04 Fevereiro 2023
O jesuíta nigeriano e teólogo de renome internacional Agbonkhianmeghe Orobator vislumbra e percebe na 40ª viagem apostólica do Papa Francisco, que passa pela República Democrática do Congo e Sudão do Sul, uma oportunidade para o sucessor de Pedro "tocar com a mão um dos recantos mais problemáticos do Continente africano e onde vivem as populações mais martirizadas e ‘crucificadas’ da África”.
A reportagem é de Filippo Rizzi, publicada por Avvenire, 26-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nascido em 1967, o Padre Orobator é presidente da Conferência dos Jesuítas de África e Madagáscar. Há anos é considerado um dos teólogos mais brilhantes em nível internacional, especialmente pelo seu conhecimento da religiosidade católica na África. Além disso, é diretor do Hekima University College em Nairobi, a universidade da Companhia de Jesus no Quênia e membro do conselho da Georgetown University de Washington.
“Há muitos pontos fortes na viagem apostólica do Papa Francisco. A primeira é que o Bispo de Roma escolheu visitar dois dos países mais conturbados da África. Isso mostra o quanto ele se sente em plena sintonia com o povo crucificado desse continente.
O segundo aspecto é que o Papa realiza essa visita num momento em que enfrenta problemas pessoais de mobilidade e de saúde. O Papa Bergoglio com esse gesto coloca o bem-estar dos demais antes do seu próprio. Assim, ele mostra sua compaixão pelas pessoas.
Em terceiro lugar, a África tem sede de reconciliação, justiça e paz. O Pontífice é um embaixador do Evangelho que recorda à comunidade cristã o nosso dever e a nossa responsabilidade de sermos agentes da reconciliação, justiça e paz. E, em quarto lugar, na encíclica "Fratelli tutti", Francisco chamou os líderes políticos a se engajarem na política com autênticos atos de caridade. Essa visita é, a meu ver, uma oportunidade para Francisco mover as consciências dos líderes políticos tanto do Congo como do Sudão do Sul para que prestem contas do que estão fazendo aos últimos do povo de Deus, conforme diz o Evangelho de Mateus no capítulo 25 ao falar das bem-aventuranças”.
Um capítulo importante da atual viagem apostólica será a peregrinação ecumênica que o Papa conduzirá ao Sudão do Sul junto com o arcebispo de Canterbury, o primaz anglicano Justin Welby e o moderador geral da Igreja da Escócia, o presbiteriano Jim Wallace.
É um gesto de unidade que chama todas as denominações cristãs a se unirem na divulgação da mensagem do Evangelho e no empenho conjunto pela justiça e pela paz como comunidade reconciliada. Para o mundo cristão, é o primeiro desse tipo. Esses três líderes religiosos demonstram unidade de ação e encarnam o Evangelho da fraternidade. É um lembrete de que para além das coisas que dividem a comunidade cristã, é possível testemunhar os ensinamentos do Evangelho de Jesus Cristo em situações concretas sob a insígnia da reconciliação, justiça e paz.
O atual evento permitirá a Francisco encontrar os jovens, as vítimas da guerra, mas também os pobres e os deslocados.
Como eu disse, o Papa coloca as pessoas em primeiro lugar. Na verdade, não há nada de novo nisso. O Papa Francisco sempre ensinou que a Igreja deve sair; a Igreja deve ser afetada pela dor e agonia dos que estão à margem e à periferia e deve ser um hospital de campanha para os vulneráveis, feridos, oprimidos e excluídos. Esses gestos e escolhas são as realizações concretas daquilo que o Pontífice ensina e acredita.
O que, na sua opinião, essa viagem papal pode significar para nós europeus e para todo o mundo ocidental?
Simplesmente, Francisco chama a atenção para a periferia e as margens da globalização. Apesar de nosso mundo altamente interconectado e globalizado, a realidade é que os fracos e vulneráveis são facilmente esquecidos. A violência e o conflito são intensos na República Democrática do Congo e no Sudão do Sul. Milhões de mulheres, homens e crianças inocentes foram vítimas desses conflitos internos. Milhões de pessoas foram deslocadas e se refugiaram em outros países. Esses dois países são saqueados e seus recursos são depredados. O mundo ocidental se importa? O que o mundo ocidental deve a esses e outros países que se tornaram teatros de dor, sofrimento e destruição? Esses são os desafios e as questões que a visita de Francisco coloca à Europa e ao mundo ocidental.
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O teólogo Orobator: os esquecidos no centro da viagem do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU