16 Julho 2025
Ao nomear ex-presidente da TBG e Gaspetro para diretoria de transição e sustentabilidade, petroleira reforça aposta em combustíveis fósseis.
A opinião é de Alexandre Gaspari, jornalista, em artigo publicado por ClimaInfo, 15-07-2025.
A Diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras tem, enfim, um novo comando, mas o conserto parece pior que o enguiço. Vago desde a saída de Maurício Tolmasquim para o conselho de administração da Eletrobras no final de maio, o posto será ocupado por Angélica Laureano. Por seu currículo, ela não deve mover a empresa em direção à uma transição energética efetiva. Muito menos justa, como a vultosa [e cara] campanha publicitária da Petrobras em redes sociais e TVs quer fazer a população acreditar.
Angélica presidia a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), subsidiária da Petrobras responsável pela operação do gasoduto no país. Funcionária de carreira da petroleira, ela trabalhou antes nas áreas de Materiais, Abastecimento, Gás e Energia. Foi também presidente da Gaspetro, outra subsidiária da empresa, responsável pela gestão de participação em 19 distribuidoras de gás fóssil em diversos estados. Após se aposentar na estatal, atuou como consultora em diversos projetos. Na área de gás.
Com a nomeação de Angélica, a Petrobras tem uma diretoria majoritariamente ocupada por mulheres em seus quase 72 anos de história. Um fato louvável. Mas ver tanto “gás” na experiência da responsável pela área de transição energética e sustentabilidade da petroleira não é um bom sinal.
Pelo contrário: é um indicativo de que a Petrobras continua avaliando o gás como um “combustível de transição”, mesmo com a urgência de se eliminar todos os combustíveis fósseis da matriz energética mundial para conter as mudanças climáticas. Em um país com abundância de fontes renováveis, que portanto não precisa usar gás para substituir equivalentes mais poluentes, como ocorre em nações ainda extremamente dependentes do carvão, por exemplo.
Fontes avaliam que a ida de Angélica para a pasta foi um movimento para evitar que a diretoria tivesse uma ocupação política e acabasse nas mãos de alguém sem qualificação técnica para o cargo. Mas a experiência da ex-presidente da TBG e da Gaspetro não parece a mais apropriada para um tema tão crucial para o clima do planeta e para a perenidade da Petrobras, que precisa virar a chave da “petroleira” para a “empresa de energia” pela sua sobrevivência econômico-financeira em um mundo que deve atingir o pico da demanda por petróleo até 2030, como projeta a Agência Internacional de Energia (IEA)..
A Diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras foi criada há pouco mais de dois anos. Durante a gestão de Maurício Tolmasquim, a pasta muito mais prometeu do que cumpriu. O primeiro plano de negócios da empresa após a criação da nova diretoria [2024-2028], sob a presidência de Jean Paul Prates, previa investir US$ 11,5 bilhões em projetos de baixo carbono no período, dos quais US$ 5,2 bilhões em energia eólica e solar.e US$ 1,5 bilhão em biorrefino [diesel renovável e BioQAV]. Quase nada avançou.
Com Magda Chambriard no comando da Petrobras, a cifra global para o período 2025-2029 subiu para US$ 16,3 bilhões. Mas isso incluiu um aumento pesado de investimentos em descarbonização das operações, de US$ 3,9 bilhões para US$ 5,3 bilhões; redução dos recursos para eólicas onshore e solar, para US$ 4,3 bilhões; e a introdução de US$ 2,2 bilhões para etanol e de US$ 600 milhões para biodiesel e biometano, dentre outras destinações.
No entanto, tudo continua na promessa. Pior: Magda, uma defensora da exploração de petróleo no Brasil “até a última gota”, está mais preocupada em buscar combustíveis fósseis na Foz do Amazonas e em outras bacias da Margem Equatorial. Recentemente, a petroleira enviou um comunicado à SEC, responsável por regular o mercado de ações nos Estados Unidos, alertando sobre uma possível “perda” com investimentos em fontes renováveis. Para bom entendedor, pingo é letra.
Voltando à nova diretora de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Angélica Laureano disse em nota que “seguiremos investindo fortemente em projetos de descarbonização, na produção de combustíveis mais sustentáveis e na diversificação de fontes de energia renovável”. Com tanto gás em seu currículo, é difícil acreditar que a petroleira não vai usar a legenda “transição” para trocar seis por meia dúzia – ou seja, tirar um combustível fóssil e colocar outro no lugar.
Trocar fóssil por fóssil, definitivamente, está muito longe de ser a solução para a crise climática, muito menos uma transição energética justa. Ainda mais para uma empresa que se auto-intitula “líder” desse movimento, mas que até agora não deu uma prova disso.
Falta à Petrobras dar gás a ações que a transformem em uma empresa de energia. E não colocar gás em sua carteira de projetos, ainda mais sob a falácia de que se trata de “transição”.