09 Julho 2025
A aprovação da Igreja Católica às bênçãos de casais em relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo "permanecerá" sob o Papa Leão XIV, disse o chefe do escritório de doutrina do Vaticano a um repórter italiano em uma breve entrevista.
A reportagem é de Joseph Tulloch, publicada por National Catholic Reporter, 07-07-2025.
O cardeal Víctor Manuel Fernández fez a declaração em resposta a uma pergunta de um jornalista do jornal romano Il Messaggero, ao deixar a Sala de Imprensa da Santa Sé em 3 de julho.
As declarações de Fernández são o indicativo mais claro até o momento, desde a eleição do Papa Leão XVI, de uma provável continuação da declaração de bênçãos gays do Papa Francisco. No entanto, a entrevista improvisada fica aquém de uma declaração oficial explícita do Vaticano.
Sob o comando de Francisco, o Dicastério para a Doutrina da Fé divulgou em dezembro de 2023 um documento intitulado "Fiducia Supplicans: Sobre o sentido pastoral das bênçãos", que abriu as portas para bênçãos da Igreja para casais em situações "irregulares", incluindo relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo.
O documento, assinado por Fernández e seu vice, Armando Matteo, e aprovado pelo Papa Francisco, enfatizou que tais bênçãos não poderiam assumir a forma de um rito litúrgico e não implicavam aprovação formal de uniões "irregulares".
O documento de bênçãos gerou uma reação conservadora considerável, e alguns críticos do falecido Papa Francisco expressaram esperança de que o Papa Leão o revogasse ou ignorasse.
Questionado na quinta-feira, 3 de julho, pelo Il Messaggero se Leão voltaria atrás, Fernández, que havia se encontrado em particular com o Papa Leão mais cedo naquele mesmo dia, respondeu: "Realmente não acredito — a declaração permanecerá".
Anteriormente, a indicação mais proeminente da abordagem de Leão em relação às bênçãos gays havia surgido em uma entrevista com o Cardeal Jean-Claude Hollerich ao jornal católico italiano La Stampa, em maio. O cardeal havia dito que acreditava que o Papa Leão "poderia reinterpretar" o documento, mas não "aboli-lo".
"O Papa Leão disse que a Igreja está aberta a todos", disse Hollerich, arcebispo jesuíta de Luxemburgo que foi elevado a cardeal por Francisco em 2019. "Esta é uma continuação da abordagem de Francisco, que costumava repetir 'Todos, todos, todos'".
Lançado em dezembro de 2023, sem aviso prévio ou agendamento de uma coletiva de imprensa, Fiducia Supplicans é um documento de aproximadamente 5 mil palavras dedicado principalmente à reflexão sobre o significado teológico do ato de abençoar.
O texto distingue entre bênçãos litúrgicas formais e espontâneas e pastorais, e diz que bênçãos deste último tipo podem ser oferecidas àqueles em uniões entre pessoas do mesmo sexo ou outros relacionamentos contrários ao ensinamento católico.
O documento diz que "Uma bênção pode ser concedida... desce de Deus sobre aqueles que — reconhecendo-se destituídos e necessitados de sua ajuda — não reivindicam uma legitimação de seu próprio status, mas que imploram que tudo o que é verdadeiro, bom e humanamente válido em suas vidas e em seus relacionamentos seja enriquecido, curado e elevado pela presença do Espírito Santo".
No entanto, a declaração enfatiza que tais bênçãos não são de forma alguma comparáveis ao casamento: "Ritos e orações que possam criar confusão entre o que constitui o casamento — que é a 'união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos' — e o que o contradiz são inadmissíveis".
Após a divulgação do documento de bênçãos, o Vaticano interveio em diversas ocasiões para esclarecer seu significado.
Mais notavelmente, em uma reunião com o Dicastério para a Doutrina da Fé, pouco mais de um mês após a publicação do documento, o Papa Francisco disse que o documento de bênçãos permite a bênção não das uniões irregulares em si, mas dos indivíduos nelas envolvidos.
O que é abençoado, enfatizou o papa, "não é a união, mas as pessoas, naturalmente levando em conta o contexto, as sensibilidades, os lugares onde se vive e as maneiras mais adequadas de fazê-lo".
Pouco depois da publicação do documento, vários bispos anunciaram que não o implementariam em suas dioceses ou jurisdições e alguns prelados chegaram a chamá-lo de heresia.
O mais destacado deles foi o cardeal-arcebispo Dom Fridolin Ambongo Besungu, de Kinshasa e presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar, e parte do Conselho de Cardeais do Papa Francisco.
Em uma carta, Ambongo enfatizou que os bispos da África, apesar de seu "apego inabalável" ao Papa Francisco, acreditam que as bênçãos descritas no documento "não podem ser realizadas na África sem expô-los a escândalos".
"Os bispos africanos", escreveu Ambongo, "não consideram apropriado que a África abençoe uniões homossexuais ou casais do mesmo sexo porque, em nosso contexto, isso causaria confusão e estaria em contradição direta com o ethos cultural das comunidades africanas".
Ambongo, que era considerado um potencial candidato a papa no conclave que elegeu Leão, enfatizou que sua carta recebeu a aprovação tanto de Fernández quanto do Papa Francisco.
Em uma entrevista semanas depois ao jornal italiano La Stampa, Francisco descreveu a Igreja na África como "um caso à parte". Para os africanos, disse ele, "a homossexualidade é algo 'feio' do ponto de vista cultural; eles não a toleram".