09 Julho 2025
"A linguagem, quando é verdadeira, possui essa força, é sempre performativa. Por isso, a leitura da grande literatura de grandes escritores pode mudar profundamente a vida e regenerar a música do coração. E nós somos chamados, segundo a exortação profética de Jesus, a vigiar a nossa fala para que não seja desprovida de operacionalidade, isto é, de autocomprazimento, de curiosidade malsã, de conversa frívola ou, como diria o Papa Francisco, de tagarelice", escreve Vito Mancuso, ex-professor da Universidade San Raffaele, de Milão, e da Universidade de Pádua, em artigo publicada por La Stampa, 07-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Que no princípio existe o verbo também se aplica à existência de cada um de nós. Quero dizer que cada um de nós obtém o princípio constitutivo da sua existência a partir das palavras que pronuncia e da maneira como as pronuncia. O que também é verdade quando se trata de palavras escritas, dos nossos escritos que, por mais profanos que sejam, sempre têm o potencial de resultarem sagrados: sagradas escrituras profanas.
A conexão entre archê (“princípio”) e logos (“palavra”) é decisiva não apenas para o Verbo que se fez carne na noite santa, mas também para cada um de nós. Nosso archê, nosso princípio constitutivo, é dado pelo nosso logos, isto é, pela lógica que rege nossa mente, tal como se manifesta de forma exemplar nas nossas palavras. A literatura, portanto, não é apenas literatura, isto é, histórias, contos, narrações de fatos que realmente aconteceram ou invenções fantasiosas; não, literatura é também teologia, filosofia da vida, confissão, anatomia da alma; é também inconsciente, e por isso mesmo ainda mais profunda, espiritualidade.
Qual texto penetra mais profundamente em nossa alma? Uma página de Dostoievski ou uma de São Tomás de Aquino? A lenda do Grande Inquisidor ou uma quaestio da Summa Theologiae?
Pergunta retórica, porque a resposta é universalmente conhecida. E se as Confissões de Santo Agostinho são ainda hoje o livro teológico mais lido e mais amado, é porque também são literatura, bem como teologia e espiritualidade. Mais ainda, são teologia e espiritualidade por serem literatura, conto, narração, história vivida e relatada.
De acordo com Jesus, a palavra tem uma importância enorme, e não poderia ser diferente para ele que foi profeta, isto é, alguém que falava no lugar de, ou diante de, implicando obviamente Deus. Toda a sua existência foi escuta de uma Palavra que vinha de outro lugar e expressão de uma Palavra que conduzia a outro lugar. Eis uma de suas declarações a esse respeito: "Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado" (Mt 12,36). O adjetivo grego que a versão da Conferência Episcopal Italiana (CEI) traduz como "inútil" é argòn, termo formado pelo alfa privativo e ergon, "trabalho, obra, ação", e que, portanto, significa propriamente "sem obra", sem capacidade de produzir trabalho, improdutivo, com fim em si mesmo e não na vida. Deve-se notar também que o adjetivo argòn é exatamente o oposto de en-èrgon, "à obra, ao trabalho, em ato", de onde vem o substantivo enèrgeia, "energia".
As palavras, para serem autênticas e, portanto, salvíficas, devem produzir "trabalho", ser operativas, criar história, ter energia. A linguagem, quando é verdadeira, possui essa força, é sempre performativa. Por isso, a leitura da grande literatura de grandes escritores pode mudar profundamente a vida e regenerar a música do coração. E nós somos chamados, segundo a exortação profética de Jesus, a vigiar a nossa fala para que não seja desprovida de operacionalidade, isto é, de autocomprazimento, de curiosidade malsã, de conversa frívola ou, como diria o Papa Francisco, de tagarelice. A palavra tem tamanha importância para Jesus que, na sua opinião, o maior pecado que um ser humano pode cometer, e que nunca será perdoado, diz respeito ao falar: é um pecado de palavras, o que Jesus misteriosamente define como "blasfêmia contra o Espírito" (Mt 12,31; no original grego: ē toû pneùmatos blasphēmìa).
Segundo Jesus, a linguagem, seja escrita ou falada, é o campo de prova para o ser humano, o lugar onde o seu destino final se desenrola: "Porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado" (Mt 12,37). Dada a importância que Jesus atribuía às ações, essa sua frase ensina-nos a superar a tradicional, ainda que superficial, contraposição entre palavras e ações. Palavras também são ações, e ações também são palavras. Ambas são expressões da nossa interioridade e mostram quem somos e quem queremos ser; revelam se visamos a nós mesmos ou a algo maior do que nós mesmos, se queremos seduzir ou se queremos conduzir e ser nós mesmos conduzidos mais além.
Daqui vem aquela atenção à linguagem que produz cuidado, proteção e mais: celebração. Daqui vem uma liturgia das palavras e um sacerdócio das palavras; um sacerdócio poético, para usar a bela expressão de Marco Campedelli que o ouvi pronunciar com trepidação mais de uma vez em nossas conversas amigáveis. O sacerdócio é poético no sentido grego de poiético, o adjetivo de poesia e, ao mesmo tempo, de ação, porque vem de poièin, o verbo grego para "fazer". Poesia é ação, e toda ação verdadeira é sempre poética, mesmo que não contenha palavras. A liturgia da Palavra, antes de ser um momento da missa católica, é um estilo de vida, um modo de ser, uma prática de comunhão ininterrupta com o logos como palavra divina. E viver se torna uma lectio divina.
Esse sacerdócio poético ou sacerdócio das palavras está no centro desse livro de Marco Campedelli como "literatura mínima". Os escritores e poetas, mas também os cineastas, os teólogos, os homens de Igreja e os políticos aqui considerados, não são analisados como um crítico literário o faria do ponto de vista da originalidade do conteúdo, da beleza da forma ou de outros critérios da crítica literária e da narrativa; não, Campedelli analisa a alma de seus produtores de literatura no sentido amplo ilustrado até aqui, buscando captar sua profundidade espiritual e sua capacidade de servir ao mistério. Como se serve ao mistério?
O mistério se serve, em primeiro lugar, calando, como indica a etimologia do termo que se refere a myo, verbo que em grego significa "fechar", referindo-se aos olhos e à boca; depois, porém, o mistério se serve também falando, escrevendo ou agindo, com aquelas palavras e gestos que provêm do silêncio e que precisamente por isso estão cheios de sabedoria, de conhecimento, de verdade, de beleza. Quando essas palavras ou ações que provêm do silêncio se configuram como serviço à vida e à sua maravilha, e ao mesmo tempo à sua tragicidade e à sua injustiça, quando isso acontece, temos literatura. Ou seja, arte. Que pode ser qualificada como "mínima", não porque valha pouco, mas, ao contrário, porque está a serviço. O termo mínimo, de fato, tem uma importante assonância com o termo ministério, e ambos derivam do latim minus. O ministério da palavra é o de quem primeiro escuta as palavras dos outros em busca da Palavra com P maiúsculo de vida, e depois, a partir dessa escuta, faz nascer uma reprodução do que escutou e compreendeu.
Concluo com estas belas palavras, retiradas do livro bíblico do Eclesiástico: "Sacudindo a peneira, ficam os restos, e quando a pessoa discute aparecem seus defeitos. O forno prova os vasos do oleiro, e a prova do homem está no seu raciocínio. O fruto da árvore mostra como ela foi cultivada, e a palavra revela o íntimo do homem. Nunca elogie um homem antes que ele fale, porque o falar prova quem são as pessoas" (Ecl 27,4-7).
A prova de um homem é a sua forma de pensar, ou seja, a concatenação das suas palavras. É exatamente isso que Jesus ensinava e o que Marco Campedelli nos transmite hoje com essas suas preciosas páginas.