esse "contrapoder", dialético em relação às instituições, mas enraizado na determinação de participar da formação de uma nova Síria, foi decisivo para estabelecer a escolha de escrever conjuntamente uma nova carta constitucional, envolvendo todos os grupos presentes, em vez de revisar a antiga Constituição em ambientes restritos do novo governo provisório.
Esse processo dialético, plural e atento a dialogar com as novas autoridades, é o germe pluralista que pode trazer esperança. Depois, veremos. Mas este texto patriarcal anuncia, de fato, um novo tempo.
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A virada dos patriarcas. Artigo de Riccardo Cristiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU