06 Setembro 2025
Em 2024, os gastos com rearmamento dos 27 Estados-membros da União Europeia atingiram um recorde histórico, chegando a 343 bilhões de euros. Um número sem precedentes, de acordo com o relatório anual da Agência Europeia de Defesa (EDA). Esse número representa um aumento significativo de 19% em relação a 2023, elevando o gasto total para 1,9% do Produto Interno Bruto europeu (cada vez mais próximo daqueles 5% exigidos pelo governo estadunidense de Donald Trump).
A informação é publicada por L'Osservatore Romano, 03-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
De acordo com o documento publicado pela AED (para o período de 2024-2025), pela primeira vez os investimentos em defesa ultrapassaram em muito os 100 mil milhões de euros, o equivalente a 31% da despesa total, um recorde histórico desde o início da coleta de dados.
Além disso, no ano passado, 25 Estados-membros aumentaram as despesas com a defesa em termos reais, um a mais do que em 2023, enquanto apenas dois países (Portugal e Irlanda) registaram uma leve diminuição.
Dezesseis Estados-membros aumentaram a despesa em mais de 10%, em comparação com 11 em 2023.
O aumento foi impulsionado principalmente por níveis recorde de compras de equipamentos militares e pelo aumento do investimento em pesquisa e desenvolvimento. Essa tendência reflete a vontade dos Estados-membros de reforçarem as suas capacidades militares em resposta às mudanças do contexto de segurança internacional.
Numa declaração de Bruxelas, a Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas, sublinhou que "a UE está gastando valores recordes em defesa para garantir a segurança dos nossos cidadãos. E não vamos parar nisso". "Esses investimentos", especificou Kallas, "serão destinados a todos os setores, desde pesquisa e desenvolvimento até a aquisição conjunta e a produção de componentes essenciais de defesa."
"A União Europeia está mobilizando todas as alavancas financeiras e políticas disponíveis para apoiar nossos Estados-membros e empresas europeias nesse esforço. A defesa hoje não é um luxo, mas um elemento fundamental para a proteção dos nossos cidadãos. Essa deve ser a era da defesa europeia", acrescentou a Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança.
Embora os gastos europeus continuem a crescer, e se espere que aumentem ainda mais em 2025, o relatório destaca que continuam a ser inferiores aos de grandes potências militares, como os Estados Unidos. Os autores do relatório destacaram a necessidade de "investimentos sustentados e uma maior colaboração para maximizar a eficiência e garantir a interoperabilidade entre as forças armadas da União". O alcance da nova meta da OTAN de 3,5% do PIB exigirá um esforço ainda maior, com gastos totais estimados em mais de 630 bilhões de euros por ano.
O documento da Agência Europeia de Defesa também listou previsões de crescimento significativas para 2025. Para este ano, prevê-se que os gastos da UE com rearmamento atinjam 381 bilhões. Os gastos em toda a União são estimados em 2,1% do PIB em 2025, superando pela primeira vez desde o início dos registros da AED a anterior meta de 2 % da Aliança Atlântica. Os investimentos em defesa deveriam alcançar quase 130 bilhões de euros em 2025 (em comparação com os 106 bilhões de 2024), enquanto os gastos em pesquisa e desenvolvimento poderiam aumentar para 17 bilhões (em comparação com os 13 bilhões de 2024).
Após o recesso de verão, o Parlamento Europeu retomou os trabalhos, tendo ao centro um dos assuntos mais “quentes” da agenda, ou seja, o Programa de Capacidade de Defesa até 2030, o antigo plano para rearmar a Europa, que ganhou novo nome.
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