22 Julho 2025
A preferência do presidente americano Donald Trump por tarifas em vez de sanções tem sido descrita tanto como a "pior aposta do mundo" quanto "uma poderosa e comprovada fonte de influência" para proteger os interesses nacionais dos Estados Unidos.
A reportagem é de Nik Martin, publicada por DW Brasil, 07-04-2025.
Desde seu retorno à Casa Branca em janeiro, as ameaças tarifárias de Trump contra dezenas de países criaram grande incerteza entre empresas americanas e parceiros comerciais globais.
As promessas de sobretaxas elevadas sobre produtos estrangeiros, seguidas de reviravoltas abruptas, parecem servir aos objetivos políticos ou econômicos mutáveis de Trump. No entanto, os mercados financeiros permanecem tensos, sem saber o que pode sair da manga do presidente.
A tarifa sobre a China, maior rival econômico e militar dos EUA, atingiu níveis históricos em abril, disparando para 145% antes de ser significativamente reduzida no mês seguinte após negociações comerciais em Londres.
O aumento repentino e a posterior reversão das tarifas mostram como Trump as utiliza de forma flexível para corrigir o que considera ser um comércio injusto, com base em disputas comerciais passadas.
"O que molda a visão do presidente é a ascensão rápida do Japão nos anos 1980, e a sensação de que os japoneses estavam superando a icônica indústria automobilística americana porque os EUA foram generosos demais em seus termos comerciais", explica Jennifer Burns, professora associada de história na Universidade de Stanford.
As tarifas têm sido o principal recurso de Trump para lidar com o enorme déficit comercial dos EUA, especialmente com a China, que somou 295 bilhões de dólares (R$ 1,4 trilhão) em 2024, segundo o Censo americano. Elas também se alinham à sua agenda America First (EUA em primeiro lugar), de proteção às indústrias locais e estímulo à criação de empregos no país.
A Casa Branca defendeu a abordagem do presidente, insistindo que as tarifas podem ser rapidamente implementadas e, ao contrário das sanções, não fecham completamente os mercados estrangeiros às empresas americanas.
"[Trump] pode colocar essa pressão quando quiser e depois recuar quando os mercados começarem a entrar em pânico ou quando isso deixar de servir ao seu propósito", disse à DW Sophia Busch, diretora associada do Centro Geoeconômico do think tank Atlantic Council. "Isso é muito mais fácil com tarifas do que com sanções."
Embora amplamente criticadas por seu potencial de alimentar a inflação, as tarifas geram receita para o Tesouro americano, ao contrário das sanções. A arrecadação de tarifas nos EUA subiu 110%, chegando a 97,3 bilhões de dólares (R$ 544,7 bilhões) no primeiro semestre do ano, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Espera-se que esse valor chegue a 360 bilhões de dólares (R$ 2 trilhões) no próximo ano, segundo o Urban-Brookings Tax Policy Center, um centro de estudos sobre políticas tributárias dos EUA.
As tarifas dão a Trump controle direto e unilateral, por meio de ordens executivas, sem necessidade de aprovação do Congresso americano. As sanções, por outro lado, geralmente demandam arranjos legais complexos e cooperações internacionais, como com a União Europeia.
A aposta em tarifas reflete o objetivo de Trump de obter vantagem econômica rápida e visível, mas levanta preocupações quanto aos efeitos desestabilizadores de tais políticas sobre o comércio global e a paz.
"A razão pela qual [as tarifas] têm uma reputação tão ruim é porque estão associadas a episódios de desglobalização e, no século 20, foram ligadas a conflitos armados", disse Burns. "Se tarifas baixas e mercados abertos conectam os países de maneira a evitar conflitos armados, será que estamos nos afastando disso?”
As decisões de Trump em seu segundo mandato sugerem o uso de tarifas para alcançar objetivos tipicamente associados a sanções, como pressionar países como Canadá, México e China em questões não comerciais, como imigração e tráfico de drogas. As tarifas anunciadas provocaram medidas retaliatórias ou ameaças, intensificando as tensões no comércio global.
De forma semelhante, a Colômbia foi ameaçada com tarifas após rejeitar voos de deportação dos EUA, enquanto tarifas contra a União Europeia foram anunciadas como resposta às regulamentações europeias sobre privacidade e clima.
No início deste mês, Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre importações do Brasil – justificada, entre outros motivos, como retaliação ao que o americano chama de "perseguição" judicial contra Jair Bolsonaro, seu aliado próximo. O ex-presidente enfrenta julgamento sob a acusação de planejar um golpe para reverter sua derrota nas eleições de 2022, incluindo planos de assassinar rivais políticos.
Governos anteriores preferiram sanções em vez de tarifas como ferramenta de barganha com países considerados "fora da linha".
Desde que Moscou lançou sua invasão em larga escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022, os EUA impuseram mais de 2,5 mil sanções à Rússia, atingindo indivíduos, entidades, transporte marítimo e aeronaves. Venezuela, Irã e Coreia do Norte também foram alvos de sanções.
"Essas economias não são parceiras comerciais cruciais para os EUA", disse Busch, do Atlantic Council. Ela pontua que as tarifas de Trump sobre os principais parceiros comerciais dos EUA representam, sobretudo, "uma ameaça econômica mais doméstica".
O líder americano tem demonstrado nos últimos dias maior abertura ao uso de sanções. Referindo-se a um projeto de lei proposto pelo senador Lindsey Graham para penalidades adicionais contra Moscou caso não negocie de boa-fé um acordo de paz com Kiev, ele disse estar "considerando muito seriamente" novas sanções.
Se aprovada, a Lei de Sanções à Rússia de 2025 vai mirar autoridades e oligarcas russos, instituições financeiras e o setor de energia, com o objetivo de restringir a capacidade da Rússia de exportar petróleo e gás.
O projeto, que conta com apoio de republicanos e democratas, também propõe "tarifas secundárias" de até 500% a países e empresas estrangeiras que importarem energia russa.
Tarifas semelhantes de 25% sobre compradores de petróleo venezuelano, que entraram em vigor em março, também foram criadas para pressionar importadores de energia a se alinharem à política externa dos EUA — um intento que, em outros tempos, seria buscado por meio de sanções.
Sanções secundárias geralmente incluem bloqueio de indivíduos e entidades, congelamento de ativos e restrições bancárias. A ameaça de acusações criminais nos EUA e proibição de viagens também é comumente usada.
"As sanções têm mais a ver com punir países por violarem normas internacionais", disse Burns à DW. "Elas são uma resposta a ações específicas e, se essas ações cessarem, as sanções podem ser revertidas."
Ao observar como a incerteza em torno da política tarifária de Trump deixou empresas americanas e parceiros comerciais globais atônitos, Burns alertou que "anos de incerteza tarifária" podem causar uma "séria desaceleração econômica, à medida que empresas e investidores aguardam um cenário mais previsível".