28 Março 2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (27) que o Brasil não pode "ficar quieto" diante das tarifas do governo americano de Donald Trump. Na quarta-feira, o republicano ampliou sua lista tarifária com taxas alfandegárias de 25% sobre "todos os automóveis que não sejam fabricados nos Estados Unidos". A medida também abrange peças sobressalentes.
A reportagem é publicada por RFI, 37-03-2025.
"Não dá para a gente ficar quieto achando que só eles têm razão e que só eles podem taxar outros produtos", declarou o presidente Lula aos jornalistas em Tóquio, no encerramento de sua visita ao Japão. "Vamos tomar as atitudes que nós entendemos que seria bom para o Brasil", frisou.
Lula adiantou que o Brasil vai recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas americanas de 25% sobre o aço, mas evitou dizer se vai impôr taxas aos produtos importados dos Estados Unidos. O presidente destacou que o comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos chega a quase 87 bilhões de dólares (R$ 498 bilhões) e é superavitário para os americanos. Lula também afirmou que as tarifas terão efeito negativo para os Estados Unidos.
"Se ele [Trump] está pensando que tomando essa decisão de taxar tudo aquilo que os Estados Unidos importam, eu acho que vai ser prejudicial aos Estados Unidos. Isso vai elevar o preço das coisas e pode levar a uma inflação que ele ainda não está percebendo".
Em todo o mundo, analistas especializados no setor automotivo têm alertado que pelo fato de a produção de veículos ter uma cadeia de suprimentos globalizada, os carros americanos também ficarão mais caros para os consumidores locais.
"Eu acho muito ruim essa taxação porque [...] está dificultando o comércio no mundo", disse Lula. "Esse protecionismo não ajuda nenhum país do mundo", frisou.
No Salão Oval da Casa Branca, Donald Trump disse que as sobretaxas entram em vigor em 2 de abril; começamos a cobrar em 3 de abril", afirmou.
"Vamos cobrar dos países por fazer negócios em nosso país e levar nossos empregos, levar nossa riqueza [...] O que vamos implementar é uma tarifa de 25% sobre todos os automóveis que não forem fabricados nos Estados Unidos. Se forem fabricados nos Estados Unidos, não haverá tarifa alguma", declarou.
"Isso se soma às tarifas já existentes sobre essas mercadorias", esclareceu um de seus assessores.
O governo alemão pediu nesta quinta-feira que a União Europeia dê uma "resposta firme" ao aumento das tarifas. "Deve ficar claro que não nos curvaremos aos Estados Unidos", disse o ministro da Economia e vice-chanceler Robert Habeck em um comunicado, já que o importante setor automobilístico alemão será duramente afetado por essas medidas. A UE deve mostrar "força e autoconfiança" diante de Washington, acrescentou Habeck.
A taxa aplicada até agora era de 2,5%. Isso significa que os carros importados serão taxados em 27,5% do seu valor a partir de abril. Os fabricantes de automóveis alemães, por sua vez, descreveram o aumento das tarifas como um "sinal fatal para o livre comércio".
Os 25% de taxas alfandegárias adicionais "representam um fardo considerável para as empresas e cadeias de suprimentos globais" na indústria automotiva, "com consequências negativas, especialmente para os consumidores, inclusive na América do Norte", disse a Associação Alemã de Fabricantes de Automóveis (VDA).
Canadá e México, parceiros dos Estados Unidos no Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (T-MEC), também serão prejudicados. O México exporta 80% dos veículos que fabrica para os Estados Unidos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística e Geografia. As montadoras americanas possuem fábricas no exterior que abastecem o mercado interno, principalmente no Canadá e no México.