21 Agosto 2025
O mais recente desenvolvimento nestas últimas semanas de negociações russo-ucranianas, segundo Moisés Naim, o teórico do "fim do poder", é o papel da Europa. E há também Trump.
A entrevista é de Francesca Paci, publicada por La Stampa, 20-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Volodymir Zelensky pode confiar em Donald Trump?
De jeito nenhum. Nesse jogo, ninguém confia em ninguém, embora, não podendo fazer diversamente, todos alardeiam o contrário: também a Europa, o novo ator importante que surgiu nos últimos meses, não tem um parceiro por quem possa pôr a mão no fogo.
O que o presidente estadunidense espera de Putin, agora bastante enfraquecido em sua potencial chantagem energética?
Putin precisa de Trump para recuperar a reputação perdida da superpotência russa, castigada por sanções e reduzida à condição de pária: esse é o sentido da foto de Anchorage, em que um presidente considerado criminoso de guerra aperta a mão do líder do mundo livre. Trump, por sua vez, quer a liderança global porque precisa desesperadamente desviar a atenção do caso Epstein, no qual corre grande risco, e se livrar da imagem de predador sexual, reinventando-se como herói geopolítico.
Acha que ele realmente almeja o Prêmio Nobel da Paz?
Trump almeja a tudo que o absolva e também quer ser amado. Ele é um narcisista clássico; bajulá-lo é a chave para manipulá-lo.
É essa a tática usada por europeus e ucranianos em Washington na segunda-feira?
Por enquanto, nada além de retórica resultou daquela reunião; por um acordo teremos que esperar. É claro que surgiu o apoio europeu a Kiev, o que é muito bom. Mas as verdadeiras questões são as garantias de segurança e as sanções: a primeira em particular, com o empenho de evitar possíveis invasões futuras, é fundamental para Putin.
Não se fala de outra coisa além do encontro bilateral entre Putin e Zelensky; parece que Moscou não descarta isso agora. Esse dia chegará?
Impossível dizer, justamente pela falta de confiança entre os protagonistas. Um quer redesenhar o mapa regional, o outro quer a garantia de que isso não aconteça: o jogo se joga no meio termo.
O quanto Trump mudou a política externa estadunidense em seis meses? Será que ele conseguirá tornar a América "great again"?
Trump aprende fazendo. Ele certamente impôs uma transformação radical na política global, começando pela economia, introduzindo um novo sistema. Só que, uma vez posto em prática, o que ele diz resulta drasticamente diferente: seus anúncios não correspondem às ações. A maior ameaça agora são as eleições de meio de mandato, nas quais é difícil, mas não impossível, que os democratas assumam o controle do Congresso: nesse caso, todos os anúncios de Trump seriam congelados.
Ao defender Kiev, a Europa parece ter redescoberto sua identidade. Acredita ser uma virada concreta e que o velho continente voltou a assumiu o controle de seu próprio destino?
Ainda não chegamos lá, mas hoje a Europa está fazendo mais nessa direção do que em décadas. Estávamos acostumados a vê-la dividida, incapaz de coordenação, burocrática, rica de história, mas pobre de poder, mas, em vez disso, começou um processo importante: a unidade europeia é um grande desenvolvimento, e o apoio garantido a Kiev a torna um ator com quem Trump, querendo ou não, deve se confrontar.
Macron não confia, acredita necessária a pressão de novas sanções. Concorda?
O problema das sanções é sua implementação; prometem muito, mas são facilmente contornadas. Até as sanções sobre o gás russo latem, mas não mordem, porque Putin, como ditador, pode impor enormes sacrifícios ao país.
As garantias de segurança preveem um Artigo 5 semelhante ao da OTAN sem a OTAN. Mas quem estaria colocando as tropas no campo?
O diabo está nos detalhes. Trump mal pode esperar para posar com Putin e Zelensky na Casa Branca mas, precisamente, falta a substância do acordo, os detalhes.
O afastamento dos Estados Unidos da Europa é irreversível?
É uma realidade que alguns veem como um pesadelo e outros como uma vitória. A China está tentando preencher o vazio deixado por esse afastamento, mas o mundo mudou; há novos atores, não apenas geopolíticos, e a globalização não é mais um fenômeno a ser manejado unilateralmente.