04 Setembro 2025
O Papa Leão XIV, em uma decisão surpreendente, convidou o presidente israelense Isaac Herzog para uma reunião no Vaticano esta semana com ele e seus principais assessores para discutir a segurança dos cristãos no Oriente Médio e outros assuntos políticos.
A reportagem é de Elise Ann Allen, publicada por Crux Now, 03-09-2025.
Embora não seja necessariamente inédito, é certamente raro que um papa convide um chefe de estado estrangeiro para uma visita oficial, já que os pedidos geralmente são feitos vice-versa.
Em uma declaração aos jornalistas em 2 de setembro, em vez da visita de Herzog na quinta-feira, um porta-voz do Vaticano disse que "é prática da Santa Sé atender a pedidos de audiência feitos ao pontífice por chefes de Estado e de governo, não é prática enviar-lhes convites".
O Papa Francisco convidou pessoalmente o presidente israelense Shimon Peres e o presidente palestino Mahmoud Abbas para os Jardins do Vaticano em junho de 2014, depois de terem visitado a Terra Santa apenas algumas semanas antes, para participar de um culto especial de oração ao lado do Patriarca Bartolomeu I de Constantinopla.
No entanto, o convite era para participar de uma cerimônia de oração ao lado de outro líder religioso, e não um convite para uma visita formal de Estado, o que torna o convite de Leão a Herzog ainda mais incomum.
Em uma declaração de 2 de setembro anunciando a visita de Herzog a Roma, um porta-voz do gabinete do presidente disse que Herzog partirá para Roma na quinta-feira de manhã para uma excursão de um dia e se encontrará com o Papa Leão e o Secretário de Estado do Vaticano, o cardeal italiano Pietro Parolin.
“No centro das reuniões estarão os esforços para garantir a libertação dos reféns, a luta contra o antissemitismo global e a proteção das comunidades cristãs no Oriente Médio, além de discussões sobre outros assuntos políticos”, disse o comunicado.
Após suas reuniões formais, Herzog fará um tour pelos Arquivos e Biblioteca do Vaticano antes de retornar a Israel naquela tarde.
Desde sua eleição, Leão XIV tem tentado trilhar um caminho muito delicado e equilibrado na guerra de Gaza, pedindo repetidamente pela paz e pelo acesso à ajuda humanitária. No entanto, ele também tem insistentemente pedido a libertação de todos os reféns.
Em sua catequese para a audiência geral de 27 de agosto, ele lamentou que a guerra de Gaza esteja causando “tanto terror, destruição e morte”.
A Guerra de Gaza começou em 7 de outubro de 2023, após um ataque surpresa de militantes do Hamas contra Israel, que deixou 1.200 mortos e 251 pessoas feitas reféns.
Israel lançou uma ofensiva terrestre e aérea de retaliação em Gaza para expulsar o Hamas da liderança, com o conflito resultante resultando na morte de cerca de 70 mil pessoas até o momento em Gaza, de acordo com autoridades palestinas.
Um acordo de paz firmado no início deste ano fracassou e, enquanto isso, Israel aumentou seus ataques a Gaza, com civis representando a maioria dos milhares de mortos.
Em 17-07-2025, um tanque israelense disparou contra a Igreja da Sagrada Família, a única paróquia católica em Gaza, onde centenas de pessoas estavam abrigadas. O ataque matou três pessoas e feriu várias outras, incluindo o padre Gabriel Romanelli, pároco da igreja.
Os combates em Gaza e as proibições de entrada no território deixaram grande parte da população sem acesso a necessidades básicas, como alimentos, água, energia e suprimentos médicos, bem como ajuda humanitária essencial.
Em seu apelo na última quarta-feira, o Papa Leão implorou que todos os reféns fossem libertados, que um cessar-fogo permanente fosse alcançado e pediu que a entrada segura de ajuda humanitária fosse facilitada e o direito humanitário fosse totalmente respeitado, "particularmente a obrigação de proteger os civis e as proibições de punições coletivas, o uso indiscriminado da força e o deslocamento forçado de populações".
“Imploremos a Maria, Rainha da Paz, fonte de consolação e esperança. Que a sua intercessão traga reconciliação e paz a esta terra tão querida a todos”, disse ele.
A Santa Sé tem consistentemente pedido uma solução de dois Estados para o conflito Israel-Palestina, expressando repetidamente a convicção de que esta é a única maneira viável de acabar com as décadas de violência que assolam a região.
Em um editorial publicado em 2 de setembro no Vatican News, a plataforma de mídia estatal oficial do Vaticano, o diretor editorial Andrea Tornielli lamentou a polarização em torno da guerra, bem como a "manipulação, simplificação e aproximação que, em um contexto tão complexo, correm o risco de enganar e causar danos".
“Isso pode ser visto na linguagem usada, em uma abordagem extremamente emotiva e na incapacidade de tentar ouvir o outro”, disse ele.
Ele chamou o ataque do Hamas a Israel em 2023 de "um ato desumano de terrorismo", mas também chamou a retaliação de Israel de "desproporcional, indo muito além de qualquer limite eticamente aceitável, como reconhecido não apenas por inúmeras autoridades internacionais, mas também por muitas vozes dentro do próprio Israel e, mais amplamente, no mundo judaico".
Tornielli opinou que, além da retaliação pelo "massacre" de 07-10-2023, Israel tem "outros objetivos", como a expansão dos assentamentos na Cisjordânia, a anexação de todos os territórios na área e a deportação forçada de todos os palestinos.
Tudo isso, disse ele, “leva a pensar que o objetivo vai muito além da eliminação do Hamas ou da garantia de segurança do Estado de Israel”.
Observando que houve até mesmo novos assentamentos aprovados nos últimos dias, enquanto a guerra continua a grassar, Tornielli disse que isso é ilustrativo dos planos para um "novo Oriente Médio" e é uma evidência "primeiro silenciosamente e agora cada vez mais abertamente, (de) um tipo de nova ordem na qual, no entanto, parece não haver lugar para o povo palestino".
Enquanto milhares de palestinos estão sendo evacuados e “zonas especiais” estão sendo designadas para aqueles que optarem por ficar, Israel continua a aumentar suas operações militares, apesar da condenação generalizada da comunidade internacional, observou Tornielli, e condenou “a fraqueza da comunidade internacional e dos organismos multilaterais”.
Tornielli disse que as armas da Igreja são a oração e a mensagem evangélica de paz e insistiu que nenhum futuro pode ser construído pela força ou pelo “desprezo pela vida humana, ou pela recusa da aspiração das pessoas a uma existência digna e segura”.
Ele também pediu a libertação de todos os reféns ainda mantidos pelo Hamas e pediu que os palestinos sejam tratados com dignidade e humanidade, expressando esperança de que zonas de não combate sejam estabelecidas em Gaza e que as chamadas "evacuações voluntárias" de palestinos acabem.
Enquanto o conflito continua, Tornielli disse que a igreja continuará a cuidar da humanidade e tentará curar suas feridas enquanto defende uma paz duradoura que leve a um futuro sem ressentimento ou ódio.
“Há vários anos, a Santa Sé reconhece formalmente o Estado da Palestina, e não podemos ficar em silêncio diante do que está acontecendo”, disse ele, pedindo que “a barbárie da guerra seja interrompida”.
Ele também pediu que “seja alcançada uma solução pacífica para o conflito, que o direito humanitário seja observado, que a obrigação de proteger a população civil seja respeitada e que a punição coletiva, o uso indiscriminado da força e o deslocamento forçado da população sejam proibidos”.
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