11 Julho 2022
"Há tempo, os bispos questionam a saúde e o equilíbrio de seus padres. Em uma pesquisa de 2020, apareceram emergências preocupantes: 2% expostos ao burnout, consumo significativo de álcool e alguma exposição a estados depressivos", escreve Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, publicado por Settimana News, 10-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em 1 de julho, o corpo sem vida do padre François de Foucauld foi encontrado no bosque de Rambouillet (Versalhes, Paris).
Há poucos meses sem missão pastoral, o padre, de cinquenta anos, há algumas temporadas se via em conflito por suas orientações pastorais com uma parte da comunidade cristã a que servia (Bois-d'Arcy), com as instâncias diocesanas e os bispos que se sucederam. As muitas tentativas de mediação não resolveram o problema, agravando a distância e a solidão do interessado até a trágica conclusão.
Dinâmico e fortemente engajado com a evangelização desde sua ordenação em 2004, ele enfrenta suas primeiras dificuldades como pároco em Conflains-Sainte-Honirine em 2009. Em seguida, muda-se como coadjutor para outra paróquia, até chegar a Bois-d'Arcy.
Além do engajamento com o catecismo e a liturgia, inventa novas formas como a “missa dos curiosos” para os não frequentadores e iniciantes. Capaz de intuições brilhantes, mesmo que às vezes um pouco precipitadas, desestabiliza uma parte da paróquia que começa a mostrar seu descontentamento com o centro diocesano. Não faltam momentos de hostilidade, interrupções durante as homilias e até ameaças. O padre pede ao bispo para poder ler as cartas de crítica contra ele, mas não lhe é permitido, em nome da confidencialidade da comunicação.
Ele pede um confronto direto com seus críticos, mas eles não se apresentam. Recorre-se até à mediação profissional e, a conselho de um advogado, solicita-se a elaboração de um relatório formal sobre a situação na paróquia. O relatório escrito a quatro mãos (favorável e crítico) tem palavras desajeitadas sobre sua saúde mental e má gestão das finanças, prejudicando ainda mais o padre.
O novo bispo, Luc Crepy, anula o relatório e tenta encerrar o caso exigindo não recorrer a novas instâncias e sugerindo ao interessado um ano de estágio no Canadá. O padre não parte e insiste em conhecer os fatos e as acusações precisas que lhe foram dirigidas. Depois, a trágica conclusão no bosque de Rambouillet.
Na triste nota de informação, o bispo expressa sua grande tristeza e da diocese e menciona as explosões de raiva, incompreensão e agressão que se verificam entre amigos, parentes e paroquianos.
Em uma intervenção no La Croix, o interessado havia denunciado a falta de uma governança nas dioceses: “É proibido falar. Muitas vezes, um pequeno círculo de clérigos e leigos em torno do bispo assume o direito de ter a última palavra. Essa constrição ao silêncio imposta por alguém não é mais tolerável”.
A celebração do funeral (8 de julho), não presidida pelo bispo por vontade expressa da família, teve momentos intensos e tensos, como a interrupção da homilia, depois retomada, e o inesperado testemunho no final de um tio do falecido que disse: "Caros familiares e paroquianos... Todos nós nos fazemos a mesma pergunta: te suicidaste ou te suicidaram?".
Para muitos, por trás de um ato trágico como este, há um grito a ser interpretado que martela a consciência dos padres e das comunidades: quem cuida dos pastores diante dos enormes desafios da pastoral hoje? Nos últimos seis anos, houve cerca de uma dezena de suicídios de padres, atribuíveis apenas em parte a denúncias relativas aos abusos.
“Na França, a pressão social sobre padres e bispos é enorme”, escreveu o bispo G. Daucourt no Settimana News (cf. Francia: il suicidio dei preti, 2020). “A indiferença pela da prática, o desaparecimento do cristianismo na sociedade são desafios difíceis para todos. Podemos imaginar como sejam pesadas para o padre que representa a instituição” (I. De Gaulmyn, La Croix, 6 de julho).
Não faltam momentos de grande intensidade no país no que diz respeito ao clero como a canonização de Charles de Foucauld (15 de maio de 2022) à cuja descendência pertence a vítima. Houve também o luminoso testemunho de generosidade do monfortiano Pe. Olivier Maire, morto em 8 de agosto de 2021 por um refugiado que estava hospedado no convento.
No entanto, é difícil escapar do clima geral de exculturação do cristianismo e do peso das conclusões da Comissão Sauvé sobre os abusos. Ela recordou que as 216.000 vítimas estimadas estão ligadas a 2.900 - 3.200 sacerdotes no período entre 1950 e 2020. Ou seja, 3% do clero. Como é impossível não ver o crescimento do jovem clero conservador, aparentemente forte, mas incapaz de enfrentar a situação, que poderia em poucos anos atingir 40% de todo o presbitério nacional, facilmente exposto até mesmo a percursos de formação bastante duvidosos como mostra o recente bloqueio do Vaticano à ordenação de uma dezena de padres no seminário de Fréjus-Toulon.
Há tempo, os bispos questionam a saúde e o equilíbrio de seus padres. Em uma pesquisa de 2020, apareceram emergências preocupantes: 2% expostos ao burnout, consumo significativo de álcool e alguma exposição a estados depressivos.
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França: por trás do suicídio de um padre - Instituto Humanitas Unisinos - IHU