09 Abril 2025
A Casa Branca confirmou nesta terça-feira (08/04) que irá retaliar a China com uma nova tarifa de 50% sobre os produtos vindos do país asiático. Somada às taxas impostas anteriormente, a medida resultará numa carga tarifária de 104% sobre as importações chinesas feitas pelos EUA.
A reportagem é publicada por DW, 08-04-2025
A porta-voz do presidente Donald Trump, Karoline Leavitt, afirmou que a sobretaxa entra em vigor a partir desta quarta-feira, em resposta à não desistência de Pequim em retaliar as tarifas dos Estados Unidos.
Mais cedo, Trump postou em sua rede social que estava à espera de uma ligação do presidente chinês, Xi Jinping, para negociar alternativas à sua guerra tarifária, mas isso não ocorreu. Ele havia dado como ultimato as 13h desta terça.
A China informou que não iria recuar e que está pronta para seguir respondendo aos aumentos tarifários, e ponderou que "em uma guerra comercial, não há vencedores".
Trump afirmou que Pequim quer "desesperadamente" um acordo tarifário, mas que não sabe "como começar" as negociações.
"O presidente acredita que Xi Jinping e a China querem fazer um acordo. Simplesmente não sabem como iniciá-lo. E o Presidente também quer que eu diga a todos que se a China fizer uma abordagem para fazer um acordo, ele será incrivelmente generoso, mas fará o que for melhor para o povo norte-americano", disse Leavitt.
A resposta americana veio após o governo chinês anunciar que vai impor sua própria taxa de 34% sobre as importações dos Estados Unidos, mesma tarifa aplicada contra os produtos chineses anunciada na semana passada.
Trump também ameaçou "encerrar" todas as conversas com o governo chinês caso Pequim mantenha seus planos.
Em postagem em sua rede social, o mandatário afirmou ter avisado que qualquer país que retaliasse os EUA sofreria com tarifas adicionais às anunciadas no dia 2 de abril, chamado por ele de "Dia da Libertação". Na ocasião, ele anunciou um tarifaço que atinge mais de 180 países e territórios, que consiste numa tarifa base de 10% sobre todas as importações – com exceção do Canadá e do México – e em tarifas adicionais específicas para aproximadamente 60 países.
À China, os EUA impuseram uma tarifa de 34%, que se soma a outras já aplicadas, incluindo uma sobretaxa de 20% sobre todas as importações chinesas.
"Portanto, se a China não retirar seu aumento de 34% acima de seus abusos comerciais de longo prazo até amanhã, 8 de abril de 2025, os Estados Unidos imporão à China tarifas adicionais de 50%, a partir de 9 de abril. Além disso, todas as negociações com a China referentes às reuniões solicitadas por eles conosco serão encerradas! As negociações com outros países, que também solicitaram reuniões, começarão a ocorrer imediatamente", afirmou Trump.
O governo chinês disse no domingo que está preparado para uma guerra comercial com os Estados Unidos e que a China poderia sair "mais forte" desse embate.
"A China está cada vez mais convencida de que a tarifa não é negociável, porque o objetivo final de Trump é trazer os empregos de manufatura de volta aos EUA", disse Yun Sun, diretor do programa para estudos da China do Stimson Center, think tank com sede em Washington, à agência de notícias AP.
A escalada das tensões entre as duas potências aconteceu num dia de alta volatilidade nas bolsas em todo o mundo, com investidores cada vez mais pessimistas em relação ao cenário desenhado por Trump.
A reação dos mercados globais refletiu a preocupação de que a barreira tarifária americana possa interromper cadeias de suprimentos globais, puxar uma alta na inflação e mergulhar os Estados Unidos – e o mundo – numa recessão econômica.
Houve inclusive um rumor de que Trump havia considerado uma pausa de 90 dias nas tarifas, o que foi negado nesta segunda pela Casa Branca.
Enquanto isso, Trump recebia nesta segunda-feira o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu para tratar, entre outros assuntos, da guerra em Gaza. Após o encontro, Netanyahu disse que Israel pretende acabar rapidamente com o déficit comercial em relação aos Estados Unidos, além de remover barreiras comerciais consideradas desnecessárias.
Em uma ligação telefônica, o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, pediu a Trump que reconsidere as tarifas – que no caso do Japão foram de 24% –, mostrando-se preocupado sobre o risco de enfraquecimento da capacidade de investimento das empresas japonesas. "As recentes medidas tarifárias dos Estados Unidos são extremamente lamentáveis", disse Ishiba a repórteres após a conversa.
Ministros do Comércio europeus estiveram reunidos nesta segunda-feira em Luxemburgo e afirmaram que querem negociar com os Estados Unidos para evitar uma guerra comercial total – mas correm por fora e traçam um plano de retaliação caso as conversas não avancem. Trump impôs tarifas de 20% sobre as importações do bloco.
Trump defende que as barreiras protecionistas em vigor já trouxeram aos Estados Unidos bilhões de dólares em receita. Ele afirma ainda que as medidas devem repatriar empregos, reduzir déficits comerciais (quando as compras de bens e serviços superam as vendas) e garantir "reciprocidade". Com a China, o país espera reverter ao menos em parte o déficit comercial de 295,4 bilhões de dólares (cerca de R$ 1,7 trilhão) registrado em 2024. Os Estados Unidos dependem sobretudo de produtos de tecnologia, equipamentos eletrônicos e vestuário chineses.
"As tarifas abrem um enorme buraco na ordem comercial liberal que os Estados Unidos lideraram e fomentaram desde a Segunda Guerra Mundial", escreveu o historiador do comércio Douglas Irwin em artigo na revista The Economist.
Segundo Irwin, as tarifas de exportação giravam em torno de 2,3% em 2024 e passarão para cerca de 30%.
"O Sr. Trump é um homem do século 20 presidindo uma economia do século 21 e que quer levá-la de volta ao século 19", definiu.
"Não só a magnitude do aumento é sem precedentes, mas as tarifas terão um efeito muito mais penetrante na economia americana do que episódios anteriores. Isso ocorre em grande parte porque hoje as importações de mercadorias estão em torno de 11% do PIB , mais do que o dobro do nível do final do século 19", afirma.
O século 19 foi o auge do protecionismo americano. Com o objetivo de fortalecer sua indústria em formação, o país chegou a adotar uma taxa de importação média de 50%.