08 Agosto 2025
"Solidão é ter que guardar tudo para si, reprimir a raiva e a frustração, responder sempre 'tudo bem, obrigado', porque você não pode se dar ao luxo de dizer que está mal sem que algum curioso vá investigar sua vida, ou sem que se apressem para te salvar legiões de devotas samaritanas."
O artigo é de Piotr Zygulski, publicado por Settimana News, 06-08-2025.
Solidão não é estar sozinho; aliás, um padre muitas vezes tem gente demais ao redor, ou no seu encalço.
Solidão é não saber a quem confiar aquela sua paixão de verão, aquela preocupação que você não pode revelar do púlpito, aquela grande confusão que aprontou na noite passada, aquele problema com uma paroquiana insistente, com um catequista invasivo, com um confrade fofoqueiro ou com o bispo invejoso que te trata como uma peça no tabuleiro.
É ver suas necessidades humanas, relacionais, espirituais e psicológicas sendo pisoteadas em nome da funcionalidade. Quantas vocações, usadas mas ignoradas no íntimo, acabam murchando assim! Isso também não é, por acaso, “cultura do descarte”?
Arte: Padre, 1977 | Fernando Botero (Colômbia, 1932)
Solidão é ter que estar sempre disponível, senão as pessoas pensam mal. E pensam de qualquer forma, mesmo quando você de fato está disponível.
Solidão é ter que guardar tudo para si, reprimir a raiva e a frustração, responder sempre “tudo bem, obrigado”, porque você não pode se dar ao luxo de dizer que está mal sem que algum curioso vá investigar sua vida, ou sem que se apressem para te salvar legiões de devotas samaritanas.
Solidão é ser – ter que ser, aos olhos dos outros – antes de tudo um papel: o do clero. E esse ministério que te torna uma pessoa à parte.
Isso vale para todos: não precisamos de pessoas que perguntem superficialmente como estamos, mas de pessoas que nos pareçam suficientemente capazes de acolher, sem julgar nem se escandalizar, qualquer resposta que possamos dar.