08 Abril 2025
As ações nas bolsas de valores da Ásia despencaram em níveis recordes nesta segunda-feira (07/04), intensificando o movimento de retração já observado na semana passada. Na Europa, os mercados também registraram forte queda logo após a abertura dos pregões.
A reportagem é publicada por DW, 07-04-2025.
Os investidores reagem às amplas tarifas impostas pelos Estados Unidos, que começaram a entrar em vigor neste sábado, e às sanções retaliatórias adotadas pela China.
O temor de que a guerra comercial imposta pelas potências provoque uma recessão global dominou os pregões nas primeiras horas desta segunda-feira. Em Hong Kong, por exemplo, as ações fecharam com queda de 13%, registrando o pior recuo desde outubro de 1997, quando a China foi impactada pela crise financeira asiática.
A retração também marcou o pregão em Taipei, com 9,7% e em Tóquio, onde o valor das ações derreteu quase 8%. Já a bolsa de Xangai recuou 7%.
Bolsas de valores de Singapura, Seul, Manila e Mumbai também ficaram no vermelho imediatamente após sua abertura, cedendo entre 4% e 8%.
A venda generalizada na Ásia impactou diversos setores, incluindo empresas de tecnologia, fabricantes de automóveis, bancos, cassinos e empresas de energia.
Entre os maiores perdedores estão as empresas chinesas de comércio digital, Alibaba e JD.com, cujas ações afundaram 17% e 14%, respectivamente. A gigante japonesa de investimentos em tecnologia, SoftBank, caiu mais de 11% e o preço das ações da Sony caiu 9%.
"Podemos assistir a uma recessão muito rápida nos EUA, que pode durar até o final do ano, ou mesmo ser bastante longa", disse Steve Cochrane, economista-chefe da Moody's Analytics para a região Ásia-Pacífico. "Se houver uma recessão nos EUA, é claro que a China também sentirá isso, pois a demanda por seus produtos será ainda mais afetada", acrescentou.
Commodities indicam retração
O preço das commodities também foi afetado. As preocupações com a demanda derrubou o custo do petróleo em mais de 3% nesta segunda-feira, além de uma baixa de 7% registrada na sexta-feira.
O impacto é duplo para produtores de petróleo do Oriente Médio. Bahrein, Kuwait, Omã, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos passam a enfrentar tarifas de 10%. Já os produtos do Iraque e Síria passarão a custar 39% e 41% a mais para entrar nos EUA.
O cobre – um componente vital para o armazenamento de energia, veículos elétricos, painéis solares e turbinas eólicas – também ampliou as perdas.
Quedas afetam Europa
Trump estabeleceu tarifas a 20% para produtos europeus, medida que entra em vigor nesta quarta-feira. O Reino Unido e outros países já foram atingidos por tarifas de 10% no sábado.
Com isso, os mercados acionários europeus também despencaram no início do pregão desta segunda-feira, com Frankfurt, na Alemanha, caindo até 10%.
Milão caiu 7,5%, enquanto Paris, Madri e Amsterdã recuaram pouco mais de 6%. Londres e Oslo perderam mais de 5% nas primeiras horas do dia.
"A fuga continua, com os investidores buscando um abrigo para seu dinheiro em meio à tempestade de tarifas", observou Susannah Streeter, chefe de finanças e mercados da Hargreaves Lansdown.
Em Paris, os preços das ações da Airbus, fabricante de aviões, da Safran, fabricante de motores, e da Kering, proprietária da Gucci, lideraram as perdas, caindo 10% cada uma.
A empresa alemã de armamentos Rheinmetall despencou mais de 13% e o Commerzbank afundou quase 12% em Frankfurt.
O grupo aeroespacial Melrose Industries liderou a lista de perdedores em Londres, com uma queda de cerca de 8,5%.
A expectativa é que a Europa também entre na guerra comercial e imponha maiores taxas sobre os produtos americanos.
Previsão de inflação nos EUA
As perdas globais também impactaram Wall Street na última sexta-feira, quando os três principais índices caíram quase 6%. Segundo o Deutsche Bank, o S&P 500, índice de mercado que reúne as 500 maiores empresas de capital aberto dos EUA, caiu 10,53% – o quinto pior desempenho em dois dias seguidos desde a Segunda Guerra Mundial.
"De fato, as únicas outras vezes em que vimos uma perda de dois dígitos em duas sessões foram durante a covid-19, o auge da [crise financeira global], e da segunda-feira de 1987 [maior tombo da história da bolsa americana]", afirmou um analista do Deutsche Bank.
A expectativa do Federal Reserve, o banco central americano, é de que as tarifas levem à inflação, desemprego e redução no crescimento nos EUA.
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