14 Março 2025
Defesa e segurança são palavras que neste momento os líderes europeus estão usando de forma hipócrita. Aliás, mais que isso: “Eles as usam para zombar da gente. O projeto prevê 800 bilhões de euros para rearmar a Europa, certamente não para a defesa e a segurança”. Não mede as palavras, Monsenhor Giovanni Ricchiuti. Em entrevista ao “L'Osservatore Romano”, o presidente da Pax Christi Itália e arcebispo emérito de Altamura - Gravina - Acquaviva delle Fonti denuncia com veemência o que mais preocupa a ele e ao seu movimento católico internacional para a paz nestas últimas horas: “O fato de que o princípio da dissuasão militar está imprimindo à Europa uma inversão de marcha em relação aos valores fundamentais que a caracterizaram até agora, valores que sempre negaram a utilidade da guerra e privilegiaram o diálogo e a discussão”.
A entrevista é de Federico Piana, publicada por L'Osservatore Romano, 12-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
É um enorme “não”. Um não ao aumento dos gastos militares para a compra de novas armas que deveria assustar a todos: crentes e não crentes, leigos e consagrados, jovens e idosos.
Um não para a suposta inevitabilidade do destino de uma Europa que, tendo fracassado em seus esforços diplomáticos para tentar resolver a trágica guerra na Ucrânia, agora não vê outra solução a não ser aquela da força: “O caminho da contraposição bélica não é o correto. E tudo isso é um futuro que não deveria nos pertencer e que não nos agrada. O verdadeiro objetivo deveria ser reconstruir a entidade política e institucional da Europa capaz de realmente conduzir a uma real pacificação”.
Enquanto na França, Grã-Bretanha e Alemanha o debate sobre o rearmamento está ficando cada vez mais acalorado com a hipótese de uma aceleração para obter o mais rápido possível fundos envolvendo também empresas privadas, Monsenhor Ricchiuti lembra que as duas primeiras seções da Pax Cristi - fundada há 80 anos das cinzas da Segunda Guerra Mundial - nasceram na França e na Alemanha: “É assombroso ver que, hoje, justamente os franceses e os alemães são os maiores promotores de uma perigosa escalada militar, aderindo a um axioma que parece ter voltado à moda: se você quer a paz, prepare-se para a guerra. Mas nós, ao contrário, estamos com Paulo VI, que disse: “Se você quer a paz, prepare a paz”.
O que o arcebispo também não gosta é de um termo que ele considera errôneo: “Não gosto de ser chamado de pacifista: prefiro o termo pacífico, porque indica um homem que, com seu comportamento, com suas atitudes, molda, forma o mundo para a paz. E preparar o mundo para a paz significa não recusar a diplomacia, não negar a negociação”.
No entanto, ele tem plena consciência de que é preciso muita coragem para seguir esse caminho.
“Exigimos isso daqueles que governam os povos, mas nunca somos ouvidos. Nossos políticos devem ter a coragem de seguir outros caminhos, caminhos que conduzem à paz”.
Como aquele que ele considera como a única possibilidade para resolver o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que poderia ser longo, mas frutífero: “Seria necessário o trabalho de um pacificador que se inserisse entre os dois contendores e os fizesse ver a razão, porque os erros não estão apenas em um lado. A solução atual é uma paz que proteja as exigências de ambos os lados. A Europa, juntamente com a China e os Estados Unidos, deve se tornar uma embaixadora e não pensar em rearmamento”.
Há outra questão pela qual o presidente da Pax Cristi é contra o investimento inicial de 800 bilhões de euros para fins militares: esse dinheiro seria retirado dos gastos com o bem-estar social, incluindo a saúde. “Gostaria que os governantes da França, Alemanha e Itália olhassem nos olhos de nossos doentes, idosos e jovens e sentissem em suas costas o arrepio da piedade, porque não é possível que, em nome do rearmamento, se possam derrogar os direitos fundamentais das pessoas. Diante de mim tenho Jesus, o manso, o humilde, o pacífico, e Dele devo dar testemunho”.