Como estou silenciosamente combatendo a tomada de Washington por Trump. Artigo de Tom Roberts

Foto: Geoff Livingston/Flickr

Mais Lidos

  • “A América Latina é a região que está promovendo a agenda de gênero da maneira mais sofisticada”. Entrevista com Bibiana Aído, diretora-geral da ONU Mulheres

    LER MAIS
  • A COP30 confirmou o que já sabíamos: só os pobres querem e podem salvar o planeta. Artigo de Jelson Oliveira

    LER MAIS
  • A formação seminarística forma bons padres? Artigo de Elcio A. Cordeiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

28 Agosto 2025

"Estamos todos juntos nessa. Os soldados são concidadãos. A maioria dos que encontrei eram pessoas de cor. Não foi para isso que foram treinados. Estão sendo usados ​​como acessórios nas loucuras de Trump e Miller. Não estão sendo mobilizados para impedir o crime".

O artigo é de Tom Roberts, publicado por National Catholic Reporter (NCR), 26-08-2025.

Tom Roberts foi editor executivo da NCR de outubro de 2018 a abril de 2020. Ele é autor de "A Igreja Católica emergente: a busca de uma comunidade por si mesma" (2011) e "Joan Chittister: sua jornada da certeza à fé" (2015), ambos publicados pela Orbis Books.

Eis o artigo.

Eu estava no metrô viajando para Washington recentemente para participar de uma Vigília de Oração Multirreligiosa em Columbia Heights, que buscava ajuda divina para retomar a cidade e proteger os imigrantes.

Considerando o tema e o mais recente excesso performático do presidente Donald Trump — sua tentativa de tomar o poder em Washington, DC —, fiquei apreensivo no trem, preparado para deixar a raiva e a repulsa fluírem livremente. Ao trocar de trem na Gallery Place, vi um dos soldados da Guarda Nacional, um jovem negro, integrante da equipe de Trump, encostado em uma parede conversando com um dos policiais de trânsito regulares do metrô.

Eu podia sentir um novo combustível alimentando a raiva. Como eu também tinha dificuldade para me orientar, queria ter certeza de que estava pegando o trem certo e precisava pedir ajuda. Fui em direção à polícia do metrô.

Então, algo me fez mudar de atitude. Talvez fosse a atitude casual do soldado. Talvez fosse a percepção de que ele estava ali, sem perigo iminente à vista, um peão infeliz no grande tabuleiro de xadrez de outra pessoa. Decidi que usaria a necessidade de pedir informações para talvez dizer alguma coisa. Não com raiva. Não com nojo.

Quando cheguei lá, simplesmente disse olá, perguntei como chegaria ao próximo trem e, antes de ser escoltado até meu destino pela prestativa polícia do metrô, disse ao soldado: "Sei que você está apenas obedecendo a ordens. Mas quero que saiba que estou triste por você ter sido colocado nessa situação".

Ele sorriu, assentiu várias vezes e disse: "Obrigado".

No dia seguinte, precisei pegar alguém na Union Station, então fui cedo para dar uma olhada no que estava acontecendo lá depois do discurso insano do vice-chefe de gabinete da Casa Branca, Stephen Miller, alguns dias antes, na hamburgueria Shake Shack, no saguão revestido de mármore da estação. Para constar, não sou um "hippie branco idiota" nem "com mais de 90 anos". Certamente não sou "comunista".

Também não quero fazer nada que possa alimentar o ódio e a raiva juvenil de Miller.

Acabei conversando com mais seis soldados da Guarda Nacional, dois pares andando de um lado para o outro dentro da Union Station, e um par do lado de fora, perto de seu grande veículo militar bege. Em todos os casos, eu disse a mesma coisa — entendi que eles estavam apenas cumprindo ordens, mas queria dizer que estava triste por eles terem sido colocados naquela situação. Naquele dia, porém, acrescentei uma frase: "Espero que vocês não recebam ordens para fazer algo de que todos nós acabaríamos nos arrependendo". E eu disse a eles, como fiz da primeira vez, que espero que fiquem em segurança.

Estamos todos juntos nessa. Os soldados são concidadãos. A maioria dos que encontrei eram pessoas de cor. Não foi para isso que foram treinados. Estão sendo usados ​​como acessórios nas loucuras de Trump e Miller. Não estão sendo mobilizados para impedir o crime. Como disse um morador de uma área de alta criminalidade na cidade ao jornal The New York Times: "Se Trump estiver genuinamente preocupado com a segurança dos moradores de Washington, DC, eu veria a Guarda Nacional no meu bairro. Não estou vendo isso e não espero ver. Não acho que Trump esteja trazendo a Guarda Nacional para proteger bebês negros no sudeste." O Wall Street Journal encontrou um sentimento semelhante.

A arte performática só funciona onde há público garantido, em lugares como a Union Station, ao redor do Capitólio e perto da Casa Branca, fora de casas noturnas movimentadas. Consigo imaginar tropas aparecendo em cartões-postais: "Saudações da Capital Ocupada da Nação!"

Não sei se meus encontros com a Guarda Nacional se resumem a algo mais do que uma distração no que parece ser uma missão muito tediosa para soldados cidadãos. A ordem de portar armas ainda não havia entrado em vigor. Se os sorrisos, os acenos e os agradecimentos servem de indicação, eles apreciavam ser tratados como concidadãos. O que vi naqueles rostos eram pessoas comuns, talvez maridos, pais, muito provavelmente pessoas com empregos e carreiras fora do serviço da Guarda Nacional.

Precisamos fazer o que pudermos para conter o barulho insano de pessoas como Trump e Miller: protestos, cartazes e, certamente, votação. A demonstração de oração em praça pública foi um testemunho poderoso. A ajuda divina para combater as mentiras e o racismo desta administração seria bem-vinda.

E então, talvez, ocasionalmente, uma conversa tranquila e compreensiva com outros cidadãos que por acaso usem uniformes militares. Eles deveriam saber o que pensamos. Estamos todos juntos nessa. A necessidade de nos entendermos só aumentará à medida que a ameaça do Salão Oval aumentar.

Leia mais