09 Julho 2025
"O que a sociedade enfrenta não é algo isolado ou repentino. É o efeito cumulativo de forças que se formaram ao longo do tempo, forças que estão remodelando não apenas a teologia, mas toda a estrutura do ensino superior. O debate nacional sobre a universidade se reduziu a retorno financeiro e preparação para o mercado de trabalho. As instituições católicas enfrentam as mesmas pressões de matrícula, restrições financeiras e lógicas de mercado que suas equivalentes seculares. A teologia, que geralmente não atrai matrículas nem gera receita, é frequentemente colocada de lado."
O artigo é de Jason King, publicado por America, 03-07-2025.
Jason King é titular da Cátedra Beirne e diretor do Centro de Estudos Católicos da St. Mary’s University, em San Antonio, Texas. É autor do livro The Soul of Catholic Higher Education (A alma do ensino superior católico, em tradução livre), que será publicado em breve pela Bloomsbury. King começou seu mandato como presidente da College Theology Society em junho deste ano.
O corredor fora do primeiro plenário estava cheio de cumprimentos, abraços e reencontros breves. Colegas se reencontravam com facilidade, retomando conversas e amizades. Mas, sob o calor humano e as risadas, persistia uma tensão.
O tema da convenção anual da College Theology Society (CTS) deste ano, realizada na Universidade de Dayton de 29 de maio a 1º de junho, foi o futuro da teologia em uma era de erosão das estruturas acadêmicas. Cursos de teologia estão sendo cortados dos currículos obrigatórios, departamentos estão sendo reduzidos e cargos docentes, eliminados. A preocupação de fundo era que tudo — inclusive a própria CTS — caminhava para o colapso.
Para quase todos, isso era algo pessoal. Passei o dia anterior à conferência em reuniões da diretoria. Quando olhei ao redor da mesa, mais da metade dos membros havia sido diretamente afetada pelas turbulências no meio acadêmico. Alguns haviam mudado de instituição por causa de dificuldades financeiras. Outros perderam seus cargos ou deixaram a academia. Não eram apenas mudanças de carreira — eram sinais de uma área em transição. O que mais me impressionou foi que nada disso parecia surpreendente. Essa precariedade tornou-se simplesmente o novo normal.
Como presidente eleito da CTS, senti o estresse e a ansiedade, pois essas mudanças no ensino superior estão afetando profundamente a sociedade. Durante a conferência, conversei com uma jovem pesquisadora que passou vários anos ensinando teologia no ensino médio e ainda mantinha a esperança de conseguir um cargo universitário. Mais tarde, troquei histórias com uma colega de longa data, relembrando convenções passadas. Ao fim da conversa, dissemos em voz baixa: “Acho que aqueles tempos ficaram para trás”.
O que a sociedade enfrenta não é algo isolado ou repentino. É o efeito cumulativo de forças que se formaram ao longo do tempo, forças que estão remodelando não apenas a teologia, mas toda a estrutura do ensino superior. O debate nacional sobre a universidade se reduziu a retorno financeiro e preparação para o mercado de trabalho. As instituições católicas enfrentam as mesmas pressões de matrícula, restrições financeiras e lógicas de mercado que suas equivalentes seculares. A teologia, que geralmente não atrai matrículas nem gera receita, é frequentemente colocada de lado.
As consequências são visíveis. Menos estudantes têm contato com a teologia no currículo básico. Menos professores em tempo integral são contratados para ensiná-la. Algumas instituições eliminam completamente os departamentos de teologia. Outras os mantêm, mas os deixam sem recursos. Os estudiosos da área enfrentam cargas horárias mais pesadas e menos cargos com estabilidade. As sociedades acadêmicas enfraquecem.
A preocupação vai além da perda de empregos. A teologia ajuda as comunidades a refletirem sobre a dignidade humana, o poder e a centralidade do amor, e a esperança da salvação — tanto das almas quanto da criação. Sua erosão significa a perda de espaços e tempos para fazer perguntas profundas, refletir sobre o evangelho, ler e escrever sobre a vida do discipulado. Significa que a Igreja perde parte de sua vida intelectual, formativa e testemunhal. O que se perde não são apenas bens individuais, mas o bem de cada um e o bem de todos.
A College Theology Society sempre serviu aos teólogos. Foi um espaço de companheirismo intelectual e incentivo. Para muitos, foi a primeira sociedade profissional onde apresentaram um artigo. Por meio de sua revista Horizons e de seu volume anual, ela oferece pesquisa rigorosa e dá voz à diversidade. Mas a CTS nunca foi apenas sobre desenvolvimento profissional. Ela sempre tratou a teologia como uma disciplina relevante para estudantes, para a Igreja e para o mundo. Criou espaço para amizades enraizadas em uma vocação comum, para conversas que unem pesquisa e preocupações pastorais, para uma visão da teologia que valoriza tanto a sala de aula quanto a esfera pública.
Desde o início, a CTS foi voltada para teólogos que ensinam na graduação. Agora, com o ensino superior se transformando e faculdades católicas hesitando em apoiar a teologia, o contexto que sustentava a sociedade está se desfazendo. O que antes parecia estável — baseado em salas de aula, redes acadêmicas e apoio institucional — agora parece frágil. Seu valor e propósito passaram a ser questionados. A CTS pode sobreviver? Que futuro aguarda a teologia?
Essa preocupação apareceu logo na plenária de abertura, quando Agbonkhianmeghe Orobator, SJ, reitor da Escola Jesuíta de Teologia da Universidade de Santa Clara, em Berkeley, fez uma pergunta crucial: como manter “um mínimo de esperança para a sobrevivência de nossa vocação e de nossa comunidade para as gerações presentes e futuras”? Ele evitou os binarismos tóxicos da guerra cultural que impedem a missão e o testemunho. Alertou contra o refúgio em nichos acadêmicos seletivos, seguros e autorreferenciais, que oferecem o conforto de “guetos monoculturais de afinidades teológicas”. Em vez disso, convocou os membros da sociedade a tornarem a teologia mais sinodal, mais transdisciplinar e mais enraizada em comunidades reais.
A plenária seguinte, com Matthew Cressler, expandiu esse chamado. Ele não especulou sobre o que a teologia poderia se tornar. Mostrou para onde ela pode ir. Em um mundo em chamas com o crescimento do autoritarismo, da vigilância corporativa e da desumanização digital, Cressler argumentou que os teólogos são urgentemente necessários. São especialistas em poder e sentido, empatia intercultural, pensamento profundo e resolução não estruturada de problemas. Sua própria atuação fora da academia — na tecnologia de interesse público e na narrativa cultural — ofereceu um exemplo de vocação teológica reinventada. Em sua visão, a esperança significava encontrar trabalhos significativos, até missionários, fora da sala de aula.
A plenária de Matt Shadle voltou-se à história para ampliar os horizontes. Ele lembrou que a presença da teologia nas universidades modernas é um fenômeno relativamente recente. Muito antes do boom do ensino superior católico no pós-guerra, os teólogos pregavam nas cortes, formavam mentes em mosteiros e moldavam a vida da Igreja além de qualquer sala de aula. Mesmo a chamada “era de ouro” da teologia nas universidades católicas dos EUA, iniciada nos anos 1960, teve seu custo. Trouxe visibilidade e recursos, mas também conformidade com normas acadêmicas que estreitaram quem era considerado teólogo e o que a teologia podia ser. No atual desmonte, Shadle viu uma chance para a teologia ser mais sinodal, mais evangélica e mais livre. Poderia ser não apenas para estudantes obrigados, mas para quem verdadeiramente tem fome dela — pessoas nas paróquias, nos protestos ou nas redes sociais.
Na plenária final, Catherine Punsalan-Manlimos voltou-se à universidade — mas com um outro tipo de esperança. Mesmo que muitas instituições católicas pareçam à deriva, lutando com sua missão e com pressões de mercado, ela insistiu que os teólogos ainda têm um papel vital a desempenhar. “Os teólogos”, argumentou, “podem ajudar a instituição a refletir sobre como sua missão é, no fundo, uma participação na missão da Igreja, que é, no fundo, a missão de Cristo.” Longe de se limitarem à sala de aula ou ao isolamento da pesquisa acadêmica, os docentes de teologia poderiam moldar a cultura institucional e esclarecer os compromissos católicos — especialmente se superarem o abismo entre administração e corpo docente.
Senti todas as esperanças que os palestrantes ofereceram. Nenhum deles fingiu ter uma solução fácil. Não há kit de ferramentas, plano de cinco anos ou estratégia de transição que salve o ensino superior católico ou a teologia como a conhecíamos. O chão está se movendo. O ensino superior católico está mudando, e não podemos nem voltar ao que era nem permanecer paralisados. Para nos ajudar, cada pensador imaginou possibilidades, especulando sobre o que poderia vir depois das mudanças que se aproximam.
E essas visões me deram esperança. Falaram ao meu próprio desejo de ver a teologia perdurar — não apenas como disciplina acadêmica, mas como modo de busca e de serviço. Abriram um futuro para a CTS, amplo o suficiente para sustentar caminhos diversos. Um futuro em que a teologia continue a alimentar escolas e a sociedade, fiéis e cidadãos.
Mas, entre a alegria e a esperança, ainda persistiam as dores e as ansiedades. Será que essas visões bastam? Se a teologia ultrapassar os limites do ensino superior, as estruturas que a CTS construiu — como a convenção anual, os workshops pedagógicos, a Horizons, os volumes anuais — ainda terão importância? Novos contextos não exigirão novas teologias? Ser ativista, administrador, líder corporativo ou artista cômico não exigirá mudanças na própria teologia? E essas novas teologias não transformarão radicalmente o tipo de sociedade que será necessário?
A teologia é uma tradição viva que ajuda a Igreja a pensar e crer com mais profundidade, clareza e compaixão. Durante décadas, faculdades e universidades ampliaram a possibilidade de as pessoas se engajarem com a teologia — aprendendo e ensinando, lendo e escrevendo, fazendo perguntas difíceis e descobrindo verdades alegres. Esse acesso ampliado possibilitou que mais pessoas servissem à Igreja e ao mundo. A teologia precisa, sim, ir além da academia. Mas sem a academia, temo que ela se torne menor e mais rara.
Quero acreditar que isso não acontecerá. Quero acreditar que a College Theology Society continuará existindo porque haverá necessidade de servir muitos teólogos — dentro e fora da academia. Quero acreditar… mas, Senhor, ajuda a minha incredulidade.