22 Agosto 2025
Um livro precioso está disponível nas livrarias há poucos dias. Um daqueles que proporcionam uma sensação de bem-estar que não é apenas física, que desenvolve em nós um espaço interior vital que torna nossa existência culturalmente mais rica, mais bela e mais intensa.
A reportagem é de Antonio Salvati, publicada por Avvenire, 20-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Foram publicados muitos dos sermões que Paolo Ricca, renomado teólogo valdense, proferiu à Comunidade de Santo Egídio em Roma entre 2014 e 2024. O livro, Uniti dalle parole di Gesù [Unidos pelas Palavras de Jesus] – organizado por Paolo Sassi – é enriquecido por um prefácio apaixonado de Andrea Riccardi e é publicado pela Edizioni Magister, de Timoteo Papapietro, um protestante pentecostal. Paolo Ricca – falecido em 14 de agosto de 2024 – que trabalhava com grande entusiasmo nesses textos para publicação, gostava da ideia desse livro: "Porque reúne as palavras ditas por um protestante em uma comunidade católica e é publicado por um pentecostal. (...) Para mim, é uma maneira de expressar – de alguma forma, da melhor forma possível, com nossos limitados recursos – este fato: que Deus é maior do que as igrejas. Ele também é melhor do que as igrejas."
Livro "Uniti dalle parole di Gesù" organizado por Paolo Sassi
Ricca não foi o primeiro pastor valdense a pregar com regularidade em Santo Egídio. Antes dele, todas as semanas, por muitos anos, mesmo quando ficou cego, Valdo Vinay, falecido em 1990, fez o mesmo. A presença de Vinay – definido por Fulvio Ferrario como um gigante do cristianismo italiano de seu tempo – em Santo Egídio foi intensa e fraterna por muitos anos: "Ele contribuiu muito – lembrou significativamente Andrea Riccardi – para a formação bíblica de uma parte da Comunidade, mas também – com suas relações e sua pessoa – criou ou um tecido de familiaridade com um mundo, o evangélico, não apenas italiano, que não era imediatamente próximo da Comunidade." Nossa fé tem "uma série de padres e madres que, quando éramos jovens ou mais tarde, a pregaram para nós, abrindo as páginas da Escritura entre nós. Recordo apenas, sem pretender ser exaustivo, além de Ricca, o próprio Vinay e o teólogo ortodoxo francês Olivier Clément (...).
Muitas vezes, são pessoas que vêm de trajetórias existenciais e histórias, que não são imediatamente as nossas, mas, precisamente por isso, são altamente significativas."
Ricca foi um cristão que se sentiu em casa em todas as igrejas. Este era o seu segredo: a consciência de que a Igreja era maior do que o seu próprio mundo eclesial. Em 1993, afirmou que devemos "sair do narcisismo: entrar no horizonte ecumênico significa superar a própria centralidade e ‘se ressourcer’, como dizia Congar, nas duas centralidades [...] a centralidade da Palavra de Deus e a centralidade do próximo, em primeiro lugar do outro cristão". Ele estava ciente das dificuldades e as crises do ecumenismo. Essas dificuldades e crises são ainda mais agudas hoje porque estão entrelaçadas com os nacionalismos e os conflitos.
Vincenzo Paglia argumentou recentemente que o cristianismo europeu deve urgentemente repropor, com ousadia e criatividade, a unidade cristã. Infelizmente, "o ecumenismo parece sobreviver apenas na celebração e na devoção, mas está se esvaziando de seriedade teológica e cultural. Devemos nos perguntar com seriedade: os cristianismos realmente querem se reconciliar? As comunidades cristãs realmente se dão conta da marginalização a que a divisão da fé condena a revelação do Evangelho? A Europa foi profundamente marcada — em suas riquezas e contradições — pelas três tradições cristãs: católica, ortodoxa e protestante. É verdade que o cristianismo nasceu fora da Europa, mas foi na Europa que recebeu sua marca cultural e intelectual historicamente mais eficaz, como Ratzinger gostava de enfatizar.
A divisão dos cristãos, continua Paglia, na "Europa — e não só, obviamente — é um escândalo. Mas é ainda mais incrível que as forças unificadoras que, desde o Vaticano II, haviam mudado o clima nas relações tanto entre os fiéis quanto entre as hierarquias, tenham agora mais que esfriado. Ainda me lembro da emoção (que também foi um aviso) da afirmação do grande Patriarca Atenágoras: 'Igrejas irmãs, povos irmãos'". As divisões e os conflitos que permeiam o tecido da Europa não encontram as Igrejas cúmplices em sua divisão? De forma mais geral, "a Europa, cristã-judaica-laica, é chamada a desempenhar um papel decisivo no envolvimento das outras religiões, a começar pelo islamismo. A fé cristã (em suas três tradições) e a razão ocidental (além da democracia política) podem se tornar os principais atores do diálogo intercultural e inter-religioso, com o objetivo principal de afirmar os direitos humanos universais”. Hoje, em um tempo frio não apenas de ecumenismo, mas de relações pacíficas, é necessário lembrar Ricca e sua consciência de uma comunidade cristã ampla e variegada, na qual se sentia à vontade em todos os lugares.
Em 2014, na Semana da Unidade dos Cristãos, ele descreveu a situação das igrejas divididas da seguinte forma: "Há cinquenta anos, oitenta anos atrás, estávamos apenas divididos; agora não; agora estamos divididos e unidos. Unidos e divididos. Essa é a nossa condição, uma condição altamente contraditória, mas certamente é um passo à frente em comparação a quando éramos apenas divididos [...]. Sou pastor da Igreja Valdense e aceito o convite para pregar em uma igreja católica, e os católicos participam e ouvem a pregação. É algo que era inconcebível há sessenta anos, inconcebível [...], e esse é o paradoxo em que nos encontramos, mas é apenas uma etapa, devemos passar para a próxima”.
Estou entre aqueles que tiveram o prazer e o privilégio de ouvir Ricca pregar em Santa Maria in Trastevere. Como outros, conservo a imagem não de um pregador distante, mas de um homem curioso que queria participar das dinâmicas da vida comunitária e dos outros. Sempre sorrindo. Ele vivia e pregava como se já estivéssemos unidos. E, acima de tudo, não era um idoso reservado. Um homem de fraternidade. Não escondia o peso dos anos. Mas a sua era uma bela maneira de ser idoso. Ricca sentia a exigência de responder às perguntas dos seus contemporâneos sobre a fé cristã. Escrevia sobre Deus e a teologia. Paolo Sassi observou acertadamente que "a sua pregação tinha o poder de se gravar com singular eficácia na memória de quem o ouvia falar e a característica de ser lembrada com precisão mesmo depois de tempo". Até o fim, lutou sua boa luta com a força frágil da pregação e da escrita. Qualquer um que tenha lido alguns de seus livros sabe disso.